quinta-feira, 23 de abril de 2009

Aniversário de Tiê

Lisboa

VELHA LISBOA


Em frente ao Mosteiro dos Jerônimos e na Rosa dos Ventos no Monumento dos Descobrimentos
Clóvis perto do Castelo de São Jorge - Lisboa
Encontro no aeroporto de Lisboa de Clóvis com seus netos Maria e Mateus

domingo, 19 de abril de 2009










Recuerdos de España (Córdoba e Sevilla) abril 2009

Artigo publicado - DP, 19/4/2009

Crescimento sem rumo
Clóvis Cavalcanti // Economista

Sobre meu artigo de duas semanas atrás aqui no Diario, falando da desordenada ocupação do litoral pernambucano (e nordestino), recebi diversas mensagens. Uma delas, da leitora paulistana Lia Rafael dos Santos. Contando que decidiu vir morar no Recife em 2004, mas que frequenta as praias pernambucanas desde 1988, ela se diz indignada com a falta de sensibilidade do poder público diante da destruição que presencia no estado, a começar da capital. Segundo ela, Pernambuco está "matando a sua galinha dos ovos de ouro". Cita a respeito: "A orla de Boa Viagem vem sendo transformada em uma grande muralha de edifícios de tamanho e mau gosto descomunais. De imediato, privatiza-se a vista do mar e o período de sol na areia". Como não comungar do mesmo sentimento? Da calçada da minha casa em Olinda, no sítio histórico - local que considero como o de vista das mais bonitas na Região Metropolitana do Recife -, por exemplo, sou obrigado a ver agora as feias pontas das duas torres construídas com o beneplácito da administração do prefeito João Paulo no cais de Santa Rita. É uma visão que representa, de fato, a privatização do bem público que é a paisagem. Aliás, por denunciar essa obra em 2005, terminei sendo processado pela construtora, que considerou ofensiva uma expressão por mim usada no artigo que instruiu o processo contra mim. Na verdade, a empresa fez o que lhe cumpria: procurar uma forma de ter lucro. Competia ao poder constituído decidir se isso era certo ou não. Achou que era correto. Terminei vitorioso na ação movida contra mim. Fui absolvido por unanimidade no egrégio Tribunal de Justiça de Pernambuco. Meus bons advogados - Carlos Gil Rodrigues e Fred Guilherme de Lima - convenceram os desembargadores de que eu agira em defesa do interesse público.Essa é também a perspectiva daqueles que, como a escritora, minha amiga Nelly Carvalho, têm protestado bravamente contra o corte brutal de árvores no terreno da Academia Pernambucana de Letras. Não encontrosentido para ação desse quilate. A justifica de que a iniciativa era para disciplinar o crescimento das árvores revela enorme ignorância ecológica. Outra explicação poderia até fazer sentido. Quem é que já viu planta obedecer a disciplina imposta pela espécie humana? Pensar assim só faz replicar a presunção herdada do cientificismo, do racionalismo, do antropocentrismo - de que o homem é senhor e dominador da natureza. A árvore cresce conforme sua necessidade de luz solar e de outros nutrientes de sua vitalidade. Mesmo a poda não é um procedimento ecologicamente saudável. A árvore sofre. Sua forma vai mudar para que ela maximize sua absorção de energia do sol. Cortar árvores, por outro lado, em uma cidade de clima tropical como o Recife, demonstra igualmente nível de ignorância ambiental lastimável. Disso deu conta Gilberto Freyre na década de vinte do século passado em artigos nesta página do Diario. Em um de seus escritos, de 1926, o inigualável pensador pernambucano falava do contraste entre a sanha dos destruidores de árvores daqui e os cuidados que observou em Oxford (Inglaterra) quando lá passou uma temporada. Freyre menciona os belos arvoredos oxfordianos. De suas inspiradas considerações me lembrei várias vezes quando, em 2000, no trimestre que passei na notável universidade britânica como professor visitante, percorria tais belos arvoredos. Por que será que não aprendemos a lição de zelar pela herança de beleza natural e histórica que recebemos de nossos maiores? Nosso crescimento se mostra efetivamente como um processo à deriva, sem rumo. Triste.

domingo, 5 de abril de 2009

Parabéns Afonso

Afonso e seus pais
Vovô Clóvis e Afonsinho,
comemorando 2 aninhos e a vitória do Sport

Artigo Publicado

Diario de Pernambuco, 5 abril de 2009

A OCUPAÇÃO DO LITORAL PERNAMBUCANO
Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social

Logo após a eleição de Miguel Arraes, em 1986, fui a uma conversa com ele no escritório onde se montava o plano de governo. Ficava na av. Rui Barbosa, perto da ponte da Torre. Nessa ocasião, sugeri que a casa do governador, em Porto de Galinhas, fosse transformada, com seu imenso terreno, em um parque para os banhistas de baixa renda que freqüentavam o local. Sugeri também outras coisas relativas a cuidados ambientais que o poder público deveria assumir em Pernambuco. Uma delas era não construir uma refinaria de petróleo em Suape. Minhas idéias, claro, não prosperaram, nem eu imaginava que pudessem prosperar. Apenas quis dar meu recado. Levei um documento escrito e disse a dr. Arraes: “Leia mesmo”. Ele riu e comentou que lia muito. Dias depois, o Diario noticiou que eu estava cotado para ser secretário de Planejamento do governo estadual (não era verdade). Como alguém com posição tão pouco ortodoxa, desagradando governo e oposição, poderia assumir tal cargo? É assim que vejo com tristeza o estado lamentável da ocupação predatória do litoral pernambucano. Enquanto muita gente fala numa hipotética cobiça internacional pela Amazônia, o fato concreto é que nossa costa sofre uma invasão de estrangeiros sem precedentes desde o período holandês – e não se levanta uma palavra de advertência a respeito. Na verdade, esse é um processo que se estende ao Nordeste todo. Em Natal, outdoors anunciam negócios imobiliários com valores em euros. A praia de Pipa converteu-se em paraíso de investidores de múltiplas nacionalidades. Tudo bem. Estamos numa economia de mercado, onde prevalece a iniciativa privada. Mas aqui a selvageria impera. A esse respeito, uma passeata de cidadãos pernambucanos vai realizar-se no dia 12 de abril (Domingo de Páscoa) na praia de Maracaípe, onde são impressionantes os problemas recentes ali surgidos. Como é sabido, o governo de Pernambuco (Eduardo Campos recebeu isso como herança) tem patrocinado negócios no litoral sul do estado (no que ainda restava de preservado aí) para grandes grupos empresariais portugueses e espanhóis. A casa do governador foi vendida para estrangeiros. Terras, desde a praia do Paiva, passando por Maracaípe, até uma área de 500 hectares em Barreiros, a qual será transformada em gigante “eco-resort”, estão nas mãos de gringos. Uma estudante minha, do curso de ciências ambientais na UFPE, assistiu, faz algum tempo, a uma palestra do biólogo que assessorava a construção da via de Porto de Galinhas a Maracaípe. Segundo ele garantiu, nem um centímetro sequer de manguezal seria desmatado para a obra. Uma visita ao local mostra, porém, enorme destruição de esplêndida área de mangue, num lugar famoso por seus cavalos-marinhos, além de responsável por várias espécies marinhas de grande valor econômico. Em Pernambuco, para atender às demandas econômicas, cada vez menos manguezais sobrevivem. Ora, esses ecossistemas são berçários naturais de inúmeras espécies do mar, inclusive tubarões. Um elo entre a destruição de manguezais e os ataques de tubarão a norte de Suape já tem sido estabelecido em pesquisas, e não é acidental. Quando comecei a ir à praia de Muro Alto – então completamente desconhecida (era 1972; hoje não vou mais) –, vi tubarões passando perto da água onde mergulhava com minha família. Pescadores da região (raros), que apareciam por ali, informavam que os predadores que víamos eram inofensivos. Mas é porque estavam bem alimentados, suponho. Hoje, quem perceber um tubarão por perto, ali ou em outra parte do litoral de Pernambuco, passará pelo maior sufoco. Esse é só um sinal dos desequilíbrios que a cupidez desvairada que impulsiona os atores econômicos no estado – públicos e privados, nacionais e forâneos – está causando. Têm razão os membros da cidadania que protestarão em Maracaípe no dia 12 deste abril.