domingo, 8 de agosto de 2010

Artigo publicado DP, dom. 8 ago 2010

OLINDA, RECIFE, NATAL

Clóvis Cavalcanti

Economista ecológico e pesquisador social


Gosto de passar dias em Natal. Foi o que aconteceu entre 26 e 30 de julho último. Permaneci na capital potiguar participando da 62ª Reunião Anual da SBPC. Dei lá um minicurso e proferi uma conferência (sobre meio ambiente e sociedade, temas que estudo). Aproveitei, claro, para desfrutar o que Natal tem a oferecer de simpático. A primeira coisa a ressaltar ali é a qualidade de vida. Sem dúvida, os natalenses gozam de melhores condições do que recifenses e olindenses. A cidade é limpa, organizada, o trânsito flui bem. Sua infra-estrutura não parece degradada e atende às necessidades atuais da aglomeração urbana. Pode-se argumentar que se trata de cidade pequena. Mas a população que lá vive é de 800 mil pessoas. Pouco? Andando na rua, uma coisa é certa. Não há buracos nem calçadas destruídas. Pelo menos, foi o que vi. O calçadão da orla de Ponta Negra é bonito, de pedras portuguesas, sem irregularidades. A própria arquitetura dos prédios à beira-mar compõe uma paisagem que mostra a mediocridade do que se faz em Pernambuco. Infelizmente, em Natal, por detrás do espaço mais próximo das praias, surgem espigões sem graça como os que tanto deformam a beleza do litoral pernambucano. Nesse particular, lembro-me de quando, adolescente (década de 50), chegava ao Recife, vindo do Rio de Janeiro, onde estudava, e meu pai fazia questão de que, saindo do aeroporto, passasse pela av. Boa Viagem, linda e sedutora (sem contar a qualidade ímpar do mar ali). Como se sabe, essa elegância sumiu.

De Olinda, nem vale a pena falar. Aqui, a coisa é mais triste. Cidade turística, ela? Não fosse o que lhe resta de beleza, graças a um patrimônio histórico e arquitetônico inigualável, a decadência que exibe em toda parte já teria afastado a maioria dos visitantes. Curioso é que, em Olinda, implantam-se obras para recuperar ou refazer certos locais e o que surge mais tarde é um desastre assustador. O privilegiado Alto da Sé passa por um processo desse naipe. Virou ferida aberta supurando. O largo de São Francisco, bem junto de onde moro, perdeu todo seu encanto e ficou ruim de passar, seja gente, seja carro. É patente o esforço dos que cuidam da cidade, de tornar tudo medíocre. Não deve ser ação deliberada. Acredito na boa-fé das pessoas. É incompetência mesmo! Ou então o que explicaria que calçamentos feitos há pouco tempo tenham que ser repostos logo a seguir? Esse é o caso da via que vai do Carmo pelo Fortim do Queijo para o Bairro Novo. Foi desfeita a que existia. Implantou-se uma nova, aberta em meados de 2009. Antes do fim do ano, o calçamento de paralelepípedos começou a se soltar prejudicando o trânsito das praias. Haja paciência! Obras repuseram as pedras que se soltaram e as que ameaçavam fazer o mesmo. Recentemente, vendo que a emenda não teve sucesso, foi jogado asfalto em cima do calçamento. Ora, o asfalto antigo, que – foi dito – não servia, tinha que ser removido para dar lugar a solução considerada mais sintonizada com o sítio histórico. Repô-lo como remendo é a solução da solução? Algo não anda bem no reino de Olinda.

É impressionante a quantidade de bons hotéis, sempre cheios, de Natal. Há 120, disseram-me, em Ponta Negra. É óbvio que um lugar bonito, com sol e mal – a receita do turismo de nível para o Nordeste –, vai atrair turistas que não vêm atrás do sexo comercializado de Boa Viagem. Por outro lado, come-se muito bem na capital do Rio G. Norte. Até um restaurante de comida no peso, como o Pinga Fogo (a que minha sobrinha Luciana Moura me levou na primeira vez), excede na qualidade. É o melhor estabelecimento desse tipo que conheço. Variedade, qualidade e sabor – tudo o que a pessoa busca quando não tem a boa comida de casa (a da minha, considero a melhor do mundo) para comer. Olinda dispõe só de alguns poucos bons restaurantes, como o Maison, de Jeff Colas. Quem vem para Olinda só quer passar pouquíssimas horas e sair o mais rápido possível. Em Natal, a pessoa fica dias – come e dorme. Aprendamos com ela.

Um comentário:

Quem? disse...

Querido professor Clóvis, quem vos fala é o Zeca, aluno que cursou disciplina ministrada para Ciências Ambientais e ainda admira muito a força que tem essa figura tão inteligente e ativa de Pernambuco. Um ícone sempre relembrado por minha pessoa.
Fiquei muito feliz ao saber que gostou de Natal, pois também tenho gostado bastante. Estou morando nessa cidade, fazendo mestrado em Arquitetura e Urbanismo da UFRN. Natal realmente tem muitas das qualidades que o senhor citou em seu artigo (lido apenas agora) e com o qual concordo em alguns pontos e venho argumentar a título de esclarecimento sobre algumas outras coisas vistas de perto.
O danado é que Natal tem benesses do ponto de vista ambiental e qualidade de vida, como o segundo maior parque urbano do país (Parque das Dunas), e paisagens inusitadas a apenas 15 minutos de carro, onde podemos encontrar dunas, restingas e matas. Mas mesmo assim tenho acompanhado a rotina ambiental da cidade e ela se baseia em muita luta e falta de excrúpulos por parte dos órgãos governamentais responsáveis (Diretores denunciados, licenças concedidas irregularmente e um crescimento urbano que se baseia no inchaço urbano segundo alguns pesquisadores do PPGAU). O trânsito tem seus momentos de tranquilidade, mas determinados momentos ouve-se muita buzina e
reclamação (dos meus parentes) quanto aos engarrafamentos. As linhas de ônibus são poucas e demoradas, respeito pelo ciclista, eu mesmo posso falar... Vixe!!! Mesmo com espaço, algumas vezes passo de ser transformado em qualquer sapo esmagado, com respeito aos sapos. Porsituição aqui, só não é igual a Fortaleza, mas é impressionante que às 9, 10, 11, 13, 15 hs seja normal encontrar mulheres ou travestis nas ruas de Capim Macio (bairro onde moro). Este mesmo bairro sofre com perda de uma das maiores áreas verdes da cidade por conta de ocupação irregular, poços artesianos para abastecimento de lava-à-jatos e por aí vai. Sem falar na especulação imobiliária forte no local, principalmente para a construção de "torres fantasmas", prédios gigantescos considerando o entorno, que em baixa estação ficam com dois apartamentos ocupados, feitos para atender à demanda turística internacional de italian'o's, portugueses, franceses e por aí vai para curtição sexual. Não é que só venha este tipo de gente. Vê-se família e pessoas que estão querendo desfrutar de uma natureza realmente contagiante, pois adoro morar aqui e interagir com todos, locais e passageiros turistas.
Em termos de Recife e Olinda, realmente Natal é uma cidade menor e apresenta, como disse, muitas benesses, mas tem seus problemas quando vista mais de perto.
Espero que considere e, qualquer outra informação entre em contato. Quem sabe, se voltar novamente a esta cidade, tenha um tempo para conversarmos.
Muita honra e grande abraço.
Eterno aluno, Zeca