domingo, 21 de fevereiro de 2010

Artigo publicado DP, 21.2.2010

BOM CARNAVAL EM OLINDA

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Fazia tempo que Olinda não tinha um carnaval tão agradável quanto este ano. Muita coisa melhorou na organização dos festejos. Havia mais espaço para as pessoas; conseguiu-se que os vendedores ambulantes não ficassem atravancando tanto as ruas. Uma idéia dessa melhoria foi o desfile tranqüilo do Bloco da Saudade no domingo. Desde a praça 12 de Março até o Mourisco, na praça de São Pedro, tudo correu sem tumultos. Em anos recentes, ficava difícil até o Bloco da Saudade se locomover. Acompanhei-o domingo passado e fiquei alegre com a facilidade com que seu desfile ocorreu. Na praça da Preguiça, a prefeitura colocou uma infra-estrutura bem bolada para divertimento das crianças e pausa para repouso de seus pais. O ambiente esteve especialmente alegre na segunda pela manhã, com o desfile do Eu Acho É Pouquinho (como sempre, muito bom). O pólo de animação, no Fortim, perto de onde moro, ofereceu programas de boa qualidade (Lenine, por exemplo, cantou no domingo à noite), sem exagero de som. Na verdade, houve uma intervenção satisfatória para controle do barulho, apesar de que o nível de educação de muita gente leva-a a imaginar que tem o direito de impor sua escolha de som na altura que lhe convém. Na terça-feira, um carro com placa do Recife, estacionado em pleno centro da folia no Carmo, obrigava-nos a ouvir suas músicas-lixo. Logo depois, na av. Sigismundo Gonçalves, por onde passaria o Eu Acho É Pouco, vi uma montanha de caixas de som emitindo sua porcaria. Em ambos os casos, uma contravenção.

Aliás, pode-se dizer que o sucesso do frevo foi completo. É enorme a quantidade de foliões que se entregam à dança. Diversos grupos de passistas integram a maioria das agremiações, proporcionando um espetáculo de muita plasticidade com seus recursos de passo (alguns, porém, exagerando na uniformidade com que seus integrantes dançam). Uma ocasião de valorização exuberante do frevo foi no excelente show do impagável Maestro Forró e sua Orquestra da Bomba do Hemetério no Guadalupe, na terça pela manhã, antes da saída do bloco dos bonecos gigantes de Olinda. Com sua animação e criatividade, Forró sacudiu a massa, além de deixar todo mundo numa alegria saudável incontida. Coisa digna de menção: no meio do show: Forró propôs que se rezasse a oração – de católicos, evangélicos, pais-de-santo, espíritas – do Pai Nosso, o que todo mundo fez com a consciência de que carnaval faz bem para o espírito. A propósito, na sexta-feira anterior ao tríduo, a troça da Academia Santa Gertrudes e do Colégio Imaculado, como faz anualmente, passou diante de minha casa às 9h. No grupo, além de adolescentes e mães, havia freiras vestidas com seu hábito e a camisa do grupo.

A deturpação da festa, muitas vezes, se deve ao atendimento de interesses comerciais, que desejam impor sua versão do carnaval. Tal distorção foi minimizada em Olinda este ano. É pena que a cidade tenha ainda que ficar toda decorada com a marca de uma cerveja, ofendendo a vista dos moradores do sítio histórico e dos turistas. Esse, porém, dos males, é o menor. Mais triste é a exibição dos valores arcaicos da sociedade pernambucana, seus políticos à frente, numa coisa totalmente anacrônica como os camarotes do desfile do Galo da Madrugada, no Recife. Camarotes montados para o desfrute de mordomias de que cidadãos supostamente informados (meu caso), têm uma vaga noção. Igual demonstração de mal-estar foi manifestada aqui no Diario, por Roberto Martins, sociólogo, meu amigo, há dez dias. As autoridades precisam acabar com isso.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Carnaval 2010 no Recife e Olinda


Os índios Clóvis e Vera na rua da Concórdia no Galo da Madrugada

Clóvis e Vera índios se encontra com Fidel em pleno Galo da Madrugada ao lado de Cacá

Os Verdes sacis Clóvis e Vera, Flávia e Sérgio Xavier (presidente do PV - Pernambuco) em Olinda

Terça de carnaval, vamos aos bonecos de Olinda

Rumo a concentração dos Bonecos

Fechamos o nosso carnaval com o "Eu acho é pouco..."

O Saci Clóvis Pererê e suas Sacis Vera e Renatinha Perereca no lambe-lambe da Sé no "Enquanto isso na sala de justiça"

me segura senão eu caiu

Encontro dos amigos em frente a casa - Vera, Luciano e Vera, Clóvis e Verônica

Clóvis e Frida Verônica, sua cunhadinha

Família Sabadell Cavalcanti de Córdoba para o carnaval de Olinda

Projeto de Folião, solitário em frente a casa do Avô

Vamos ao Frevo

Brincadeiras de pai e filho

Será que vem um bloco aí?

Ajusta o sapato do neto para o frevo

Amigos na feijoada de Clóvis, na 2a. de carnaval

Rumos ao "Eu acho é pouquinho" e "A Mulher na Vara"

Neto Tiê

Primeiro carnaval do neto Cauê, de geraçao a geração o frevo no pé

Vamos gente carnavalesca de todas as tribos frevar

Saci ano 3 rumo ao "Enquanto Isso na Sala de Justiça"

Carnaval em Olinda as crianças se divertem e os adultos mais ainda

Vamos ao Galo

O tradicional índio Clóvis indo ao "Galo da Madrugada"

Tintura de Jenipapo, feita pela índia Ana Patrícia (Pena Branca)

André e Renatinha, Vera e Clóvis, de cloves para o "Escuta Levino" no Recife

Clóvis apressadinho saindo para mais um frevo

Clóvis no Bloco da Saudade nas ladeiras de Olinda

Sandra e Clóvis no ensaio bloco "cordas e retalhos" no Recife Antigo

Domingo pré em Olinda, só maluco para aguentar o calor de meio dia. Vale a pena ser maluco

Clóvis a a multiplicação das malucas Ana Maria Brega

As verdadeiras "Clovetes" se encontram na alegria do "Tá Maluco"

"Pisando na Jaca"

Mais um neto, Cauê, na folia, animação total na soneca embalado pelo som do frevo

Quando as tribos se encontram na folia

A tribo da Alegria

O netinho Afonso na folia

Cadê a orquestra?

Frevo no pé, Jamesson e Clóvis esquentando as canela no bloco da Fundação Joaquim Nabuco, "A Turma da Jaqueira, segurando o talo"

Família em folia

Concentração da "Turma da Jaqueira"

Previa no sábado dia 6, "Na casa da Vovó pode tudo", com Valéria, fundadora do bloco. Olinda

Clóvis e Vera, de caboclo sem lança, indo ao baile do bloco da saudade

Espanhola e indiano se encontra no acerto de marcha do Bloco da Saudade

Mais um acerto de marcha

Fantasia penduras no teto e de última hora inventamos nossas fantasias. Rei de Pernambuco e Africana

Artigo publicado DP, 7.2.2010

PARA QUE SERVEM OS OUTDOORS?

Clóvis Cavalcanti

Economista e pesquisador social

Quando prefeito de São Paulo, José Serra tomou uma medida exemplar: remover os outdoors da paisagem paulistana. E não só isso. Tornou proibido fazer letreiros que desrespeitem certas dimensões. Houve gritaria, choro e ranger de dentes das empresas de propaganda. Nada adiantou. Serra manteve a decisão. O resultado é que o visual da cidade melhorou bastante. Na minha primeira ida a São Paulo depois que os cartazes tinham sido removidos, terminei encontrando alguma beleza nessa capital que não possui encantos como o Rio de Janeiro ou Olinda. O prefeito João da Costa adotou algumas providências no mesmo sentido aqui no Recife, mas nada parecido com as dos paulistanos. É incrível como as empresas de publicidade impõem o modelo do que chamam de “mídia exterior”, ocupando o cenário urbano com suas mensagens para a venda de produtos e serviços. O que, aliás, fazem também órgãos públicos para “divulgar” as maravilhas que estão – ou julgam estar – proporcionando aos cidadãos. Próximo a Moreno, na BR-232, por exemplo, há um outdoor de tamanho descomunal, do governo de Pernambuco. Até há pouco, no Alto da Sé, outro painel enorme anunciava (foi retirado) as obras que ali se arrastam.

Nesse particular, é digno de nota que até a gramática seja agredida pelos outdoors. A palavra (pronuncia-se autdórs) é inglesa? Diz o Michaelis (Dicionário Moderno da Língua Portuguesa) que sim: substantivo masculino. Porém, em inglês, outdoor é adjetivo, significando “ao ar livre”. O plural de outdoors não existe em inglês como adjetivo (não há flexão dessa função gramatical no idioma de Shakespeare). Aparece como advérbio: “lá fora”. Existe a forma, de uso raro, do substantivo outdoors, apenas no plural, a qual indica um descampado. Francamente, nenhum desses casos induz a achar inteligente a adoção da palavra outdoor no português do Brasil (em Portugal, não se usa) para significar painel de propaganda. É como também a palavra “mídia”, tão do agrado da publicidade e dos meios de comunicação. Ela veio do latim (“media”, plural de “medium”, ambas com o “e” aberto) com a pronúncia do inglês. Em Portugal, nos meios cultos e nos próprios jornais, ninguém fala mídia, mas o vocábulo latino media (com a construção “os media“, ou seja, os meios). A mesma coisa acontece nos países de língua castelhana. É triste ver uma língua neolatina como a nossa sofrer tamanha desfiguração. Credite-se isso a nosso baixo nível cultural – sem esquecer o papel da publicidade e da imprensa na perpetuação do equívoco. O historiador Frederico Pernambucano, entretanto, sempre emprega a forma “os media”.

No caso dos outdoors, há ainda um fator negativo que lhes é associado. Eles desviam a atenção dos motoristas. Às vezes, são cartazes de interesse das pessoas, com informações sobre compras, por exemplo. Você olha e vê uma multiplicidade de dados. Não consegue assimilar tudo (um telefone, digamos). Sente necessidade de olhar de novo, o que é um perigo. Na Suécia, em 1991, comentei com um amigo que me levava de carro para a Universidade de Gotemburgo, sobre a ausência de painéis de propaganda no caminho que fazíamos. Ele me disse que era proibido por lei afixar qualquer coisa nas vias públicas do país que não fossem de interesse para a orientação dos motoristas. Motivo: evitar acidentes. Vendo o informativo de dezembro de 2009 de uma agência de publicidade de Pernambuco, encontro: “Nos últimos meses, tem crescido a presença dos painéis de estrada na paisagem pernambucana, ao lado das rodovias”. Qual a necessidade disso para o bem-estar humano?