domingo, 28 de dezembro de 2008

Artigo publicado

Diario de Pernambuco, dom. 28.12.2008

AMEAÇAS E ESPERANÇAS QUANTO AO MEIO AMBIENTE

Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social

O ano de 2008 termina com muita desgraça ambiental no país. Não se trata de ficar apenas nos terríveis desastres de Santa Catarina, para os quais é possível encontrar soluções de engenharia. O problema de maior vulto diz respeito a coisas que estão acontecendo com efeitos muito mais duradouros, e mesmo eternos. Por exemplo, a área de floresta degradada por atividades humanas na Amazônia em 2008 foi 66% maior do que em 2007, segundo os cálculos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os números alertam quanto ao fato de que o desmatamento poderá ser muito maior em 2009, caso o governo não reforce as medidas de proteção da floresta. E o que significa derrubar o precioso patrimônio da selva amazônica? Simplesmente, em muitos casos, destruir para sempre uma riqueza que sequer conhecemos. Esse é o histórico da rica (e imensa) Mata Atlântica, que herdamos dos indígenas – os primitivos donos do Brasil, de quem usurpamos os bens –, da qual só restam 6-7% da área original. Com a derrubada da floresta foi-se embora, sem possibilidade de volta, todo um acervo de fauna e flora de valor incalculável.
No caso da Amazônia, depois que as árvores maiores e de madeira nobre são retiradas, a floresta é quase sempre queimada diversas vezes antes de ser derrubada por completo. O fogo serve para “limpar” o local, reduzindo a quantidade de vegetação que precisa ser retirada para abertura de pastos e lavouras. Foi mais ou menos assim na Mata Atlântica. O cerrado segue modelo destrutivo análogo, tal como acontece ainda nos ecossistemas de manguezais (para a instalação de fazendas de camarão) e na caatinga (caso da gipsita, em Araripina, para citar uma ilustração). Quem olha as enormes fotos dos jornais, de exaltação do Complexo de Suape, em Pernambuco – projeto que é apresentado erroneamente como “uma unanimidade” –, percebe a ferida aberta que é a implantação de atividades econômicas naquele sítio. Na verdade, todo o ecossistema dali foi destruído irreversivelmente. E o impacto devastador das obras do porto se estende ao mar das redondezas, em que a pesca quase sumiu. Claro, está havendo um surto econômico na área; mas quanto tempo durará isso? Daqui a cem anos, o que será de Suape? A situação não permite que se façam prognósticos alvissareiros.
A realidade do Brasil, de exclusividade do interesse econômico, levou o ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, a declarar (sobre a Amazônia) no dia 18.12.2008: “Um ministério vai lá e abre uma estrada, outro vai lá e constrói uma hidrelétrica, outro expande a fronteira agrícola. Depois aumenta o desmatamento e sou eu que tenho que explicar”. Em suma, não há zelo ambiental no país. Todo mundo quer tirar seu pedaço da natureza, e esta que se vire. O paradigma pode sofrer mudanças – oxalá! – com a chegada de Barack Obama ao poder nos EUA. É que nosso modelo segue os parâmetros do padrão americano, cuja exacerbação foi a tônica dos penosos anos da era George W. Bush. Obama mostra novas preocupações, visíveis na indicação de seus auxiliares mais próximos, caso de seu conselheiro científico, o físico John P. Holdren, respeitado nome de Harvard que se dedica a questões de mudança climática e políticas públicas. Outros nomes do novo governo americano (na energia, agricultura, transportes, etc.) seguem o mesmo diapasão. Isso irá repercutir no mundo inteiro. Esperamos que uma onda verde ambientalista chegue ao Brasil. Aliás, foi esse o caráter da mudança na direção do Partido Verde em Pernambuco, com a escolha de sua nova Executiva estadual, tendo o grande militante da causa ecológica, Sérgio Xavier, à frente. Há esperanças no meio das desgraças. Feliz 2009!

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