sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Alunos de Engenharia no projeto para aquecimento solar d´àgua - out. 2009


Vistoria da Fazenda do Tao para Aquecimento solar de água - outubro 2009

Projeto saindo da prancheta para o real

Agora vai

Adaptação para a casa pequena do aquecedor para o chuveiro

V Conferência Latina Americana e Caribenha de Ciências Sociais - CLACSO


Música tradicional de Cochabamba

Clóvis e turma do Clacso

Abertura com Evo Morales

Participantes do CLASCO, Cochabamba, Bolívia, out. 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Artigo publicado - DP, dom, 18 out. 2009

COMPREENDENDO EVO MORALES

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Coisa difícil da vida moderna é aceitar o diferente. Nós brasileiros habitamos um mundo de cunho ocidental, cristão, antropocêntrico (ou que supervaloriza a espécie humana), machista, dominado pelo dinheiro, guiado pela famigerada Lei de Gerson. Pensamos que a humanidade inteira nutra os mesmos valores ou que deveria comportar-se assim. A cultura dominante na América Latina reflete isso também. Com percepção análoga, nos anos 90, os Estados Unidos dirigiram sua guerra contra o narcotráfico nas zonas de cultivo da folha de coca da Bolívia. O governo boliviano da época cooperou na erradicação dos cultivos, destruindo o sustento dos povos indígenas que sempre os praticaram. Como resposta à agressão sofrida (para os indígenas bolivianos, a coca não é usada como droga), os cultivadores da erva formaram poderoso sindicato. O líder que os conduziu foi um índio aymara, Evo Morales, homem decido, de idéias socialistas e que, em 2005, lançou histórica e bem-sucedida campanha presidencial. Evo Morales governa o país sem esconder ou modificar o que pensa, nem fazer alianças espúrias justificadas pela “governabilidade”. Na verdade, pensa de maneira muito distinta do paradigma economicista, produtivista, excludente do outro que nos caracteriza. Vi-o oferecendo de maneira muito nítida essa visão de mundo em reunião recente de que participei em Cochabamba (Bolívia), a V Conferência Latino-Americana e Caribenha de Ciências Sociais (a primeira conferência da série foi uma idéia minha aprovada pela Fundação Joaquim Nabuco, que a encampou e realizou em 1999 no Recife). O presidente da Bolívia fez o discurso de abertura do evento no dia 7 deste mês.

Com muita pertinência, Evo Morales referiu-se à “descoberta” da América como uma invasão – que, de fato, foi. Aprendemos na escola que o continente foi descoberto pelos ibéricos, mas essa é uma versão ridícula. Os ancestrais de Morales (que, apesar do nome, não tem nenhuma gota de sangue europeu) viviam aqui há uma dezena de milênios ou mais quando os espanhóis chegaram, empregando métodos pérfidos de conquista. É óbvio que os povos conquistados pensem muito diversamente dos europeus conquistadores e vejam o episódio da conquista com olhos de oprimidos. Outro ponto abordado por Morales foi o de que, quando menino, presenciou muitas situações de reivindicação de direitos dos nativos tratadas pelas elites opressoras como manifestações políticas inaceitáveis. Diziam as elites: “A política de vocês é a enxada e a foice”. E quando os campesinos insistiam em seus pleitos, eram reprimidos sob a acusação de “comunistas” e “socialistas” (nada diferente de situações vividas aqui entre nós). Como poderia alguém fiel a suas origens aceitar pechas que denegriam a história de povos dignos? Foi assim que os Estados Unidos terminaram prestando grande colaboração para o fortalecimento do nome de Evo Morales.

Querer diminuí-lo com a referência de “cocalero” que se faz a Morales, comumente, no Brasil e no mundo, é uma ofensa que, se revela ignorância de quem fala, indica também o grau de preconceito com que se vê o diferente. O termo cocalero caracterizava originalmente o cultivador de coca, mas se converteu em apodo depreciativo que sugere envolvimento com o tráfico de drogas. Os indígenas da região andina nada têm a ver com o vício de elites drogadas do Brasil, dos EUA, da Europa. Eles usam a coca para mascar e fazer chás, não como pó para cheirar. Na minha viagem recente à Bolívia tomei chá de coca, o qual, inclusive, ajuda a suportar as altitudes dos Andes (em Cochabamba, não é fácil respirar o ar mais rarefeito e seco dos 2.600 m de altitude do lugar). Evo Morales veio para ficar. Ele inclusive afirma ser mais importante defender a Terra (“la Madre Tierra”) que os direitos humanos. Essa fala não é antropocêntrica.

domingo, 4 de outubro de 2009

Artigo publicado - DP, dom, 4 out. 2009

A COPA DA EDUCAÇÃO

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Costumo receber mensagens de pessoas que têm a paciência de me ler aqui. Geralmente, respondo a cada uma através do correio eletrônico. Há poucos dias, porém, chegaram-me perspicazes reflexões de um leitor que foi meu aluno (ele não precisava), o biólogo, ambientalista e poeta de cordel Bartolomeu Leal de Sá, as quais merecem atenção especial. Referindo-se a matéria publicada pela revista Algomais, com o título “Cidade da Copa leva o Recife para o oeste”, ele salienta a convicção que paira de que a capital pernambucana, ao se oferecer para abrigar jogos da Copa do Mundo de 2014, só pode crescer se for para o interior. Nesse sentido, uma série de construções terá que ser feita entre os municípios de S. Lourenço da Mata, Recife e Jaboatão ao custo de R$ 1,6 bilhão. Não se cogita nunca de discutir que tamanho ou escala seria desejável para a cidade. É qualquer dimensão que cabe? Não se pode dizer que a população recifense atual, de 1,5 milhão de residentes, disponha de condições propícias para uma vida tranqüila. Pelo contrário, sofre-se com o congestionamento das vias públicas; o sistema de saneamento esgotou-se; não existe lugar para estacionar carros nem formas de transporte que não sejam o automóvel e o ônibus.

Neste ponto Bartolomeu adverte que não se pode dizer que a área atual que o Recife construído ocupa tenha esgotado seu território. Segundo ele bem lembra, o que está ocorrendo é que o Recife foge do Recife: “está abandonando um centro deteriorado, para ir deteriorar outras áreas. A cidade está fugindo de sua degradação, em vez de se recuperar. Digo isto em virtude da subutilização de áreas em vários bairros e ruas como Santo Amaro, rua da Aurora até a ponte do Limoeiro, rua Imperial, estrada dos Remédios, avenida Norte, avenida Sul, início da avenida Caxangá e muitas outras onde existem prédios, galpões abandonados, terrenos imensos. Não há mercado para investimentos em imóveis novos em áreas degradadas. Daí ser necessária a revitalização e urbanização delas. Assim como se defende uma reforma agrária, também é preciso uma reforma urbana”.

Onde agora há edifícios com 50, 80 ou mais apartamentos, isto é, ruas verticais, existiam ruas de casas térreas com desenho apropriado. Ao se dar tal substituição, os serviços urbanos deterioraram-se e a qualidade de vida sofre. Em lugar de recuperar lugares que se degradam, pensa-se em uma expansão custosa cujo mote é a Copa da Fifa de 2014. Neste âmbito, Bartolomeu relata: “Ano passado participei de uma oficina de educação, na cidade de São Lourenço da Mata, para professores do ensino médio. Foi numa escola estadual, de cujo nome não lembro. O estado dela era deplorável, embora a construção não fosse antiga. Só havia porta na sala em que trabalhamos. Mas ela não fechava, pois não se enquadrava na grade, não havia o trinco e era toda furada. A mesa do professor era de cimento, e nela estavam pintados palavrões de todo tipo. As torneiras dos banheiros não tinham fecho, de modo que era impossível abri-las. Os funcionários traziam água em baldes para lavar as mãos ou para descarga, se alguém ousasse usar os banheiros. O nível dos professores diante de tanta dificuldade não poderia ser outro”. Situação semelhante, em Camaragibe, no bairro de Vera Cruz, era a da escola Torquato de Castro, instalada em metade de um galpão de padaria. Na outra metade estão o forno e o depósito de lenha. “Cito esses dois exemplos da cidade degradada, abandonada, em fuga de si mesma e da caótica situação do ensino, para confrontar tais carências com os recursos que serão aplicados na Copa [...] Não seria melhor ganharmos em 2014 a Copa da Educação? Depois disto poderíamos ganhar e atrair muitas outras copas”.