segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Artigo de Clóvis no Diario de Pernambuco, Dom, 12/10/2008

A ELEIÇÃO MUNICIPAL

Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social


Não soube a quem dar meu voto para prefeito de Olinda, a cidade onde moro. Não saberia também se residisse no Recife. A tristeza é por isso não se dever a uma hesitação causada por estar diante de plataformas que se impusessem pela excelência. Ao contrário, os candidatos se repetiam. Preferiam melhorar sua maquiagem pessoal nas aparições do que qualquer outra coisa. E não traziam propostas convincentes para fazer a vida melhor. No Recife, para mim, a única boa novidade da campanha passada foram as “bicicleatas” de Mendonça Filho. Pena que ele só tenha recorrido a esse procedimento aos domingos. Não poderia, na verdade, fazê-lo nos dias de semana, como o sabem muito bem aqueles mais ousados que enfrentam o trânsito para se mover sobre duas rodas. No dia 20 de maio de 2004, eu fazia isso em Olinda quando um ônibus me derrubou numa via pública larga. Fiquei com escoriações e um braço deslocado. Mas, graças a Deus, foi só. Desde então não pedalei mais. Quando vejo a multidão de heróis que pedalam (às vezes, um casal e uma criança numa bicicleta feita para uma só pessoa), sinto a dor de viver em uma sociedade com tantas formas de exclusão a exemplo dessa. Por que nenhum prefeito implantou ciclovias em Olinda, no Recife, em Pernambuco? Simplesmente, isso não é prioritário para os edis. No Recife, permitiu-se, entretanto, a desastrosa construção de enormes prédios no Cais de Santa Rita em benefício de poucos privilegiados. Nada similar se reserva para conforto dos que sofrem os horrores de uma cidade tão desigual como a capital pernambucana.
A prefeita de Olinda, Luciana Santos, figura simpática em quem votei com entusiasmo duas vezes, chega sem brilho ao fim de seu mandato. Realizou algumas obras, é certo, mas perdeu-se no que toca a um cuidado mais consciente quanto ao patrimônio histórico da cidade. Disso é exemplo o terrível desastre da inútil reforma no adro do convento franciscano, um local que sempre foi muito admirado pelos turistas. Seu candidato a sucessor, o deputado Renildo Calheiros, eleito sem problemas, sequer é um morador de raízes sólidas na cidade. E não parece possuir as credenciais para servir de guardião dos valores olindenses. O livreto de sua campanha começava com um slogan vazio: “Olinda precisa crescer mais”. Deveras, é só nisso o que pensavam todos os candidatos a prefeito na Região Metropolitana de Pernambuco, e no Brasil inteiro (com mínimas exceções, caso de Fernando Gabeira, no Rio). Há uma fé religiosa, um credo irracional que faz do tema do crescimento a solução para todos os problemas. Crescer sempre conduz, no plano socioeconômico, a bolhas – como essa que está explodindo nos mercados financeiros mundiais. Crescimento sem fim, na natureza, é um fenômeno associado a processos doentios. Por que a sociedade e a economia poderiam escapar disso?
Uma coisa que me leva a escolher um candidato, mesmo que ele não reflita a visão de mundo que me orienta, é uma destemida defesa de valores supremos: liberdade, honestidade, comportamento republicano, retidão no uso do bem público, justiça, igualdade, respeito à dádiva gratuita da natureza. Neste ponto, a meu ver, nenhum candidato superava qualquer outro para prefeito, fosse em Olinda ou no Recife. Por isso, não escolhi nenhum. Mas votei, para vereador: em Marcelo Santa Cruz. Votaria ainda em Fernando Andrade, em Paulo Valença. No Recife, poderia escolher: Renê Patriota, Priscila Krause, Luciano Siqueira, Durval Lins. Sei que há outros nomes a destacar. Cito alguns para indicar que alimento esperanças. Infelizmente, aos políticos no Brasil escapa a defesa intransigente da ética. As tristes histórias recentes de uso irregular da máquina governamental provam isso e só fazem entristecer.

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