Clóvis Cavalcanti
Economista ecológico e pesquisador social
Em março de 2009, ninguém havia ouvido falar da gripe suína. Em março de 2008, ninguém imaginava a violência do furacão financeiro que, daí a seis meses, ocorreria na economia mundial. Assim, é totalmente absurdo afirmar que um desastre, talvez até pior do que o do Golfo do México, não irá acontecer no campo petrolífero do pré-sal brasileiro. Neste, a profundidade é maior do que naquele, tanto do fundo mar quanto do depósito do óleo. E quanto mais se desce em profundidade marinha, mais se elevam os riscos de qualquer coisa que aí se faça. A pressão da água a 2.000 m é assustadora e a escuridão do fundo do oceano, mais um obstáculo. O petróleo sai das entranhas da terra a temperaturas altíssimas. Mesmo que se consiga um domínio notável dos problemas que possam ocorrer, o futuro será sempre muito incerto. Não é que seja imprevisível. A ciência do assunto é que não tem uma base para calcular riscos. Tudo o que se possa afirmar a respeito virá cercado de muita imprecisão.
Algo, porém, não pode ser negado: o petróleo causa problemas em toda parte – ambientais, humanos, políticos. Caso ilustrativo é o do Delta do Níger, na Nigéria. Aí, a exploração petrolífera, iniciada nos anos 1950, produz efeitos humanos e ambientais dos mais lamentáveis. Sobre o assunto, a The Economist de 26.6.2010 relata: “formas tradicionais de emprego, como agricultura e pesca, têm sido destruídas pela assustadora poluição causada pelo óleo [no Delta do Níger] nas últimas décadas”. As condições de vida da população local se deterioraram de tal forma que a esperança de vida ali é inferior a 40 anos. Um líder do povo Ogoni – do lugar –, Ken Saro-Wiwa, escritor, produtor de TV e ambientalista, foi enforcado pelo governo nigeriano, aos 54 anos, por pedir justiça, apelando para meios não-violentos. Sua condenação – por incitação à desordem, acusação oca que lhe faziam – e execução em 1995 aconteceram a despeito de apelos mundiais de clemência, dirigidos ao governo nigeriano (na época, a ditadura militar de Sani Abacha). Quinze anos depois, a situação dos habitantes do Delta, de onde o mundo extrai petróleo para satisfazer sua ganância insaciável, só fez ficar pior. Esse é um panorama que se deve ter em mente no caso do Golfo do México, no do Pré-Sal e muitos mais. E que não pode ser esquecido quando se deseja consumir cada vez mais um combustível fóssil que tanta infelicidade tem trazido ao mundo. Obama está certo.
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