Seminário: E agora Werner? (Brasília, 29 set 2016)
veja link com fala de Clóvis em 1h20m https://youtu.be/gJiP7cgWI78
Artigo publicado no Mundo JOVEM jornal - hum Jornal de Ideias, Porto Alegre RS, abril 2011
Artigo meu no "Jornal do Brasil", do Rio, o melhor do país à época, em 18/3/1980. Homenagem a Sônia Freyre Pimentel e à Fundação Gilberto Freyre (Gilberto Freyre Neto).
À medida que
fui me familiarizando com as ideias de desenvolvimento nacional que orientam o
Reino do Butão, me dei conta de que elas constituem uma inusitada aplicação do
que o campo da Economia Ecológica (EE doravante), com o qual estou envolvido há
quatro décadas, concebe. Na verdade, tentar promover a felicidade humana,
respeitando os limites da natureza, é em suma o que a visão ecológica da
economia tem em mira, como procurarei demonstrar neste trabalho.
Meu contato
com o Butão é antigo. Em 1994, em
San José da Costa Rica, na III Reunião Bienal da Sociedade
Internacional de Economia Ecológica (ISEE), encontrei um grupo de três
autênticos participantes butaneses (tão autênticos que usavam trajes típicos),
com quem conversei algumas vezes. Eu já lera sobre a visão de mundo incomum que
orienta esse reino do Himalaia. Buscar a felicidade, como propunha há algum
tempo o paradigma butanês, parecia-me uma proposta extraordinária. Ao mesmo
tempo, o assunto da felicidade sempre foi motivo de questionamento no meu
trabalho como economista. Tanto que, no dia 9 de dezembro de 1968, como
paraninfo da turma de concluintes de economia da Universidade Federal de
Pernambuco daquele ano, fiz um discurso cujo título era “Economia e Felicidade
Humana: Ensaio de Quase Filosofia”[i].
Por outro lado, eu já escutara Nicholas Georgescu-Roegen (G-R, daqui por
diante, para abreviar) falando da lei da entropia e o processo econômico, em
duas palestras que proferiu para minha turma de alunos de Mário Henrique
Simonsen (1935-1997) no Centro de Aperfeiçoamento de Economistas, da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), no Rio, em julho de 1964. Depois, na Faculdade de
Economia da Universidade de São Paulo (USP), em curso de economia regional que
lá fazia, ministrado por Walter Isard (1919-2010) e seu grupo da Universidade
da Pennsylvania, voltei a ser brindado por palestra de G-R, em julho de 1966. Em São Paulo como no Rio,
seu assunto nuclear era a visão termodinâmica do processo econômico – com
destaque para a Lei da Entropia –, algo inteiramente novo para mim, que da
questão nada havia aprendido, seja na FGV, seja em Yale, mais tarde, onde
obtive o mestrado de economia em 1965[ii].
Minha
percepção do enquadramento perfeito do paradigma de desenvolvimento do Butão no
marco da EE foi inteiramente confirmada pelo admirável discurso de Jigmi
Thinley, primeiro-ministro desse país, no Rio de Janeiro, no encerramento da
XII Reunião Bienal da ISEE, dia 19 de junho de 2012[iii].
Ela ficou ainda mais patente no documento do governo do Butão, Wellbeing and Happiness: A New Development
Paradigm. Proposal to Convene a Two-Year International Expert Working Group to
Elaborate the Details of the New Paradigm, 2012-2014[iv],
estabelecendo um grupo de trabalho no qual tive a honra de ser incluído, cuja
tarefa, a pedido da Organização das Nações Unidas (ONU), é detalhar o modelo
butanês para que ele seja avaliado pelos Estados que a compõem. E que modelo é
esse? Como diz o documento: “Em contraste com o presente sistema, baseado no
PIB, o novo paradigma elevará a felicidade humana e o bem-estar de todas as
formas de vida”. Fará isso, “dentro dos limites planetários, sem degradação da
natureza ou depleção dos preciosos recursos do mundo”. Com cuidados para que
“os recursos sejam distribuídos de maneira justa e usados eficientemente”.
O paradigma de desenvolvimento do Butão
A premissa do
modelo butanês é a de que os sistemas humanos não podem ser isolados do
ecossistema envolvente que lhes provê o suporte de vida e os recursos de que a
economia necessita para existir e funcionar, do mesmo modo que os serviços para
absorção de seu lixo. O modelo tem como fim promover o que lá se denomina de
Felicidade Nacional Bruta (FNB). Seguindo as regras do budismo, visa-se também o
bem-estar de todos os seres sencientes. E levam-se em conta, de forma
explícita, nos moldes do full-cost, todos
os benefícios e custos decorrentes da atividade econômica.
Muito antes de
a Economia Ecológica ter surgido formalmente, o Quarto Rei do Butão proclamou
(ao ascender ao trono, muito jovem, aos 17 anos, em 1972) que “a Felicidade
Nacional Bruta é mais importante do que o Produto Nacional Bruto”[v].
Com tais palavras, de modo revolucionário, ele colocou seu país em um caminho
de desenvolvimento singular e holístico procurando integrar desenvolvimento
socioeconômico sustentável e igualitário com conservação ambiental. Assim, toda
política de peso, pouco a pouco, passou a ser levada adiante no Butão, apenas se
satisfizesse o teste do indicador de FNB. Tal foi o caso quando o Butão decidiu
não entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC). A possibilidade de entrada
na OMC não se ajustava às exigências do modelo, conforme se constatou.
O Novo
Paradigma de Desenvolvimento (NPD) do Butão remete à compreensão das relações
entre o sistema econômico e a natureza, visando alcançar a felicidade humana
dentro dos limites de matéria e energia de que se dispõe – exatamente como
explicado por Herman Daly em 1973[vi].
Os resultados disso são evidentes, depois de três décadas de adoção do paradigma.
Oferece-se saúde e educação de modo gratuito a toda a população butanesa, 99%
de cujas crianças em idade escolar frequentam escolas. A esperança de vida
butanesa duplicou em 40 anos. No Butão não há outdoors que promovam um consumo tolo; a propaganda de junk food e de bebidas alcoólicas é
proibida, do mesmo modo que a venda de cigarros. O país tenta implantar contas
nacionais segundo o princípio do full-cost.
Isso levará à adoção de políticas públicas mais consistentes na medida em que
estas últimas terão base em informações mais completas e realistas, bem
diferente de quando se depende apenas de grandezas proporcionadas pelo mercado,
de poder sinalizador míope. O Butão visa também ser 100% orgânico em 2020. E
sua Constituição aprovada em 2008 estipula que 60% do território do país seja
coberto de florestas – uma área que, hoje, na realidade, é de 80%, com 52% da
área do país destinada a reservas naturais[vii].
O referencial da Economia Ecológica
Que o Butão se vale da Economia
Ecológica para estruturar sua compreensão do processo econômico e formular um
paradigma de desenvolvimento totalmente novo e corajoso é evidente a partir do
contato com a literatura que o governo do país tem produzido sobre o assunto.
Contudo, a evidência se torna eloqüente, sem margem a qualquer dúvida, quando
se lê o texto do inteligente discurso que o primeiro ministro butanês, Jigmi
Thinley, pronunciou no Rio de Janeiro, em 19 de junho de 2012, na sessão de
encerramento da Conferência ISEE 2012 – que vi sendo pronunciado na ocasião[viii].
O pronunciamento em causa começa elogiando a concessão pela ISEE, de sua máxima
láurea, o Prêmio Kenneth E. Boulding, aos pais da ferramenta da pegada
ecológica, William Rees e Mathis Wackernagel, dois membros da mesma sociedade.
Salienta que o propósito do galardão é recompensar aqueles que deram
contribuição original e seminal para maior compreensão “das interfaces entre as
dimensões sociais, ecológicas, éticas, econômicas e políticas de nosso mundo”.
Para Thinley, em total sintonia com o pensamento ecológico-econômico
originário, a pegada ecológica é certamente um dos instrumentos de medição e
comunicação mais importantes e influentes deste século. O chefe de governo
butanês foi mais além, sublinhando que o trabalho da EE deveria ser a
referência primária da cúpula – a Rio+20 – que se iniciaria no dia seguinte ao
de sua fala. Para ele, diante da crise planetária e da inquietação suscitada
por um momento de ameaça à sobrevivência humana na Terra como agora[ix],
é indispensável entender que a economia não passa de um subsistema aberto do
ecossistema global, submetida aos limites que a natureza impõe. Isso exatamente
é o que postula a Economia Ecológica, a partir do que foi convincentemente
demonstrado por Georgescu-Roegen (1906-1994) em 1971[x]. O
primeiro ministro avançou ainda mais, declarando:
Na verdade, não consigo pensar em um campo de estudo
que possua maior capacidade de persuadir e adular governos para que ajam
responsavelmente do que o campo próprio de vocês [Economia Ecológica], e isso é
o motivo por que estou tão honrado em me achar com vocês hoje. Eu iria mais
longe, a ponto de dizer que nós, políticos, não podemos agir sem vocês! O
trabalho de vocês, literalmente, é o alicerce e a credibilidade sobre que
necessitamos nos erguer para justificar economicamente a proteção ambiental,
para demonstrar o valor inestimável de nossos escassos recursos e para
focalizar os verdadeiros benefícios e custos
da atividade econômica.
Já no fim do pronunciamento, mais
uma vez, foi taxativo: “está claro que a economia ecológica é um fundamento
central do novo paradigma de desenvolvimento de que o mundo tão urgentemente
necessita e que meu país se acha agora ativamente promovendo”.
Conseqüentemente,
o modelo rejeita o paradigma convencional da economia e sua proposta de
crescimento infinito do sistema econômico. Isso, precisamente, foi o que Thinley
expôs em New York,
dia 2 de abril de 2012, durante reunião convocada pelo Butão, nas Nações Unidas,
para apresentação do NPD. Suas palavras, de uma nitidez incontrastável e grande
ousadia, foram: “O modelo de desenvolvimento puxado pelo PIB, que obriga a
crescimento sem limites num planeta com recursos limitados, não faz mais
sentido econômico. Ele é a causa de ações irresponsáveis, imorais e
auto-destrutivas”[xi].
Vale
ressaltar os esclarecimentos de Thinley para a classificação impiedosa que ele
fez do paradigma de veneração do PIB. O modelo é irresponsável, segundo ele – coberto de razão, acrescento – porque
extraímos, produzimos, consumimos, descartamos e desperdiçamos cada vez mais, mesmo sabendo que os recursos naturais rapidamente
se esgotam. É como procura mostrar, de modo sucinto, a Fig 1: extrai-se, produz-se,
descarta-se, ou seja, cava-se buraco, de um lado, e cria-se um monte de
detritos, de outro, depois de usados e jogados fora os recursos – o buraco e o
monturo, em muitos casos, sendo eternos, irreversíveis e sem que parem de
crescer. O modelo do PIB é imoral e antiético
para Thinley porque, havendo consumido muito além de nosso quinhão da riqueza
natural, “nossa devassidão temerária”, em meio a desigualdades excessivas, se nutre do que pertence a gerações ainda
por nascer. Finalmente, o caráterautodestrutivo da fixação no PIB,
ajudado pela tecnologia, está provocando o colapso de nossos sistemas de
sustentação da vida. Tem sido essa precisamente a reflexão por detrás da
formulação do campo de conhecimento da EE, elaborada por Georgescu-Roegen, o pioneiro
e inspirador da disciplina, por seu orientado do Ph.D, Herman Daly, por
Martínez Alier, Malte Faber, Robert Costanza, Cutler Cleveland, John Proops[xii].
Figura
1 – Modelo extrair-produzir-descartar
Ao
dizer-se devedor da EE, em seu discurso do Rio, Thinley não menciona G-R. Mas
certamente está nele respaldado e ainda na introdução de Daly ao livro por este
organizado em 1980[xiii]
(o qual amplia seu outro, Toward a
Steady-Sate Economy, de 1973[xiv]).
Na introdução à economia do steady-state,
Daly esclarece que, “No sentido mais amplo, o problema econômico derradeiro da
humanidade é usar os meios últimos a serviço do Último Fim”. Ele sai das
limitações do modelo econômico que define a ciência da economia como alocação de
meios (intermediários[xv])
escassos para fins (instrumentais[xvi])
múltiplos, introduzindo a dimensão negligenciada pelos devotos do PIB, dos
últimos fins (o sentido e gozo da vida, a felicidade humana) e dos meios
primordiais (matéria e energia, de que se constitui tudo o que há no universo).
O modelo de Daly, por mim adaptado, é exibido na Fig. 2.
No gráfico,
como explica Daly[xvii], ocupando o retângulo
pequeno mais alto (topo do espectro), localiza-se o Fim Último (aquilo que é
intrinsicamente bom e não deriva sua desejabilidade de qualquer relação instrumental
quanto a um bem superior). No retângulo pequeno mais baixo do espectro, a base,
encontram-se os meios últimos ou meios fundamentais, “as coisas úteis do mundo,
matéria-energia de baixa entropia”. Ao longo do grande retângulo, as categorias
intermediárias são um fim com relação a categorias de baixo e um meio com
respeito a categorias acima (subindo-se no retângulo maior, caminha-se para o
Fim Último; descendo-se, para os meios fundamentais). Os fins intermediários
abaixo do Fim Último formam uma hierarquia de fins intermediários que são meios
a serviço do Fim Último. Por cima dos meios últimos encontram-se meios
intermediários (estoques físicos) que podem ser percebidos como fins
diretamente atendidos através dos meios fundamentais. O transumo de
matéria-energia ou, no original inglês, throughput[xviii],
consiste precisamente, como a EE o demonstra, no deslocamento de recursos
através de várias etapas do estágio de baixa entropia para o de alta entropia. As
disciplinas científicas que cuidam de cada estágio do espectro estão
relacionadas à direita do retângulo grande. Nessa constelação, a ciência
econômica standard ou convencional
ocupa uma posição mediana: não está diretamente ligada a extremos ou absolutos
do espectro; eles se posicionam bem acima ou bem abaixo dela. A ligação da
atividade da economia é com meios e fins intermédios. Dessa forma, sugere Daly[xix],
a economia “falsamente supôs que pluralidades, relatividades e
substituibilidades intermediárias entre fins concorrentes e meios escassos representassem
o espectro inteiro”. Segundo ele, limites absolutos não figuram no paradigma
dos economistas porque absolutos são encontrados somente no confronto com os
polos últimos do espectro. Ademais, a economia-ciência convencional não
questiona a natureza de meios e fins, daí não cuidando de verificar os limites
tanto do possível (questão de que a
Física trata) quanto do desejável
(que recai no campo da Ética, da Religião, da Metafísica).
Figura 2 –
Espectro de meios fundamentais e fins últimos (Daly, 1980)
Termodinâmica, felicidade e gozo da vida
Ao enunciar
que a economia não passa de um subsistema aberto do ecossistema global (o qual
é termodinamicamente fechado), submetida, aquela, pois, a limites ditados pela
natureza, o primeiro ministro butanês, em seu discurso do Rio, ecoou o
pensamento tanto do pai da Economia Ecológica, G-R, quanto dos que, como eu, o
acompanham. De fato, como é por G-R explicado de forma rigorosa, o que os
economistas convencionais concebem é que o sistema econômico é um sistema
isolado, auto-contido e a-histórico – configurado por um fluxo circular entre produção
e consumo, sem entradas e sem saídas no sistema, conforme se expõe em qualquer
livro-texto com o gráfico do “fluxo circular da riqueza”[xx].
A ciência da economia não oferece qualquer sinal de reconhecimento do papel dos
recursos naturais no processo econômico, sublinha G-R, que conclui:
Se a economia considerasse a natureza entrópica do
processo econômico, poderia ter sido capaz de alertar seus companheiros de
trabalhado no aprimoramento da humanidade – as ciências tecnológicas – de que
“maiores e melhores” máquinas de lavar, automóveis e superjatos conduzem
necessariamente a “maior e melhor” poluição.[xxi]
Nesse sentido,
o modelo da FNB e NPD, de um lado, e a EE, de outro, convergem na crítica dura à
economia convencional. Crítica acentuada por G-R ao mostrar que o modelo convencional ignora as leis da
termodinâmica, as quais definem todos os processos de transformação energética
do universo. É aqui que G-R ressalta que, em essência, e do ponto de vista
material, o processo econômico consiste na transformação de matéria e
energia de baixa entropia em matéria e energia de alta entropia, ou seja,
transformação de riqueza em waste
(lixo)[xxii].
Resulta daí que, quanto mais rápido for o processo econômico, tanto mais
depressa sujeira se acumulará[xxiii].
No entanto, ressalva o fundador da EE – que Martínez Alier classifica como o
principal expoente da crítica ecológica da economia[xxiv]
–, “seria extremamente absurdo pensar que o processo econômico só exista para
produzir lixo”. Sua ressalva, que ele diz irrefutável, “é de que o produto
verdadeiro desse processo é um fluxo imaterial, de gozo da vida”[xxv].
Sem introduzir em nosso “armamentarium”
o conceito de “enjoyment of life”,
que não possui dimensão física e, portanto, pode crescer sem limites, no
entender de G-R, não estaríamos no mundo econômico. É o gozo da vida ou a
alegria de viver que representa a diferença entre o processo econômico “e a
marcha entrópica do ambiente material”[xxvi],
explicada pela termodinâmica. Assim, G-R propõe a hipótese de que tudo o que
sustenta o “life enjoyment”, direta
ou indiretamente, pertence à categoria de valor econômico[xxvii].
Aproveita para
enfatizar que essa categoria “não é passível de mensuração no estrito sentido do
termo”[xxviii].
No raciocínio de G-R, com efeito, como ele explica, a intensidade do fluxo do
gozo da vida em um instante do tempo não parece que seja uma entidade mensurável,
“nem mesmo no sentido ordinal”[xxix].
Tal declaração equivale à não aceitação do princípio da maximização do gozo da
vida ou, o que seria o mesmo, da maximização da felicidade: haveria sempre a
possibilidade de se ultrapassar o último degrau alcançado. Crescimento perene,
sustentável, pois, ad infinitum, cabe
nessa dimensão – mas apenas nela, por sua imaterialidade. Um ponto de interesse
do raciocínio de G-R e que serve para a compreensão do enquadramento da FNB na
moldura da EE diz respeito ao que G-R chama de “aritmomania”[xxx]:
o fato de a complexa noção de desenvolvimento econômico ter sido reduzida a um
número, o PIB – ou renda – per capita.
Como lembra, “nos últimos duzentos anos, voltamos todos os nossos esforços para
entronizar uma superstição tão perigosa quanto o animismo de antigamente: a do “Onipotente
Conceito Aritmomórfico”[xxxi].
Especificidades
do paradigma butanês
Uma
ideia que, compreensivelmente, tem recebido mais atenção nas discussões da EE
consiste em mostrar que a realidade de “mundo cheio” de 2013 (um planeta de 7,2
bilhões de pessoas e PIB global de 72 trilhões de dólares) contrasta
intensamente com a de “mundo vazio” de, por exemplo, 1900, quando havia 1,5
bilhão de habitantes e PIB de 1,5-2 trilhões de dólares no planeta. Esse intenso
contraste seria razão suficiente para justificar a relevância da visão de mundo
proposta pela EE, a qual leva em conta os limites inflexíveis da natureza,
recusando-se, em contrapartida, a da economia standard, que os ignora completamente. Faria muito mais sentido, na
verdade, raciocinar agora com a “economia da espaçonave” do que com a economia
do “caubói”, da sugestiva dicotomia criada por Kenneth Boulding (1910-1993)[xxxii].
Está em jogo, no caso, a questão relativa à escala do sistema econômico que
cabe no ecossistema que o contém – algo como saber quantas pessoas podem voar
seguras num avião A-320 – 200 ou 1.200? Não é qualquer escala que serve. Com
esse pano de fundo, Robert Costanza e colaboradores escreveram relatório
preciso para a ONU na antecipação da Rio+20, o qual adaptaram para o informe State of the World 2013, do Worldwatch
Institute, deste ano[xxxiii].
No estudo, explicam como fica a realidade do desenvolvimento no quadro do que
chamam de “economia-na-sociedade-na-natureza”. Trabalho de um colaborador de Costanza,
Joshua Farley, apresentado na ISEE 2012 (“Human Behavior, Economic Institutions
and the Challenges of a Full World”), insere-se no mesmo marco.
Contudo, não é isso o que parece
estar nas origens da EE. G-R simplesmente explicava que a economia é regida,
como tudo o mais no meio físico, sem exceção, pelas leis da termodinâmica – e
ponto. O modelo do Butão tem apoio no mesmo raciocínio. Dele, é possível
dizer-se que segue bem mais um padrão de “mundo cheio”, apesar de que a
condição do país o enquadre melhor na de “mundo vazio” (no país vivem 19 hab/km2
– contra 142 na China e 21 no Brasil). Tão vazio que não possui um só semáforo.
O discurso de Jigmi Thinley na ISEE 2012 tende a demonstrá-lo:
Eu uso
regularmente os resultados da Pegada [Ecológica] nos meus próprios pronunciamentos
e, na verdade, apóio-me nessa informação para entender e comunicar o impacto
devastador dos atuais padrões de consumo sobre os limitados recursos do mundo,
e para solicitar políticas mais sustentáveis... [A Pegada Ecológica nos
proporciona] ter noção do valor de cada
recurso que consumimos e de cada nuança de nossos comportamentos e estilos de
vida.
Essa consciência de limites, à la G-R, se estende a todo o discurso. Nele, o governante butanês reforça a
necessidade de se desmantelar o consumo excessivo; de se banir a publicidade
dirigida a crianças; de se eliminarem subsídios que levam a maior uso de
combustíveis fósseis. Pede que se elimine qualquer ajuda via deduções de
impostos à promoção de negócios. Advoga a reforma tributária que penaliza a
poluição, coíbe as emissões de carbono e a depleção de recursos e do capital
natural. Tudo exatamente como G-R o veria; como Daly sempre propôs; como
Costanza et al. expõem agora[xxxiv].
Essa é a ortodoxia primordial da EE, que independe de mundo vazio ou mundo
cheio.
O NPD butanês, assim, tem
tudo a ver com o modelo de G-R. Ademais, não se trata propriamente, como indicou
Eric Zencey[xxxv], de se
contemplar o potencial de uma união entre a FNB e a Economia Ecológica. A EE
esteve desde sempre no âmago do Novo Paradigma de Desenvolvimento, do Butão.
Faz parte intrínseca dele. A parceria, consciente ou não, com o NPD sempre
existiu. Não obstante – e isso deve ser ressaltado –, o Reino do Butão,
seguindo as tradições do budismo que lhe dão forma, de modo natural oferece um
paradigma de desenvolvimento que não faz esforço algum para representar adesão
a uma versão ocidentalizada da crítica ecológica da economia que a EE
significa. Ele tem, de fato, suas especificidades – que não são banais. Da especificidade
do budismo, convém lembrar, se extrai a noção de que a essência da civilização
não está na multiplicação de desejos, mas na purificação do caráter humano,
como lembra Shcumacher[xxxvi].
E o Butão é um país budista, conforme está inscrito (artigo 3.º) na
Constituição do Reino, de 2008 (ela aceita também a prática de outras
religiões). O budismo não compartilha um critério de sucesso da moderna
economia como o ditado pela quantidade de coisas produzidas – o PIB[xxxvii]
– que, de seu ponto de vista, significa considerar os bens como algo mais
importante que as pessoas e todos os seres sencientes. Uma ciência budista da
economia, por sua vez, visaria o estudo sistemático “de como se atingir dados fins
com mínimo de meios”[xxxviii].
Em outras palavras: máximo de bem-estar com mínimo de consumo. Isso remete à
questão do prazer da vida, da felicidade, um assunto de que G-R tratou também
quando aludiu, por exemplo, ao valor do consumo para o “enjoyment of life”[xxxix].
O que, no
fundo, tem a ver com a felicidade, ou seja, com o sentido do NPD. Na
perspectiva da Economia Ecológica, explicam Costanza et al.: “Quando o PIB aumenta mais depressa do que a satisfação da
vida, a eficiência cai. O fim da economia ecológica deveria ser minimizar o
PIB, sob a condição de se manter uma alta e sustentável qualidade de vida”[xl].
Para o budismo, não se trata de evitar a queda da eficiência em si, mas de se
levar a pessoa a um despertar espiritual intenso, à purificação de seu caráter.
A discussão sobre o tema é ampla. Proporciona pensar na natureza do Fim
Derradeiro, em que consiste realmente. São Tomás o tratava como o summum bonum – o bem supremo. No
hinduísmo, para expressá-lo, concebe-se o nirvana (um termo budista); no
zen-budismo, o satori. Talvez por brincadeira, talvez por súbita inspiração, o
Quarto Rei do Butão saiu-se com a expressão Felicidade Nacional Bruta (abreviadamente,
GNH, do inglês Gross National Happiness).
Ele já tinha falado na felicidade como propósito, em lugar do PIB (aos 17 anos,
quando assumiu o trono na morte do pai, em 1972), quando, em Mumbai, em 1979,
voltando de uma conferência em Havana, de países não-alinhados, foi abordado
por um repórter que, talvez maldosamente perguntou: “Qual a importância do PIB
do Butão?” O rei respondeu: “Não acresditamos no produto nacional bruto porque
a felicidade nacional bruta é mais importante”[xli].
Ora, G-R já
tinha afirmado que “é tão absurdo pensar em um indivíduo que prefira ser menos
feliz quanto imaginar um quadrângulo com cinco lados”[xlii].
Porém, a seu ver, a economia convencional não está preocupada com seres humanos
e “tira especial orgulho de um mundo sem gente”[xliii].
Não cabe nela a dimensão qualitativa do sumo bem. Na linha de G-R, para seus
seguidores, como qualquer outra coisa, o crescimento, mesmo assegurado do
prisma biofísico, só faz sentido se estiver de acordo com orientações ditadas
por uma base moral. Schumacher é feliz a esse propósito quando acrescenta: “O
que interessa…não é nossa competência técnica,
e sim nosso sistema de valores e os fins e objetos que estamos perseguindo”[xliv].
Procurar a felicidade, não um conceito mentiroso como o do PIB, faz parte da
natureza do ser humano. É assim desde Aristóteles e o cristianismo autêntico,
que formulam um conceito de riqueza como meio para fim elevado[xlv].
Entre os indígenas brasileiros não parecia ser diferente[xlvi].
Assim, faz
todo sentido saber que a meta última que norteia as mudanças sociais,
econômicas e políticas no Butão é a Felicidade Interna Bruta. Foi isso o que
afirmou o Quarto Rei, ao proclamar que uma economia baseada na FNB significa a
criação de uma sociedade iluminada, na qual a felicidade e o bem-estar de todas
as pessoas e de todos os seres sencientes é o propósito último da governança[xlvii].
Essas ideias revelam a forte dimensão da espiritualidade no paradigma concebido
pelo Butão. No âmbito da FNB, ela está participa intrinsecamente da concepção
de desenvolvimento. Como sublinha Karma Ura, “Se o crescimento material solapar
o arcabouço espiritual da sociedade e seus valores de compaixão e integridade,
então não terá havido desenvolvimento”. Todas essas coisas dizem respeito ao
fato de que se tem um propósito na vida muito além do material e que a
linguagem da sabedoria espiritual deve orientar todas as escolhas do progresso
desejado. Felicidade, sociedade iluminada, todos os seres sencientes (que, no
budismo, são considerados “pequenos Budas”), sabedorial espiritual e mais
outros elementos do NPD do Butão fazem dele uma versão do modelo da EE que vai
bem mais além do componente biofísico. É Economia Ecológica – e muito mais.
*Presidente de Honra, Sociedade Brasileira de Economia
Ecológica (EcoEco). Professor aposentado, UFPE, e pesquisador sênior, Fundação
Joaquim Nabuco, Recife, Brasil. E-mail: .
[i] O discurso nunca foi
publicado, mas além de eu guardá-lo em forma datilografada, dois de meus alunos
de 1968, Marcos Formiga e Jorge Jatobá, dispõem do texto original.
[ii]Convivi ainda com G-R na Universidade de Vanderbilt (jan.-mar. 1970),
onde eu era visiting scholar. Fui seu
vizinho de sala no Departamento de Economia. Conversávamos quase diariamente.
Ele me convidou a sua casa para jantar, uma vez. Em julho de 1973, traduzi uma
conferência sua no Conselho de Desenvolvimento de Pernambuco (Condepe), no
Recife, na presença dos diretores Everardo Maciel e Olímpio Galvão, do órgão.
[iii]Jigmi Y. Thinley, Statement at the Closing Session of
the 2012 Conference of the International Society for Ecological Economics. Rio:
Hotel Guanabara Palace, 19 de junho de 2012. Disponível em: http://www.footprintnetwork.org/images/article_uploads/Bhutan_Prime_Minister_Congratulates.pdf.
[iv] Disponível em: http://www.sustainable.unimelb.edu.au/files/mssi/Bhutan_Proposal-International-Expert-Working-Group_2012-14.pdf.
Meu nome aparece na p. 34.
[v]Apud Karma Ura et. al., A Short Guide to Gross National Happiness
Index. Thimphu: The Centre for Bhutan
Studies, 2012, p.6. Disponível em: http://www.ophi.org.uk/wp-content/uploads/Ura-et-al-Bhutan-Happiness-Chapter.pdf.
[vi]Herman
Daly, Introductory Essay. In: Herman
Daly (org.), Toward a Steady-State
Economy.San Francisco:
W. H. Freeman Co., 1973, p.8.
[vii] Dados completos sobre a
realidade butanesa estão no site: http://www.bhutanstudies.org.bt/.
[ix] Ver, a respeito,
Paul e Anne Ehrlich. Can a Collapse of
Global Civilization Be Avoided? Proc. R. Soc. B (Biological Sciences),2013,
280, 20122845. Disponível em
rspb.royalsocietypublishing.org.
[x] Nicholas Georgescu-Roegen. The Entropy Law and the Economic Process.
Cambridge, Mass.,
EUA: HarvardUniversity
Press, 1971.
[xi] Jigmi Thinley, Discurso na reunião sobre “Bem-estar e
Felicidade: Definindo um Novo Paradigma”, New York, ONU, 2.4.2012. Disponível em
http://www.cabinet.gov.bt/?p=737.
[xii]Ver: G-R, cit.
Daly, cit. Joan
Martínez Alier e Klaus Schluepmann, La Ecología y la Economía. México: Fondo de Cultura Económica, 1991. Malte Faber,
Reiner Manstetten e John Proops, Ecological Economics: Concepts and
Methods. Cheltenham, UK:
Elgar. Robert Costanza (org.), Ecological
Economics: The Science and Management of Sustainability. New York:
Columbia U. Press, 1991. Cutler Cleveland e Mathias Ruth, Capital Humano,
Capital Natural e Limites Biofísicos no Processo Econômico. In: Clóvis Cavalcanti (org.), Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e
Políticas Públicas. São Paulo: Cortez Editora, 1996, p. 131-164.
[xiii]Herman
Daly, Introduction to the Steady-State Economy. In Herman Daly (org.), Economics, Ecology, Ethics: Essays Toward
a Steady-State Economy.New York e San Francisco: WH Freeman
and Company, 1980, pp. 1-37.
[xviii] Também definido como
fluxo metabólico, o transumo representa a passagem de matéria e energia de
baixa entropia por dentro do sistema econômico, de que resultam, no fim da
linha, matéria e energia de alta entropia, degradadas, lixo (a Fig. 1 ilustra o
processo).
[xxxii] Kenneth Boulding.
The Economics of the Coming Spaceship Earth. In: H. Jarrett (org.), Environmental
Quality in a Growing Economy. Baltimore: Resources for the Future/Johns Hopkins University Press, 1966, pp. 3-14.
[xxxiii] Robert Costanza, Gar Alperovitz, Herman Daly,
Joshua Farley, Carol Franco, Tim Jackson, Ida Kubiszewski, Juliet Schor e Peter
Victor. Building a Sustainable and Desirable Economy-in-Society-in-Nature.
Worldwatch Institute, State of the World
2013. Is Sustainability Still Possible?. Washington, D.C.,
cap. 11, a
sair.
[xxxv] Eric Zencey. The Partnership of GNH and
Ecological Economics. Thimphu, Butão, 5.2.2013, comunicação ao membros
do International Expert Working Group do Butão.
[xxxvi] E. F. Schumacher. Budhist Economics. Resurgence, v. 1, n. 11, jan.-fev. 1968.
In: Herman Daly (org.), Economics,
Ecology, Ethics: Essays Toward a Steady-State Economy.New
York e San Francisco:
WH Freeman and Company, 1980, p. 140.
[xxxvii]Como
bem exprimiu Daly, Introduction, cit.,
p. 10: “The growth economists’ vision is one of continuous growth in
intermediate means (unconstrained by any scarcity of ultimate means) in order
to satisfy ever more intermediate ends (unsconstrained by any impositions from
the Ultimate End). Infinite means plus infinite ends equals growth forever”. A
fantasia moderna!
[xliii]Id. , p. 343. Na suas palavras em inglês: “a man-less picture”.
[xliv]E. F.
Schumacher. The Age of Plenty: A Christian
View. Panfleto, Edinburgo: Saint Andrew Press, 1974. In: Herman Daly (org.), Economics, Ecology, Ethics: Essays
Toward a Steady-State Economy. New York e San Francisco: WH Freeman and
Company, 1980, p. 131.
[xlv]Robert Skidelski e Edward Skidelski. How Much is Enough? The Love of Money, and
the Case for the Good Life. Londres: Penguin Books, 2012, p. 12
[xlvi] Clóvis Cavalcanti. Economic Thinking,
Traditional Ecological Knowledge and Ethnoeconomics. Current Sociology, v. 50, n. 1, jan. 2002, pp. 39-55.
[xlvii]Dasho Karma Ura. Gross National Happiness and Buddhism. Disponível
em: http://www.kosei-shuppan.co.jp/english/text/mag/2007/07_101112_10.html
APPLICATION OF THE PRINCIPLES OF ECOLOGICAL
ECONOMICS
Clóvis Cavalcanti
Honorary President, Brazilian Society for Ecological Economics (EcoEco); professor
Federal University of Pernambuco; senior researcher, Fundação Joaquim Nabuco
Recife, Brazil.
clovati@fundaj.gov.br
Without copying any
system elsewhere in the world, Bhutan’s
development ideas constitute an uncommon application of Ecological Economics.
They also show original features, proper to a non-westernized society. The
purpose of Bhutan’s
model, which refuses to bow down to the worldwide importance given GDP, is to
promote human happiness and the wellbeing of all life forms. It aims at doing
that within the limits of the planet, without degrading nature or depleting the
world’s valuable resources, and with a view to a fair distribution and
efficient use of resources. Bhutan’s
development conception came about in 1972. It was proposed by the Fourth King
when he ascended the throne. The Bhutanese prime minister laid it bare in a
talk he gave in Rio
on June 19th 2012. It is well explained in the rich bibliography available on
the web, as well as in the document from Bhutan’s government setting up a
working group (in which I am included), requested by the UN, to elaborate the
details of its proposal. Bhutan’s
is a very interesting case of Ecological Economics in practice. It represents a
basis for the country’s national project, which is also framed by the spiritual
dimension of Buddhism, an aspect that has been decisive in shaping its unique
characteristics.
Introduction
As I was
becoming acquainted with the ideas of national development that guide the
Kingdom of Bhutan, I realized that they constitute an uncommon application of
the principles and methods of Ecological Economics (EE, henceforth) with which
I have been involved for over three decades. It must be stressed that this
application does not copy any “model”, having original features, proper to a
non-western, non-westernized society. To try to promote human happiness and the wellbeing of
all life on earth, based on a healthy balance among thriving natural, human,
social, cultural, and built assets, and recognizing ecological sustainability and the fair distribution
and efficient use of resources as key conditions for the new model, is all that
the ecological vision of the economy aims at, as I seek to demonstrate in this
paper.
My contact with Bhutan started
long ago. In 1994, in
San José, Costa Rica, during the III Biennial Meeting of the International
Society for Ecological Economics (ISEE), I met three authentic Bhutanese
participants (I say authentic since in San José they were wearing typical clothes) with whom I talked a few times. I had already read
about the rare economic worldview that drives this Himalayan kingdom. The
pursuit of happiness, a basic ingredient of the paradigm that was being
proposed for its inhabitants, seemed to me an extraordinary idea. At the same
time, the happiness topic had always been an object of inquiry running parallel
to my work as an economist. So much so that, on December 9th 1968, as the
keynote speaker of the graduating ceremony of the students of economics of the
Federal University of Pernambuco, in Recife, I titled the speech I gave
“Economics and Human Happiness: A Quasi-Philosophical Essay”[1]. On
the other hand, I had already heard Nicholas Georgescu-Roegen (G-R, from
now on for short) speaking on the entropy law and the economic process. It was
in two lectures he proffered to my class of students of the GraduateCenter
for Economics at the Getúlio Vargas Foundation in Rio,
in July 1964, where we were studying neoclassical theory
with a brilliant mathematical economist, the late Mário Henrique
Simonsen (1935-1997). Afterwards, in July 1966, I again saw G-R speaking,
during a course on regional economics I was taking at the School of Economics
of the University of São Paulo, conducted by Walter Isard (1919-2010) and his group
from the University of Pennsylvania (G-R came to give a talk). In São Paulo as in Rio, G-R’s core
subject was the thermodynamic view of the economic process – with emphasis on
the Entropy Law –, something entirely new to me. Neither had I learned anything
about it at Vargas Foundation nor, later, at Yale, where I got my master’s
degree in economics in 1965[2].
My perception of the perfect
correspondence of Bhutan’s development paradigm with the framework of EE was
wholly confirmed by the admirable speech of Jigmi Thinley, the country’s prime minister,
in Rio de Janeiro at the closure of the 12th Biennial Meeting of ISEE, on June
19th 2012[3]. It became even more
evident in the document from Bhutan’s
government Wellbeing and Happiness: A New
Development Paradigm. Proposal to Convene a Two-Year International Expert
Working Group to Elaborate the Details of the New Paradigm, 2012-2014, convening
a working group in which I had the honor to be included[4] (a condition which made it
possible for me to spend ten extremely profitable days in Bhutan in Jan.-Feb. 2013).
The working group’s task, according to a request from the UN, is to elaborate the details of the new
development paradigm, so that it can be appreciated by the UN’s member states. And what paradigm is this? As the
document says, “In
sharp contrast to the present GDP-based system, the new paradigm will enhance
human happiness and the wellbeing of all life”. It must do this “within
planetary boundaries, without degrading nature or depleting the world’s
precious resources”. And, at the same time, taking care that natural resources
“be distributed fairly and used efficiently”.
Bhutan’ paradigm of
development
The premise of the model is that it
is absurd to isolate economic systems from the encompassing ecosystem that
provides the life support and resources the economy needs to survive and
function, and which absorbs its wastes. The purpose of the model is to promote
what is called in Bhutan
“Gross National Happiness” (GNH). Following the rules of Buddhism, the
wellbeing of all sentient beings is also to be nurtured. The model envisages
that all this is to be done within the scope of economics’ full-cost principle,
taking into account explicitly the complete set of benefits and costs resulting
from economic activity.
Much before Ecological Economics had
formally appeared, the Fourth King of Bhutan, a 17-year old youth at the time
(1972), proclaimed as he ascended the throne upon the death of his father,
“Gross National Happiness to be more important than Gross National Product”[5]. With such words, he set
his country upon a unique and holistic development path seeking, in a truly
revolutionary way, to integrate sustainable and equitable socioeconomic
development with environmental conservation. This implied that little by little
all substantial policy was to be implemented only if it could satisfy the GNH-indicator
requisite. Such was the case when Bhutan decided not to enter the
World Trade Organization (WTO): this possibility did not pass the test of the
country’s model, as was discovered in the process.
Bhutan’s New Development Paradigm (NDP) is committed
to the understanding of the relationships between the economic system and
nature as an instrument to attain human happiness[6] within the limits of
available matter and energy. This is what Herman Daly had already explained in
1973[7]. After three decades of
the adoption of the paradigm, Bhutan
offers already some visible results. Health and education are free for all the
Bhutanese, with 99% of primary-aged children now in school. Perhaps as proof of
the quality of the education offered young people in general – in a nation of
19 languages and dialects, with Dzongkha as the official idiom –
young people speak good English (characteristically, older Bhutanese do not
show the same ability). Life expectancy
has doubled in the space of two generations. There are no billboards in Bhutan
promoting unintelligent forms of consumption. Advertising junk food and
alcoholic beverages is forbidden, as well as the sale of cigarettes. People in
general are amiable, soft-spoken, helpful. Cars do not blow horns. Silence is a
common feature. And great extremes of income and wealth are not obvious – so
far as I could notice.
The country is on the road to
establish green accounts – national accounts considering all positive and
negative dimensions of economic activity. This system will make policy-making
much more informed than it can possibly be when narrow, myopic market measures
alone are employed. Bhutan is expecting also to be 100% organic in 2020 – the
first country in the world to attain this condition. Its Constitution approved
in 2008 requires that forests cover at least 60% of the national territory – an
area that presently represents, in reality, 80%, with 52% of the country’s
total area being destined to natural reserves[8].
The Ecological Economics frame
of reference
That
Bhutan employs Ecological Economics to give substance to its understanding of
the economic process and to propose a wholly new and bold development paradigm
is obvious from a contact with the literature that its government has produced
on the subject. However, the evidence becomes eloquent, without margin to any
doubt, when the text of the thoughtful statement made by the Bhutanese prime
minister, Jigmi Thinley, in Rio on June 19th 2012, at the closing session of
the ISEE 2012 Conference – at which I was present – is read[9]. It opens praising the
concession by ISEE of its top honor, the Kenneth E. Boulding Award, to William
Rees and Global Footprint Network President Mathis Wackernagel ― co-creators of the important tool
of the ecological footprint, and members of ISEE. Quoting the ISEE release on
the prize, Thinley remarks that the award is given to “outstanding individuals
who have contributed original and seminal approaches that have furthered our
understanding of the interfaces between the social, ecological, ethical,
economic and political dimensions of our world.” For Thinley, fully in
accordance with primordial ecological-economic thinking, the ecological
footprint “is certainly one of the most important and influential measurement
and communication tools of the century”. In terms of a rupture with the
GDP-based paradigm, this is unusual in the discourse of a head of government.
Even more so when he stresses the fact that he relies “on that information to
understand and communicate the devastating impact of current consumption
patterns on the world’s limited resource base, and to urge more sustainable
policies”.
The
prime minister went further in Rio, underlining that the work of ecological
economists should actually be the primary reference point for the Summit – the
Rio+20 – that was starting the day after his talk. For him, in front of the
planetary crisis and the unease provoked by a moment of threat to human
survival on the Earth as now[10], it is necessary to
understand that the economy is nothing more than an open subsystem of the
global ecosystem, thus submitted to the limits that nature imposes. This
certainly is what EE postulates, as the convincing demonstration made by
Georgescu-Roegen (1906-1994) in 1971 set up[11]. Thinley said more:
Indeed, I can think
of no field of study that has greater capability of persuading and cajoling
governments to act responsibly than your own, and that’s why I am so honoured
to be with you today. I would go so far as to say that we politicians can’t act
without you! Your work is literally the ground and credibility on which we need
to stand to make the economic case for environmental protection, to demonstrate
the inestimable value of our scarce resources, and to highlight the true
benefits and costs of economic activity
At the end of his statement, once more, Thinley
was peremptory: “it is clear that ecological economics is a core foundation of
the new global development paradigm that the world so urgently needs and that
my country is now actively promoting”.
This way, the model rejects without
any hesitation the conventional GDP-based paradigm and its proposal of endless
growth of the economic system. No doubt should be nurtured concerning Bhutan’s
position on this issue. Thinley again could not have employed more appropriate
terms to affirm his country’s perspective than those he chose in New York on
April 2nd 2012 at the meeting convened by Bhutan in the United Nations to
present the NDP. His words: “The GDP led development model that compels
boundless growth on a planet with limited resources no longer makes economic
sense. It is the cause of our irresponsible, immoral and self-destructive
actions”[12].
It is worth considering the
arguments Thinley mentioned to justify his unmerciful classification of the paradigm
of GDP worship. It is irresponsible,
according to him, “because we extract, produce, consume and waste ever more,
even as natural resources are rapidly depleting” – a situation that can be
grasped in Fig 1. The graph shows the movement from extraction to production to
discarding. That is, a hole is dug, on one side, and, after resources are used,
a scrap heap is accumulated, on the other. The hole and the heap, in some
cases, are eternal, irreversible, and do not stop growing. The system is immoral and unethical, in Thinley’s view, “because having consumed far beyond
our share of natural wealth, our reckless profligacy amid unconscionable
inequities comes at the cost of what belongs to generations unborn”. Finally,
the GDP led paradigm is self- destructive,
“because, aided by technology, we are bringing about the collapse of our
ecological life support systems”. Such has been precisely EE’s perspective
since its inception. It is what Georgescu-Roegen, the pioneer and inspirer of
the discipline, always talked about, The same is contained in the work of G-R’s
Ph.D student, my good friend Herman Daly, Martínez Alier, Malte Faber, Robert
Costanza, Cutler Cleveland, John Proops[13] – the list is big. No
matter, it is necessary to observe that some of my fellow members of ISEE give
importance, perhaps too much, to traditional economic growth.
Figure 1 – The extraction-production-discarding
model
When
expressing on an emphatic tone in his statement in Rio that he is indebted to
EE, Thinley does not mention G-R. But certainly he is supported by
Georgescu-Roegen and, of course, by Daly as well, as can be perceived in the
book he edited in 1980[14] (which elaborates his
previous book, Toward a Steady-State
Economy[15]).
In the introduction to the steady-state economy, Daly explains that “In the
largest sense, humanity’s ultimate economic problem is to use ultimate means
wisely in the service of the Ultimate End”[16]. He overcomes the
limitations of the standard economic model that defines economics as the
science of allocation of (intermediate[17]) scarce means among
(instrumental[18])
competing ends, bringing into consideration the dimension, neglected by GDP
worshippers, of ultimate ends (the meaning and enjoyment of life) and
fundamental means (matter and energy, the universe’s building blocks). Daly’s
model of the ends-means spectrum, with some adaptations I made, is exhibited in
Fig. 2.
Figure 2 –
Ends-means spectrum (Daly, 1980)
The top (small rectangle) of the
graph’s bigger rectangle is occupied by the Ultimate End: happiness, the
supreme good (St. Tomas Aquinas’s summum
bonum, G-R’s the enjoyment of life) as Daly explains[19]. It is that which is above everything, not
deriving its goodness from any instrumental relation to some higher end
(Heaven, the Tao, maybe, if one can conceive of). The smaller rectangle at the
bottom is the space of the most basic things, the foundation of the ecosystem:
the useful stuff of the world, low-entropy matter and energy. Along the bigger
rectangle, the intermediate categories of the spectrum represent a hierarchy of
both intermediate ends and means. Each one can be an end with respect to lower
categories and a means in relation to higher ones. All converge to the service
of the Ultimate End, and depend on the availability of low-entropy
matter-energy. Going up in the bigger rectangle we march toward the Ultimate
End; going down, toward the fundamental, ultimate means. The intermediate ends
are ranked in terms of the Ultimate End. Above fundamental means are
intermediate means (arrangements of matter and energy, physical stocks) which
can be thought of as the result of the throughput, a metabolic flow of matter
and energy that transforms basic stuff (low entropy) in useful elements (higher
entropy) – something Fig. 1 portrays.
On the right of the great rectangle
are listed the traditional disciplines of study that correspond to each stage
of the spectrum – engineering, a technical discipline, appears on the left of
the great rectangle. In this constellation, standard economics occupies a
central position. This enables us to realize that the intermediate place
economics occupies indicates that it does not deal with ultimates or absolutes,
only with those things in the middle range. The economy is shown as having
connections only with intermediate ends and means, a situation that has led to
the false supposition “that the middle-range pluralities, relativities, and
substitutabilities among competing ends and scarce means were representative of
the whole spectrum”[20]. In accordance with Daly,
absolute limits do not show up in the economists’ paradigm because absolutes
are found only in confrontation with the extreme poles of the spectrum.
Besides, economics does not inquiry into the nature of ends and means, thus not
caring to verify the limits of both the possible
(something that Physics explains) and the desirable (dealt with by Ethics, Religion, Metaphysics). No matter
then that for the growth economists, “continuous growth in intermediate means
(unconstrained by any scarcity of ultimate means) in order to satisfy ever more
intermediate ends (unsconstrained by any impositions from the Ultimate End)”
constitutes the rule[21]. “Infinite means plus
infinite ends equals growth forever”: a modern illusion that ends up violating
the limits both of the possible and the desirable.
Thermodynamics, happiness and
the enjoyment of life
By affirming that the economy is
subjected to the limits set up by nature, since it is nothing more than an open
subsystem of the global ecosystem (which, in turn, is thermodynamically
closed), the Bhutanese prime minister, in his Rio speech, echoed the thought of
both the father of Ecological Economics, G-R, and those who like me follow his
lead. Indeed, as G-R explains in a rigorous fashion, what standard economists
imagine is that the economic system is an isolated, self-contained and a-historical
process – a circular flow between production and consumption with no outlets
and no inlets. The elementary textbooks depict it this way, using a graph
baptized as “the circular flow of wealth” to represent the economic system[22]. Economics, says G-R,
gives no signs of acknowledging the role of natural resources in the economic
process. His conclusion:
Had economics
recognized the entropic nature of the economic process, it might have been able
to warn its co-workers for the betterment of mankind – the technological sciences
– that “bigger and better” washing machines, automobiles, and superjets must
lead to “bigger and better” pollution.[23]
In this sense, the NDP (GNH) model on the one
hand, and EE, on the other, converge in the same severe criticism of standard
economics. Such criticism is accentuated by G-R in terms of the fact that the
conventional model of economic theory ignores the Laws of Thermodynamics that
characterize all processes of energy transformation in the universe. Materially,
the economic process consists in essence of a transformation of low entropy
into high entropy, i.e., into waste: natural wealth eventually becomes degraded
energy-matter[24].
Therefore, the faster the economic process goes, the faster the scrap heap
accumulates[25].
G-R – who Martínez Alier classifies as the principal exponent of the ecological
critique of economics[26] –, however, remarks that
“it would be utterly absurd to think that the economic process exists only for
producing waste”. The irrefutable
conclusion would then be “that the true product of that process is an
immaterial flux, the enjoyment of life”[27] – happiness, for that
matter. Without introducing the concept of the enjoyment of life into our
“analytical armamentarium” – G-R’s expression – we are not in the economic
world. Life enjoyment, which does not have physical dimensions, is something
that can grow limitlessly – thus sustainably. It is here that G-R closes his
reasoning. Writes he: “I now wish to submit that everything that supports life
enjoyment directly or indirectly belongs to the category of economic value.
And, to recall, this category does not have a measure in the strict sense of
the term”[28].
It represents the difference between the economic process “and the entropic
march of the material environment”[29].
Georgescu-Roegen was originally a
mathematician with a doctorate in mathematical statistics. It is important to
have in mind that background in order to grasp the emphatic conclusion he
reaches about the impossibility of measurement of a qualitative concept such as
the enjoyment of life. For him, what he calls “the true ‘product’ of the
economic process” is not a material flow,
but a psychic flux – the enjoyment of
life by every member of the population – with the addendum that “the intensity
of this flux at an instant of time does not seem to be a measurable entity, not
even in the ordinal sense”[30]. Such a qualification is
equivalent to a refusal of the principle of maximization of the enjoyment of
life: there would always be the possibility to go beyond the last attained
tread. Perpetual growth of the enjoyment of life – because of the latter’s
immateriality – is not an oxymoron. A point that deserves to be stressed here
in relation to framing GNH within the landscape of EE relates to what G-R
coined as “arithmomania”: the complex notion of economic development reduced to
a number, the income per capita. The result is that “for the last two hundred
years we have bent all our efforts to enthrone a superstition as dangerous as
the animism of old: that of the Almighty Arithmomorphic Concept”[31]. No small sin.
On some specificities of the
Bhutanese paradigm
Understandably, there has been a
recent tendency in EE to emphasize the differences between the present
full-world global condition and the old – let us say 1900’s – empty-world
global reality: a planet with 7.1 billion people and a GDP of 72 trillion dollars
today against 1.5 billion inhabitants and 1.5-2.0 billion dollars of global
output in 1900. This intense contrast would be enough to justify the relevance
of the proposed EE worldview which takes into account the inflexible boundaries
laid down by nature, thus denying as a consequence the paradigm of standard
economics which ignores them outright. For the prevailing concept of
development, which puts continuous, limitless economic growth – a biophysical
impossibility in the first place – before anything else, should be strongly
challenged. In truth, it now makes more sense to reason about the economy in
terms of the spaceman economy of the cowboy-spaceman duality in the picturesque
suggestion of another great exponent of EE, Kenneth Boulding (1910-1993)[32]. The open, “cowboy
economy” of the past no longer makes sense. It has to be replaced by the closed,
“spaceman economy” in which “the earth has become a single spaceship, without
unlimited reservoirs of anything, either for extraction or for pollution, and
in which, therefore, man must find his place in a cyclical ecological system”[33].
What is at stake is the issue
concerning the scale of the economy that can be contained in the encompassing
ecosystem – something like calculating how many passengers can safely fly in an
A320 airplane: 200, 1,200? Certainly, it is not any number. Using the
full-world picture, Robert Costanza and collaborators wrote a precise report
for the UN in the running to the Rio+20 summit which they adapted to the Worldwatch
Institute’s State of the World 2013
report[34]. In it they explain the
reality of development within the frame of what they call “Economy-in-Society-in-Nature”.
A paper given in ISEE 2012, in Rio (“Human Behavior, Economic Institutions and
the Challenges of a Full World”), by a member of Costanza’s team, my friend Joshua
Farley, falls within the same coordinates
However, it does not seem that this
is what one finds in the origins of EE. G-R simply explained that the economy
is governed, like everything else in the physical environment, without
exception, by the Laws of Thermodynamics – period. Bhutan’s conception of its
paradigm fits this comprehension. About NDP, from what it contains, one is
bound to say that it is much more inspired by the full-world category, in spite
of the fact that the country’s real conditions place it better in an
empty-world configuration (it has, for instance, 19 inhabitants per sq km –
against 142 in China and 21 in Brazil). It is so empty that does not have a
single traffic light (something one normally finds in small Brazilian towns) –
and no traffic jams for that matter. Prime minister Thinley’s speech in Rio tends
to confirm the NDP’s adherence to the full-world situation:
I regularly use the
[Ecological] Footprint results in my own statements, and indeed rely on that
information to understand and communicate the devastating impact of current
consumption patterns on the world’s limited resource base and to urge more
sustainable policies. It is without question one of the most powerful ways to
put the responsibility for sustainability firmly on all our shoulders through
awareness of every resource we consume and every nuance of our behaviours and
lifestyles.
Such awareness of limits, à la G-R, is common to the whole statement. In it the Bhutanese
ruler reinforces the need to dismantle mindless consumerism which has depleted
resources, degraded ecosystem services, accelerated greenhouse gas emissions,
diminished biodiversity, and now threatens the survival of humans and other
species on the planet (an unbearable scrap heap). A ban in advertising to
children is proposed, as well as the elimination of perverse tax deductions by
businesses for advertising. The ecological tax reforms that EE has so strongly
proposed are considered as a means to penalize unsustainable behaviors, via the
taxation of pollution, carbon, and the depletion of natural capital. In other
words, as Daly has always advocated, a shift of the tax base from value added,
and on to that to which value is added, namely the throughput flow, which is to
be minimized[35].
G-R would endorse it. This is the primordial EE orthodoxy, which is independent
of empty- or full-world assumptions.
Bhutan’s
NDP thus is all about G-R’s vision. It is not the case as suggested by Zencey
that “There ought not to be any conflict between Ecological Economics and GNH”[36]. Or that an EE-NDP partnership is conceivable,
with GNH adopting EE, and vice versa, “the two [being] compatible
and the adoption of both together [being] not only possible but [making] for a
strong union” – in Zencey’s words. The question is that Ecological Economics
seems to have always been in the heart of Bhutan’s New Development Paradigm, an
intrinsic part of it. Consciously or not, the partnership has ever existed. It
is only becoming more declared now. Nevertheless – and this is to be noticed –,
the Kingdom of Bhutan, following the traditions of Buddhism that give shape to
it, offers in natural fashion a development paradigm that does not make any
effort to represent adherence to a westernized version of the ecological
critique of economics that EE elaborates. As a matter of fact, it has its specificities
– which are not banal.
On the
specificity of Buddhism, to begin with, it is to be recalled that Buddhism sees
the essence of
civilization not in a multiplication of wants but in the purification of human
character, as remembered by Schumacher (1911-1977)[37]. And Bhutan is officially
a Buddhist country, in accordance with the Kingdom’s Constitution (3rd article)of 2008
(other religions are admitted, too). Buddhism does not accept the fundamental
criterion of success of the modern economy – size of GDP or simply the total
quantity of final goods produced during a given period of time. A.N. Whitehead
aptly put the issue on a broader context in terms of the fact that to live we
attack the environment under “a three-fold urge: (i) to live, (ii) to live well,
(iii) to live better”[38]. We are not here to own
more and more gadgets – some plainly stupid – but to promote the art of life,
according to Whitehead. To live better, for him, we need reason – thus its
function. From Buddhism’s viewpoint, to single out GDP means to consider goods
as something more important than people and all other sentient beings. The
purpose of economics in a Buddhist context is then the systematic study “of how
to attain given ends with the minimum means”[39]. In other words, “since
consumption is simply a means to human well-being, the aim should be to obtain
the maximum of well-being with the minimum of consumption”[40]. Using Fig 2 as a
reference, it corresponds to attaining the Ultimate End with a minimum of
matter and energy, the fundamental means – or minimizing throughput. G-R’s
approach would put it in terms of the value of consumption making sense only if
it leads to the enjoyment of life[41]
All this, in essence, has to do with
happiness, i.e., with the basic meaning of the New Development Paradigm. In the
perspective of Ecological Economics, according to Costanza et al., “When GDP rises faster than life
satisfaction, efficiency declines. The goal [in EE] should be to minimize GDP,
subject to maintaining a high and sustainable quality of life”[42]. To Buddhism’s
non-western lens, the problem is not avoiding a fall in efficiency in itself,
but of promoting an intense spiritual awakening, assuring the purification of
human character. There is scope for much discussion here. But the subject
permits to think on the nature of the Ultimate End. After all, what is it
precisely? St. Thomas Aquinas (1225-1274) called it summum bonum – the supreme good. In Hinduism, to express it, the
concept of nirvana is formulated; the Zen-Buddhist correspondent to it is
satori. Maybe jokingly, maybe mixing joke with a sudden and profound
inspiration, the Fourth King of Bhutan came out with the expression Gross
National Happiness. He had already spoken of happiness as an objective instead
of GDP when he ascended the throne upon the death of his father in 1972. It was
in Mumbai, though, in 1979, when returning from a conference of non-aligned
countries in Havana, that he was asked, perhaps wickedly, by a reporter to
indicate the importance of Bhutan’s GDP. The answer of a then 24-year old
monarch was that “We do not believe in the gross national product because the
gross national happiness is more important”[43]. How many heads of state
– not to speak of the business sector, the media, the economics profession –
would easily propose a reversal or abandonment of the growth project implied in
GDP considerations? Or a reconsideration of growth in things that are not worth
pursuing – such as junk food, fizzy drinks, big automobiles, oil refineries?
Well,
G-R had already sustained that “it is as absurd to think of an individual who
prefers being less happy as to imagine a quadrangle with five sides”[44]. Happiness guides
humanity – so it seems. Even China’s new president Xi Jinping declared in
November 2012 that “To meet [our people’s] desire for a happy life is our
mission”[45].
Despite all that, as G-R remarks, conventional economics is not preoccupied
with human beings and “takes special pride in operating with a man-less
picture”[46].
It does not contain the qualitative dimension of the supreme good. Happiness is
an absent word in the standard economist’s lexicon. In his universe all meaning
rests upon what G-R calls “the colorless numerical concept of ‘utility’”[47]. For G-R and ecological economists
in general the principle that holds is the one proposed by Daly: “Biophysically
based conclusions about economic growth, or any other subject, should be in
accord with morally based conclusions”[48]. The argument is
strengthened by Schumacher who explains that “What is being called into
question...is not our technical
competence but our value system and the very aims and objects we are pursuing”[49]. To seek happiness, not a
misleading concept as GDP, is part of human nature[50]. St. Augustine (354-430)
who did not know GDP, of course, proposed: “Nulla
est homini causa philosophandi, nisi ut beatus sit” (“Man has no reason to
philosophize except with a view to happiness”). He was preoccupied with a
senseless philosophy – and science as a consequence. Aristotle (384 a.C.-322
a.C.) with eudaimonia, and authentic
Christian teachings (St. Thomas’s summum
bonum, e.g.), who were more specific as to humans, are proof that what is
sought in life by people is a notion “of wealth as a means to an end”[51]. Among indigenous and
traditional peoples it does not seem to be different[52]. EE has always marched
toward assuming this perspective – which is the essence of Bhutan’s, as well.
It thus makes sense entirely to
accept the ultimate goal that guides political and social change in Bhutan:
Gross National (or Domestic) Happiness. This is what asserted Bhutan’s Fourth
King when he commented that the creation of an enlightened society in which the happiness
and well-being of all people and
sentient beings is the ultimate purpose of governance.[53] Those words reveal the
strong dimension of spirituality in the paradigm that governs Bhutan. Such a
dimension shapes GNH and the related notion of development it contains. It is
as Karma Ura and collaborators have underlined: “If material growth undermines
the spiritual framework of society and its values of compassion and integrity,
then development has not occurred”[54]. The whole set of things coming out of Bhutan’s
paradigm, in sum, have to do with the fact that life’s purpose goes much beyond
the material – and even more beyond disgraceful forms of consumption and wealth
accumulation. Progress and all human choices, therefore, in line with NDP,
should be addressed through the language of spiritual wisdom, together with
ecological, social, and cultural perspectives. As Ura and collaborators put it
on a clear dimension: “The language of spiritual wisdom can…be understood as
the language of practical sanity”[55]. Happiness, an
enlightened society, all sentient beings (in the Buddhist view, all sentient
beings are incipient buddhas and must be treated as such), spiritual wisdom,
and other elements of Bhutan’s NDP render it a version of EE’s model that goes
over the biophysical component of the economy-in-society-in-nature edifice. In
short, it is truly Ecological Economics – and something more.
Olinda, Brazil, May 2013.
[1] The speech has never been
published. But, two former students of mine and I have original, old-fashioned typed
copies of it (in Portuguese).
[2] As a visiting scholar, I lived together
with G-R at VanderbiltUniversity
(Jan.-Mar. 1970), where I had a room next to his in the Department of
Economics. We talked almost on a daily basis. Once he invited my wife and I to
his house for dinner and intelligent conversation. In July 1973, I translated a
lecture he gave at the Development Council of Pernambuco State (Condepe), in
Recife, in the presence of its directors, Everardo Maciel and Olímpio Galvão.
[3]THINLEY, Jigmi Y. Statement
at the Closing Session of the 2012 Conference of the International Society for
Ecological Economics. Rio: Hotel Guanabara Palace, June 19th 2012. Available
in:
http://www.footprintnetwork.org/images/article_uploads/Bhutan_Prime_Minister_Congratulates.pdf.
[4]Available in:
http://www.sustainable.unimelb.edu.au/files/mssi/Bhutan_Proposal-International-Expert-Working-Group_2012-14.pdf.
My name appears on p. 34.
[5]Apud URA, Karma, ALKIRE, Sabina, Zangmo,
Tshoki, and WANGI, Karma.A Short Guide to Gross National Happiness
Index. Thimphu: The Centre for Bhutan
Studies, 2012, p.6. Available in: http://www.ophi.org.uk/wp-content/uploads/Ura-et-al-Bhutan-Happiness-Chapter.pdf.
[6]According
to Jigmi Thinley, cit., “the
happiness of which our King spoke has nothing to do with the common use of that
word to denote an ephemeral, passing mood ― happy today or unhappy tomorrow due
to some temporary external condition like praise or blame, gain or loss.
Rather, he referred to the deep, abiding happiness that comes from living life
in full harmony with the natural world, with our communities and fellow beings,
and with our culture and spiritual heritage ―, in short from feeling totally
connected with our world”.
[7]DALY, Herman. Introductory Essay. In DALY, Herman (ed.),
Toward a Steady-State Economy. San
Francisco, W. H. Freeman Co., 1973, p.8.
[8] Complete data on the reality of
Bhutan can be found on: http://www.bhutanstudies.org.bt/.
[10] On the suject, see EHRLICH, Paul
and Anne. Can a Collapse of Global
Civilization Be Avoided? Proc. R. Soc. B (Biological Sciences),2013,
280, 20122845. Available in:
rspb.royalsocietypublishing.org.
[11]GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. The Entropy Law and the Economic Process.
Cambridge, Mass., Harvard University Press, 1971.
[12] THINLEY, Jigmi Y. Opening
address at the High-Level Meeting on Wellbeing and Happiness: “Defining
a New Economic Paradigm”, UN
Head Quarters, New York, 2nd April, 2012.
Available in:http://www.cabinet.gov.bt/?p=737.
[13]See: G-R, cit.
DALY,
cit. MARTÍNEZ ALIER, Joan and
SCHLUEPMANN, Klaus, La Ecología y la
Economía. México: Fondo de Cultura Económica, 1991. FABER, Malte,
MANSTETTEN, Reiner and PROOPS, John. Ecological
Economics: Concepts and Methods. Cheltenham, UK, Elgar. COSTANZA, Robert
(ed.), Ecological Economics: The Science
and Management of Sustainability. New York, Columbia U. Press, 1991. CLEVELAND,
Cutler J. AND Ruth, Matthias. When, Where, and by How Much Do Biophysical Limits Constrain the Economic
Process?: A Survey of Nicholas Georgescu-Roegen’s Contribution to Ecological Economics.Ecological
Economics, Elsevier, v. 22(3), September 1997, p. 203-223. Also In CAVALCANTI,
Clóvis. (ed.), Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. São
Paulo, Cortez Editora, 1996, p. 131-164.
[14]DALY, Herman, Introduction to the Steady-State
Economy. In DALY, Herman (ed.), Economics,
Ecology, Ethics: Essays Toward a Steady-State Economy. New York and San
Francisco, W.H. Freeman and Company, 1980, p. 1-37.
[26] MARTÍNEZ ALIER, Joan. De la Economía Ecológica al Ecologismo
Popular. Barcelona,
Icaria Editorial, 1995, 3rd ed. (the 1st ed. is from 1992), p. 27.
[32]BOULDING, Kenneth. The
Economics of the Coming Spaceship Earth. In:
JARRETT, H. (ed.), Environmental Quality
in a Growing Economy. Baltimore,
Resources for the Future/Johns Hopkins University Press, 1966, pp. 3-14.
[34]COSTANZA, Robert, ALPEROVITZ,
Gar, DALY, Herman, FARLEY, Joshua, FRANCO, Carol, JACKSON, Tim, KUBISZEWSKI,
Ida, SCHOR, Juliet e VICTOR, Peter. Building a Sustainable and Desirable
Economy-in-Society-in-Nature. Worldwatch Institute, State of the World 2013. Is Sustainability Still Possible?.
Washington, D.C.: ch. 11, forthcoming.
[35] DALY, Herman, and FARLEY, Joshua. Ecological Economics: Principles and
Application. Washinton, D.C., Island Press, 2004, p. 145.
[36]ZENCEY, Eric. The Partnership
of GNH and Ecological Economics. Thimphu, Bhutan, Feb. 2nd 2013, communication to the members of Bhutan’s
International Expert Working Group.
[37]SCHUMACHER, E.F. Budhist
Economics. Resurgence, v. 1, n. 11,
jan.-fev. 1968. In DALY, Herman (ed.), Economics, Ecology, Ethics: Essays
Toward a Steady-State Economy. New York and San Francisco: W.H. Freeman
and Company, 1980, p. 140.
[38] WHITEHEAD, A.N. The Function of Reason. Princeton, Princeton
University Press, 1929, p. 5. Available in: http://archive.org/stream/functionofreason031865mbp#page/n7/mode/2up.
[49]SCHUMACHER, E.F. The Age of Plenty: A Christian View.
Pamphlet. Edinburgh, Saint Andrew Press, 1974. In DALY, Herman (ed.), Economics,
Ecology, Ethics: Essays Toward a Steady-State Economy. New York and San
Francisco: W.H. Freeman and Company, 1980, p. 131.
[50] The late Brazilian biologist Samuel
Murgel Branco (1930-2003) wrote about it in an excellent book (a pity it is
available only in Portuguese): BRANCO, Samuel Murgel. Ecossistêmica: Uma Visão Integrada dos
Problemas do Meio Ambiente. São Paulo, Edgar Blücher, 1989, p. 119. The book can be considered, in fact,
a relevant text of Ecological Economics, without any by the author to that end.
[51]SKIDELSKI, Robert and SKIDELSKI,
Edward. How Much is Enough? The Love of
Money, and the Case for the Good Life. London, Penguin Books, 2012, p. 12.
[52]CAVALCANTI, Clóvis. Economic
Thinking, Traditional Ecological Knowledge and Ethnoeconomics. Current Sociology, v. 50, n. 1, Jan.
2002, p. 39-55.
[53]URA, Karma. Gross National Happiness and Buddhism. Availabel
in http://www.kosei-shuppan.co.jp/english/text/mag/2007/07_101112_10.html
[54] URA, Karma, ALKIRE, Sabina, ZANGMO,
Tshoki, and WANGI, Karma.An Extensive Analysis of GNH Index. Thimphu:
The Centre for Bhutan Studies, 2012, p. 132.
Available in: http://www.grossnationalhappiness. com/wp-content/uploads/2012/10/An%20Extensive%20Analysis%20of%20GNH%20Index.pdf
Discurso de Clóvis Cavalcanti não ISEE conferencia - 16 de junho 19, 2012, Rio de Janeiro
Economia Ecológica e Rio + 20: Desafios e Contribuições para uma Economia Verde
Declaração na abertura do 2012 Reunião da Sociedade Internacional de Economia Ecológica (ISEE). Rio de Janeiro, 16 de junho de 2012
Entropia e carinho:
Uma Perspectiva Economia Ecológica de Sustentabilidade
Clóvis Cavalcanti
(Fundação Joaquim Nabuco, Recife, PE, Brasil)
Caros colegas e amigos:
É uma grande honra presidir esta sessão de abertura do ISEE 2012. Agradeço aos organizadores por me dar esta oportunidade rara. Na verdade, mais uma vez, tenho de lhes agradecer, agradecer Amélia Rodrigues, Paulo Mibieli, Peter May, e todos os membros da ECOECO, por graciosamente concedendo-me, em outubro passado, o título de Presidente Honorário do ECOECO. Como eu disse quando para minha surpresa eu sabia do louro, eu considero a sua decisão, antes de tudo, um sinal de afeto. E afeto, queridos colegas e amigos, parece-me a grande força, o cimento de Economia Ecológica (e de uma economia ecológica): carinho para nossos companheiros seres humanos, carinho para a beleza da natureza, amor pela vida. É por isso que nós desafiamos tão fortemente o conceito existente de desenvolvimento, que coloca o crescimento económico contínuo - uma impossibilidade biofísica, em primeiro lugar - antes de qualquer outra coisa. A contribuição inspiradora de Nicholas Georgescu-Roegen introduzir a lei da entropia na visão convencional do processo econômico tem mostrado de forma conclusiva que falar de crescimento infinito num planeta finito, para usar sua expressão, é "uma tautologia sem graça". Herman Daly, um dos pilares do ISEE - se não o seu símbolo - tem falado com sabedoria e com frequência sobre a impossibilidade de uma economia cada vez mais em uma mais ampla, dramaticamente-mudou o mundo. Claro, nós queremos o desenvolvimento. Mas o crescimento é outra coisa - uma fera que os seus adoradores deseja para camuflar com um corante verde. Como Ashok Khosla, um ex-diretor do PNUMA, declarou esta semana no Rio, "As pessoas da" economia marrom "são muito poderosos. São eles que financiar governos, que recebem votos, que gerenciam os partidos políticos, por isso não é fácil ignorá-los ". Esta "economia marrom" é a força que foi ultrapassagens e modificar a proposta economia verde original do PNUMA em 2010, cujos traços dirigiu uma necessidade básica para o desenvolvimento sustentável. Este é outro caso triste do lobo assumindo disfarce de Chapeuzinho Vermelho.
Devo Herman Daly minha descoberta de Economia Ecológica. Nós nos encontramos pela primeira vez em março de 1970, em Yale onde ele estava hospedado como um bolseiro de investigação. Eu fui lá para visitar James Tobin, que tinha sido meu professor. Alguns amigos teve a boa idéia de ter me ver Herman. Dez anos mais tarde ele leu um artigo de jornal que eu escrevi para o Jornal do Brasil , um importante jornal brasileiro do Rio (agora apenas online). Ele lidou com a lei da entropia e criticou o desenvolvimento. Herman me escreveu uma carta e enviou alguns de seus publicações. Eu já conhecia Georgescu, aqui no Rio, em julho de 1964, quando ele deu um par de palestras na Fundação Vargas, onde eu estava estudando, e apresentou sua abordagem termodinâmica à economia. No primeiro trimestre de 1970, eu era um professor visitante na Vanderbilt, onde Georgescu ensinado. Meu escritório estava ao lado dele. Isso me permitiu vê-lo muitas vezes. Uma vez ele me e minha esposa convidou para sua casa. Eu tinha um excelente tempo (ainda me lembro seu comentário de que Português parecia latim falado com um sotaque polaco). Com este pano de fundo, e ser-me por algum tempo já totalmente desconfortável com a teoria econômica tradicional, que era fácil de se tornar um economista ecológico. Mas em 1967, quando o meu amigo, o senador Cristovam Buarque foi meu aluno da microeconomia em programa de mestrado de economia em Recife, eu ainda reproduzido como um gravador de fita que eu tinha aprendido a partir de livros e palestras economia convencional. Isso mudou em julho de 1983, quando organizou uma mini-curso chamado "A Economia dos anos oitenta" na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Belém. Ambos Cristovam e Herman, além de meu bom amigo Dirceu Pessoa, que morreu em 1987 num acidente de avião estranho, foram convidados a partilhar comigo a responsabilidade de transmitir os princípios da economia com uma nova perspectiva. Amélia Rodrigues Enríquez, um brilhante ex-presidente da ECOECO, que está aqui presente, era um estudante na época em Belém, participou do mini-curso, e também trabalhou como um trabalhador voluntário para a conferência.
Sei que alguns de nossos colegas do ISEE dar importância, talvez demais, para o crescimento económico. No entanto, depois de ter a oportunidade de aprender alguma coisa com Georgescu-Roegen, depois de ler Kenneth Boulding (e participar com ele na oficina Wye Ilha do ISEE, em 1990), depois de ter lido e ouvido EF Schumacher, Daly, Joan Martínez Alier, Ignacy Sachs, Armando Mendes, José Eli da Veiga, e outros, depois de ter desfrutado da companhia em várias ocasiões (e ler as importantes contribuições) do grande economista brasileiro Celso Furtado, que também foi meu professor em Yale, estou plenamente convencido de Furtado de 1974 explicação do crescimento como um mito. O nosso carinho para a humanidade deve levar-nos a pensar na melhoria da condição humana. Esta é a tarefa que eu conceber de Economia Ecológica seguindo o conselho de Alfred North Whitehead que estamos aqui, em primeiro lugar, para viver bem e, por outro, para viver melhor. Nós aqui não são de possuir mais e mais dispositivos - algumas claramente estúpido. Quinhentos anos de civilização ocidental no Brasil mostra que a cobiça insaciável em face de a opulência vegetal que existiu aqui levou a que o historiador ambiental Warren Dean classificada como a entronização da entropia. Para evitar esse destino é por isso que precisamos de desenvolvimento ou uma prosperidade sustentável. Por uma questão de fato, precisamos simplesmente de desenvolvimento, pois não existe tal coisa como um desenvolvimento insustentável. Pois, se ele existisse, isso levaria - como uma ponte insustentável ou pescaria - a entrar em colapso.
Nós não queremos ver o nosso mundo em colapso. Nós amamos a vida. Queremos preservar a natureza para os nossos descendentes. Isso me leva de volta ao afeto como base da sustentabilidade e do ISEE. Herman Daly me enviou recentemente o texto instrutivo de uma palestra que Wendell Berry, o admirável poeta, ensaísta, romancista e agricultor (eu também possui uma fazenda), deu este ano no National Endowment for Humanities em Washington, DC. Nela, ele diz que "é no afeto que encontramos a possibilidade de um, amável, e conservando economia vizinhança". Isso, mais o fato de que o abuso de terra não pode iluminar a perspectiva humana e conduz ao invés para a destruição das comunidades, famílias, pequenas empresas, e assim por diante, impõem a necessidade de conservar "a riqueza ea saúde da natureza". O conceito de sustentabilidade requer, de acordo com Berry, que "o ciclo de fertilidade de nascimento, crescimento, maturidade, morte e decadência ... deve girar continuamente no lugar ... para que nada seja desperdiçado". Berry explica que "Para que isso aconteça na administração dos seres humanos, deve haver um ciclo cultural em harmonia com o ciclo de fertilidade". O ciclo cultural seria, então, o que se entende por sustentabilidade. Berry conclui: "O ciclo de fertilidade vira pela lei da natureza. O ciclo cultural gira em torno de afeto ".
Façamos o ISEE uma empresa humana ligar carinho. E não nos esqueçamos de que, como Cecília Meireles, um poeta brasileiro que eu gosto, escreveu: "Acima e abaixo da terra / um dia, o ouro deve funcionar a seco".
Agora tenho o prazer de dar a palavra a Yolanda Kakabadse, presidente do WWF, que conheci no Equador - embora ela certamente não me lembro - há alguns anos atrás.
MARTÍNEZ Alier, Joan. El ecologismo de los pobres. Conflictos Ambientales y lenguajes de valoración. Lima: Espiritrompa Ediciones, 2010, 4ª. ed., Aumentada não Peru, 416 pp.
Este Livro E nova edição em Espanhol fazer volume de Escrito e publicado originalmente em inglês - O ambientalismo dos pobres. Um estudo de conflitos ecológicos e valorização (Cheltenham, Reino Unido: Edward Elgar, 2002) -, JA Traduzido PARA O português POR Maurício Waldman ( O ecologismo dos Pobres Conflitos Ambientais e Linguagens de valoração. São Paulo: Editora Contexto., 2007). A Primeira edição em Espanhol E de 2002; um Presente Já constitui uma quarta. Ela se distingue das Anteriores POR ter SIDO Aumentada não Peru, com um Inclusão de Dois Capítulos, não há finais, that totalizam 60 Páginas. Em QUALQUÉR das versões, PODE-se assegurar Que a obra de J. Martinez Alier (JMA) contribui admiravelmente PARA O Entendimento dos Problemas Que se percebem NAS Relações Entre Natureza e sociedade. Ela possui o mérito, AINDA, DE TRATAR da Abordagem da Economia ecológica (EE) em conjunção com uma Perspectiva da Ecologia Política. ASSIM, tanto fala dos elos percebidos QUANDO SE consideră O Sistema Econômico hum subsistema Aberto do Ecossistema, axioma da EE, Quanto dos Problemas suscitados cabelo OSU da Natureza sem contexto das Estruturas de Poder existentes. Cada Uma com Linguagens de valoração Próprias, de that Resulta uma Diversidade de Conflitos socioambientais Que há no Mundo.
O livro se DETEM Diversas vezes, repetidamente MESMO, nenhum confronto doloroso Entre a Destruição Sistemática da Natureza, para quê se Ganhe Dinheiro, ea necessidade de SUA Conservação, para quê se POSSA Sobreviver. Chega um AFIRMAR Que NÃO DEVE haver Confusão Sobre o tema central de that Trata: "a Resistencia (e local, global), Expressa em Diferentes Linguagens, contra o abuso de Natureza ea Perda de vidas humanas" (p 20).. Nesse SENTIDO, Faz Lembrar OS versos de Cecília Meireles, no Romanceiro da Inconfidência
(de 1953): "que a sede de ouro E sem cura / e, subjugados POR ELA, / os Homens matam-se e morrem, / Mortos ficam, mas NÃO fartos ". A Idéia de um "ecologismo dos Pobres", em contraposição à Crença de Que defensor a Natureza SEJA um luxo dos ricos, "Um Novo Movimento monotemático sociais, o PROPRIO de sociedades prósperas, típico de Uma Época pós-materialista" (p. 358) , toma Corpo na Observação dos Conflitos é Sua Expressão Como Estratégia de Sobrevivência dos Pobres. Estes, Que, obviamente, Como TODO Ser vivo, Querem continuar 'Vivendo, tornam-se conscientes da necessidade de Conservar OS Recursos Naturais, um Exemplo da Água e da mata. Tal "Consciência, amiúde, E Difícil de Descobrir Porque NÃO utiliza a linguagem da ecologia Científica, mas Linguagens LOCAIS Como um dos DIREITOS territoriais Indígenas UO uma religiosa linguagem" (p. 358).
E dai that desponta o Tópico Frequente, não Livro, da incomensurabilidade, or comparabilidade fraca, de valores, atropelada toda hora, na vida moderna, Pela primazia fazer Econômico Sobre QUALQUÉR Outra Dimensão. JMA insiste nessa Questão, aludindo em SUA Análise uma Noções Como um de (in) Justiça, e racismo, ambiental, Conflitos Ecológicos distributivos, Intercâmbio ecologicamente desigual, Valores Não-Econômicos. ELE insiste em denunciar o monopolio da Dimensão Econômica Sobre as demais. Quanto a ISSO, Levanta Dúvidas de grande pertinencia. Por Exemplo: "Quem tem o Poder de impor uma linguagem Econômica Como linguagem suprema NUMA DISCUSSÃO ambiental? Quem tem a CAPACIDADE de simplificar a Complexidade, desqualificando Outros pontos de vista? "(P. 19).
Ora, OS Conflitos ecológicos distributivos manifestam o enfrentamento constante Que ocorre no metabolismo social, da Natureza Entre esta ultima ea Economia, com SEUS Altos e baixos, SUAS Novas Fronteiras, SUAS Urgencias e incertezas. E ai que a Razão de Ser da Economia ecológica Aparece na moldura do ambientalismo - ou de Vários ambientalismos. Na Verdade, Martínez Alier introduz no Capítulo I do Livro Três Correntes Que Percebe não Movimento Ecologista, com Muita Coisa em Comum Entre si, inclusive a ojeriza dos antiecologistas a todas ELAS. E indica that Seu Propósito E TRATAR do Crescimento Que o ambientalismo TEM exibido. A Primeira das Correntes identificadas, Que se respalda na biologia da Conservação, E a fazer "culto Ao silvestre", da Defesa e sacralidade da Natureza imaculada, do amor Às Florestas Primárias. Nela se inclui o biocentrismo da ecologia profunda. Ela Está na raiz da Noção de incomensurabilidade de valores, "um tema ecológica da Economia central" (p. 24). E se não Contém lema de John Muir (1838-1914): "A Terra PODE Sobreviver BEM SEM amigos, mas OS Humanos se quiserem Sobreviver, devem Aprender a ser amigos da Terra" (p 26)..
À Segunda corrente ecologista, Que Tem respaldo na Economia ambiental e ecologia industrial, JMA chama de "credo (evangelho ou) da ecoeficiência". Ela admite O Crescimento Econômico, mas NÃO um Custo QUALQUÉR, confiando não Sustentável Desenvolvimento, nenhuma USO Prudente dos Recursos, nenhuma Controle da Contaminação, na Modernização ecológica. Sua Preocupação e Com OS Impactos Ambientais e Riscos Para a Saúde das Atividades Econômicas. Dai zagueiro iniciatīvas Que promovam a Eficiência Econômica Como OS Impostos verdes, Preços corretos, internalização das externalidades, Tecnologias Limpas, valoração da Natureza. Finalmente, a Terceira corrente de ativismo ambiental, that desafiaria As Duas Anteriores, seria, sem entendre de JMA, o "ecologismo dos Pobres". Ela PODE Ser Chamada also de ecologismo OU popular, Como E conhecida Nos Estados Unidos, de Movimento da Justiça Ambiental (p. 33).
Sobre a Terceira Tendência do ambientalismo, o "ecologismo dos Pobres", Que se Ampara na Política ecologia, justifica ea, E Que versa O Livro de JMA. Ela Diz Respeito A Assuntos Como o fazer Avanço da Fronteira do petróleo e do gás, da Fronteira do Alumínio, do Cobre, da palma, do camarão, do Ouro, da transgênica soja na Direção de Novos Territórios. "ISSO cria Impactos Que Não São resolvidos POR Políticas Econômicas OU Mudanças de Tecnologia e, portanto, recaem desproporcionalmente Sobre Alguns grupos Sociais that MUITAS vezes protestam e resistem (embora Tais grupos NÃO costumem se denominar de Ecologistas)" (p. 34). O Eixo da Terceira corrente Não Tem nada a ver com Uma reverencia sagrada Central a Natureza. ELE foca Interesse nenhum material significado do Meio Ambiente, "como fonte e Condição PARA O sustento; NÃO tanto Uma Preocupação Pelos DIREITOS das demais Espécies e Gerações Futuras humanas, e sim Pelos Humanos Pobres de hoje "(p. 34). A ética da Tendência, portanto, clama POR Justiça e social, ambiental ágora, Entre OS Humanos. Um Movimento that um Ilustra E a Via Campesina. Como Denúncias de biopirataria (apropriação do Conhecimento tradicional de Povos Indígenas) se incluem no ambientalismo dos Pobres, Cujo Crescimento no Mundo se desen um serios Conflitos ecológicos distributivos Frequentes (Caso, em 2011, de Belo Monte, no Brasil, e da estrada Beni- Cochabamba, na Bolívia, Por Exemplo).
O Capítulo II versa Sobre o SENTIDO e alcance da EE. Apresenta Suas origens, associando-como hum enfrentamento sem e Remédio em Evolução "entre Expansão Econômica e Conservação do Meio Ambiente" (p. 40). Fala dos condicionantes Físicos fazer Econômico Processo, da Economia Como hum subsistema fazer Ecossistema global, finito, e da necessidade de Serem considerados also Aspectos Históricos na Economia. Importante E a Análise que Faz das disputas Sobre Sistemas de valoração e Aspectos distributivos da Produção. Sem tampa. III, Sobre índices de (in) sustentabilidade e neomaltusianismo, ênfase E dada à Medida, elaborada Pela biologia, da apropriação humana da Produção Primária líquida. Tambem à pegada ecológica. Discute-se aí uma Questão da desmaterialização (Não OU) do consumo, da taxa de desconto temporal da CAPACIDADE de Suporte. O nascimento da ecologia Política e examinado sem tampa. IV, that comeca afirmando Que a Economia NÃO Emprega Hoje Menos Energia que no Passado, NEM ESTÁ se desmaterializando. Vários Casos de Conflitos Ambientais e Economia de rapina São examinados, um Exemplo dos suscitados Pela Contaminação da Atividade de Mineração não Peru e na Andaluzia. JMA aproveita Para delimitar o campo de Atuação da Ecologia Política e, base com em Formas de Propriedade e Gestão de Recursos, parágrafo desfazer a tese da "Tragédia dos Comuns", de Garrett Hardin (1915-2003).
Examinando Casos Concretos de ecologismo dos Pobres, Capítulos OS V e VI do Livro abordam Situações de Conflitos Ambientais Como Expressão de Conflitos de valoração. A predatória Exploração do Camarão, mostrada sem tampa. V, permite Que se fale de Uma Tragédia dos fechamentos ( gabinetes , em inglês), Bem distinta da Tragédia dos Comuns. Casos Como o fazer petróleo do Delta do Níger e SEUS mártires, do Movimento Chipko (Índia), dos seringueiros de Chico Mendes, da biopirataria e Outros fazem parte do Valioso material de empírico contido sem tampa. VI. Valores díspares em confronto São aí apreciados, concluindo-se com uma pergunta: "Como Calcular como indenizações a Pagar em Dólares Pelos Danos produzidos" Diante da Inexistência de Uma Unidade Comum de Medida confiavel parágrafo Solução de tal impasse, Uma SAÍDA seria uma Técnica multi-Critério de avaliação (p. 200).
cap O. VII apresenta Conflitos Urbanos, Relacionados especialmente OS Ao Planejamento das Cidades e Ao Trânsito. Procura demonstrar that como Cidades Não São ambientalmente Sustentáveis (ELAS se valeriam da pegada ecológica Para Escapar à insustentabilidade). ASSIM (. P 209), em Los Angeles, parágrafo OS 3,65 gigajoules POR ano do consumo endossomático Necessário de uma pessoa, correspondem 40 gigajoules, Approximatif, de transporte Pessoal - SEJA OU, Quase 11 vezes Mais. Uma Solução Para a insustentabilidade inerente da Cidade E O Que MUITAS delas fazem: USAR Espaço ambiental alheio OU Jogar ESSE ônus Pará guetos Internos periferias OU Pobres (p 216).. Contribuem, Assim, parágrafo Reforço da Distribuição ecologicamente iníqua. Essa MESMA Tecla reaparece sem tampa. VIII, that ESTUDA OS Movimentos de Justiça Ambiental Nos EUA e África do Sul. Países sas, Impactos OS deletérios em áreas Onde Vivem Pobres tendem a Ser Muito MAIORES fazer that NAS ocupadas Pelos ricos. Acrescenta AINDA JMA: "A Prática de Exportar dejetos Tóxicos Pará Outros Países TEM SIDO descrita Como injustiça ambiental OU racismo ambiental em escala global" (p 236).. No Brasil, aventou-se há 30 ano a possibilidade de o lixo de nuclear Angra Ser armazenado no Nordeste. racismo Puro.
O papel do Estado e Outros Atores (Entre OS Quais, o IPCC) nºs Conflitos ecológicos, E considerado sem tampa. IX. Martínez Alier menciona Ai que, nos Estados do Sul, com freqüência, continua-se "crendo na velha Doutrina do Crescimento Económico um Custo QUALQUÉR" (p. 253). O Capítulo also dedica Atenção AOS " planteamientos " feministas. E adota uma posição de that o Meio Ambiente SEJA UM Direito humano. No cap. X, intitulado "A Dívida Ecológica", Examina-se o passivo causado Ao Meio Ambiente cabelo Intercâmbio ecologicamente desigual do Comércio Entre Países. A ótica da EE conduz o raciocínio, LEVANDO A Crítica Uma postura do livre-cambismo. E levantada A Questão fazer o dumping ecológico, Quando a venda de Bens E Feita com Preços that NÃO incluem Compensação Pelas externalidades negativas OU esgotamentos de capital natural.
O empolgante tema das Relações Entre a Ecologia Política ea Economia ecológica constitui um Matéria fazer cap. XI. Sem tampa. XII, JMA Dá Um fecho à Terceira edição de SUA obra. Faz aí hum Balanço de SUAS Idéias Centrais. Comeca com Elementos da EE, Exibindo Que, Quando um Cresce Economia, utiliza necessariamente Mais Recursos Naturais (Aceleração do Crescimento = Aceleração da Destruição). E lança Mais Resíduos na Natureza. E, AINDA NÃO that Cresça, vai necessitar de Mais provimento de petróleo, gás, carvão, Simplesmente Porque a Energia NÃO E reciclável. Nesse Processo, o metabolismo das Sociedades ricas SO SE Sustenta Mediante a Extração de Preços Baratos de Recursos das Pobres. ESTA AI a Razão de persistirem OS Conflitos ecológicos e de se Lutar Pela Justiça Ambiental. O ASSUNTO reaparece no Balanço do ecologismo dos Pobres, Vinte Anos Depois, Tópico do Capítulo final (o XIII) Deste Livro Extraordinário. OBRIGATÓRIA Leitura ..
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Prof. David Barkin e prof. Clóvis Cavalcanti não
1º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado. 2012.
Foto: Isabla Kassow / Centro Celso Furtado
O professor Clóvis Cavalcanti, socio do Centro Celso Furtado, foi eleito presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica (ISEE - www.isecoeco.org ). Concorreu com David Barkin, faça México, Que em 2012 Participou de SUA mesa sem Congresso Internacional do Centro Celso Furtado.
Leia a carta da ISEE Sobre a eleição de Clóvis Cavalcanti.
"Queridos colegas,
Obrigado por permitir que seus nomes a apresentar para a eleição ISEE. Os resultados foram muito próximas, particularmente para o presidente eleito, com apenas um voto entre Clóvis Cavalcanti e David Barkin. No entanto, a história e o ISEE estatuto social nos dizem que um voto é decisivo (por exemplo, 1645: 1 voto deu o controle da Inglaterra para Oliver Cromwell ...) e agora podemos anunciar os candidatos aprovados como segue:
Esperamos muito que os candidatos que não prevaleceu desta vez permanecerá envolvido e talvez vai concordar em ser cooptados nas várias comissões - há muito a ser feito, e o seu envolvimento será muito apreciada.
Para
Sociedade Internacional de Economia Ecológica (ISEE) 2016 Conference
Minha Aproximação da Economia ecológica começou em julho de 1964, when Ouvi o prof. Nicholas Georgescu-Roegen Falando na Fundação Getúlio Vargas (Rio). Eu Fazia Ai pós-graduação UMA de economia. Georgescu explicou o papel das leis da termodinâmica (e, obviamente, da entropia) No processo Econômico. Entre janeiro e março de 1970, professor fui visitante não Departamento de Economia da Universidade de Vanderbilt. Minha sala ( escritório ) era Vizinha à de Georgescu. Eu o via Diariamente. Conversávamos nessas ocasiões. Um dia, um Convite Seu, fui Jantar em Sua Casa.
O Que Mais me Marcou Nesse Período, porem, foi uma Leitura de Seu Livro Analytical Economics. Questões e problemas (Cambridge, EUA: Harvard University Press, 1967), em Cujo Prefácio Paul Samuelson, colega de Georgescu em Harvard, classifi-o Como "economista dos Economistas". A Natureza NÃO estava Sendo Leva em consideração na Equação do Desenvolvimento. Perceber ISSO e ler Georgescu-Roegen Só aguçou Minha Curiosidade em relaçao a examinar a Economia na ótica da ecologia. Coincidiu Que, nos Meus meses de Vanderbilt, li hum Livro muito bom de Erich Fromm: A Arte de Amar (Nova York: HarperCollins Publishers, 1956). A Leitura me Levou A pensar no Conteúdo da Reflexão de Fromm, OU SEJA, se o amor é Uma arte, O Que Exige Conhecimento e esforço, OU Uma sensação Agradável, cuja Experiência e Um lance de sorte, Alguma Coisa em Que se cai se a Ajuda fortuna. O livro Mostra Que amar E UMA arte. Amar a Natureza E UMA arte, portanto, impondo o Estudo da Natureza.
Escrevi Artigos NAS Décadas de 1970 e 1980, nenhum Jornal do Brasil , do Rio, ENTÃO o Mais Importante do país. ELES ofereciam Uma Visão Crítica da Teoria Econômica e do Desenvolvimento. Falei num Deles na Lei da Entropia em relaçao Ao Crescimento Econômico. Herman Daly o leu. Escreveu-me e Mandou Trabalhos SEUS. Ficamos em Contato from ENTÃO (eu encontrei Herman, Pela Primeira Vez, em março de 1970, em Yale, era ELE Onde hum
companheiro visitante ). Em 1983, organizei hum Curso Durante a Reunião Anual da SBPC em Belém do Pará, Chamado, título Melhor POR falta de, de "A Economia dos Anos 80". Para Ele, convidei Como Expositores, Herman, e Dois Economistas dissidentes: Cristovam Buarque e Dirceu Pessoa (1937-1987), foi hum Sucesso. Um compareceram ELE 50 Alunos, Entre OS Quais Amélia Rodrigues Henríquez, that estudava Economia e se transformou em economista ecológica, Chegando a presidente da ECOECO (2010-2013)
Em maio de 1990, o Convidado Pelos organizadores, participei Como palestrante do I Encontro da Sociedade Internacional de Economia Ecológica (ISEE), em Washington, DC (EUA). Em SEGUIDA à Reunião de Washington (maio-jun., 1990), efetuou-se hum oficina
em Wye Island (Maryland), congregando 25 PESSOAS (Kenneth Boulding, Herman Daly, Joan Martínez Alier, Richard NØRGAARD, John Proops, Garrett Hardin, Bob Costanza, Enzo Tiezzi, Silvio Funtowicz, Entre enguias). (Eds.) Tive a honra de Participar do Seminário, faça qua resultou o Livro de Costanza e Joyce Bartolomeu Economia Ecológica: a Ciência e Managemente de Sustentabilidade , fazer coautor sou qual. Nos Anos 90, colaborei na Instituição da ECOECO e da ANPPAS. Organizei Dois Seminários that were Básicos Nesse Processo. Em 1994, nenhum Engenho Massangana, com o título "Economia da Sustentabilidade". A ELE estiveram PRESENTES Peter May, Darrell Posey (1947-2001), Frank Jöst (do grupo de Reiner Manstetten), Ronaldo Seroa da Motta, Eduardo Viola, Paulo Freire Vieira (Ligado a Ignacy Sachs), etc. O Outro Encontro foi em Olinda (abril de 1996), Com Daly, Martínez Alier, Norgaard, Cutler Cleveland, Robert Goodland, Salah El Serafy, Peter May, Posey, Karl-Erik Eriksson e Mais gente. De Ambos OS eventos resultaram Livros. O Segundo foi Traduzido Para o inglês: O Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas: Edifício de Sustentabilidade no Brasil (Cheltenham: Elgar, 1997).
Participei de Todos os Encontros da ISEE, EXCETO os de Montreal (2004) e Nairobi (2008). De Todos os da ECOECO, Menos o de Belém do Pará (1997). De Todos os da ANPPAS. Tambem me envolvi na Rede Ibero-Americana de Economia Ecológica (Redibec). Meu Desejo foi sempre o de contestar a Economia convencional Que aprendi inclusive com James Tobin, em Yale. Nisso, sigo O Que Georgescu deixou Como legado. Entendo Que a Economia Ecológica SEJA uma Visão ecológica da Economia; NÃO E, portanto, um ramo da Economia. A Economia Significa uma Visão Econômica da Economia. E a Economia ambiental e A Visão Econômica do Meio Ambiente. A Proposito, O Primeiro Curso de economia ambiental no Brasil foi dado por Mim no Segundo semestre de 1975, na Graduação de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, Como Matéria Optativa.
O Que Eu gostaria de Fazer na Condição de presidente eleito de e contribuir da forma Melhor Possível para quê um ISEE efetivamente represente Uma Força Para se introduzir nova forma de ver o Mundo Nenhuma Âmbito da Ciência com Respeito Às Relações Entre Economia e Natureza. Minha Perspectiva E exatamente uma MESMA de Herman Daly, Joan Martínez Alier, Nicholas Georgescu-Roegen. Julgo Que se DEVE PROMOVER Uma Ciência comprometida com o Bem-Estar Humano, com a busca da felicidade. A ISEE TEM Tudo parágrafo Realizar Esse papel, na Linha do that Daly propõe com Respeito à economia de estado estacionário . Em sintonia also com um RECENTE encíclica do Papa Francisco Laudato Si ' e com uma Experiência de 40 ano da filosofia da Felicidade Nacional Bruta, do Butão.
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ISEE President Elect
Candidacy: Statement
Clóvis Cavalcanti
My approach of ecological
economics began in July 1964, when I heard Nicholas Georgescu-Roegen speaking
at the Getúlio Vargas Foundation (in Rio). I was doing there a graduate program
in economics. Georgescu explained the role of the laws of thermodynamics (and
obviously, entropy) in the economic process. Between January and March 1970, I
was a visiting professor in the Department of Economics at the University of
Vanderbilt, where Georgescu taught. My office was beside his. I saw him daily.
We talked on those occasions. One day, at his invitation, I went to dinner at
his house.
What most impressed me during this period, however, was reading his book Analytical Economics. Issues and Problems (Cambridge,
USA: Harvard University Press, 1967), in whose preface Paul Samuelson,
Georgescu’s colleague at Harvard, classifies him as an “economist's economist.”
Nature was not being taken into account in the work of the conventional
economist. To realize this and read Georgescu-Roegen only whetted my curiosity
about examining the economy from the viewpoint of ecology. It coincided that in
my months of Vanderbilt, I read a very good book by Erich Fromm, The Art of Loving (New York:
HarperCollins Publishers, 1956). The reading led me to think about the content
of the reflection of Fromm, that is, if love is an art, which requires
knowledge and effort, or a pleasant sensation, whose experience is a fluke,
something that falls to fortune help. The book shows that love is an art. To love
nature is thus an art, therefore, imposing the study of nature itself.
In the 1970s and 1980s, as a regular contributor I wrote articles in the Jornal do Brasil newspaper, of Rio, then
the most important in the country. They offered a critical view of economic
theory and development. In one of them I spoke about the Entropy Law in
relation to economic growth. Herman Daly read it. He then wrote to me and sent some
of his works. We stayed in touch ever since (I met Herman for the first time in
March 1970, at Yale, where he was a visiting fellow). In 1983, I organized a
course at the annual meeting of SBPC (the Brazilian Society for the Advancement
of Science) in Belém (state of Pará), called, for lack of a better title, ‘The
Economics of the 80s”. To teach it with me, I invited as lecturers, Herman, and
two dissident economists: my former student Cristovam Buarque (a Brazilian
senator at present, and former minister of education and rector of the
University of Brasília) and Dirceu Pessoa (1937-1987), with whom I wrote a book
in the 1960s. It was a success, attended by about 50 students, including Amélia
Rodrigues Henríquez, who then studied economics and later turned into an ecological
economist, even becoming president of the Brazilian Society for Ecological
Economics (ECOECO) in 2010-2013.
In May 1990, invited by the organizers, I participated as a speaker in the
First Meeting of the International Society for Ecological Economics (ISEE) in
Washington, DC (USA). Following the Washington meeting, a workshop took place
at Wye Island (Maryland), bringing together around 25 people (Kenneth Boulding,
Herman Daly, Joan Martínez Alier, Richard Norgaard, John Proops, Garrett
Hardin, Bob Costanza, Enzo Tiezzi, Silvio Funtowicz, among them). I was honored
to attend the seminar, which resulted in the book by Costanza and Joyce
Bartholomew (eds.) Ecological Economics:
the Science and Management of Sustainability, of which I am a co-author. In
the 90s, I collaborated in the establishment of ECOECO and ANPPAS (Brazil’s
National Association for Research and Graduate Studies on the Environment and
Society). I organized two seminars that were basic in this process. The first
one, in August 1994, at Engenho Massangana (state of Pernambuco), entitled “The
Economics of Sustainability”. It was attended by Peter May, Darrell Posey
(1947-2001), Frank Jöst (from Reiner Manstetten’s group), Steve Viederman,
Ronaldo Serôa da Motta, Eduardo Viola, Paulo Freire Vieira (a student of Ignacy
Sachs), and other people. The other meeting occurred in Olinda (Pernambuco) in April
1996, with Daly, Martínez Alier, Norgaard, Cutler Cleveland, Robert Goodland,
Salah El Serafy, Peter May, Posey, Karl-Erik Eriksson and more people. Two books,
which I edited, resulted from these events. The second one was translated into
English: The Environment, Sustainable
Development and Public Policy: Building Sustainability in Brazil
(Cheltenham: Elgar, 1997).
I attended all the biennial meetings of ISEE, except those of Montreal (2004)
and Nairobi (2008). Of all ECOECO congresses, I missed the third one, of Belém (Pará)
in 1997. As to ANPPAS’s conferences, I attended all of them. Also I got
involved in the Ibero-American Network of Ecological Economics (Redibec). My
desire has always been to challenge the conventional economics I learned at the
university, with teachers that include the Nobel laureate James Tobin at Yale.
In this, I follow what Georgescu indicates. I understand that Ecological
Economics is the ecological view of the economy; it is therefore not a branch
of economics. Economics means the economic view of the economy. And environmental
economics is the economic vision of the environment. By the way, the first
course of environmental economics in Brazil was given by me in the second half
of 1975 at the undergraduate level in the Faculty of Economics of the Federal
University of Pernambuco, as an elective discipline. At that time I was in the
transition from being an economist to becoming an ecological economist.
What I would like to do as
President Elect of ISEE is to contribute in the best possible way for ISEE to
effectively represent a force to introduce a new way of seeing the world within
the scientific field with respect to the relations between the economy and
nature. My perspective is exactly the same of Herman Daly, Joan Martínez Alier,
Nicholas Georgescu Roegen. I think we should promote a science committed to
human well-being, to the pursuit of happiness – the enjoyment of life, in
Georgescu’s words. ISEE has everything to fulfill that role, in line with whatDaly proposes with respect to
the steady-state economy; in line also with Pope Francis’s recent encyclical Laudato Si’. And the forty-year
experience of Bhutan’s Gross National Happiness philosophy.
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Publicado da REVISTA ESTUDOS AVANÇADOS 24(68) 2010
Concepções da economia ecológica: suas relações com a
economia dominante e a economia ambiental
O trabalho aborda as relações natureza-sociedade com o propósito de
ampliar o leque das teorias sociambientais disponíveis. Faz rápida revisão e
avaliação crítica do pensamento econômico tradicional diante da dimensão
ambiental do processo econômico. Mostra o esforço de se incorporar o meio
ambiente ao modelo econômico e trata da atividade econômica sob a restrição
ambiental. Introduz a perspectiva da economia ecológica e sua abordagem
transdisciplinar, explorando implicações da visão integradora dela decorrente.
Conclui com uma apreciação de tendências no pensamento econômico-ecológico
lembrando nomes que as representam, com ênfase em Nicholas Georgescu-Roegen.
Palavras-chave: economia, economia ambiental, economia
ecológica, termodinâmica, desenvolvimento sustentável.
Abstract. The paper deals with nature-society relationships
with a view to enlarge the scope of available socio-environmental theories. It
makes a review and critical evaluation of traditional economic thought in front
of the environmental dimension of the economic process. It shows the effort to
incorporate the environment into the economic model and explores the perspective
of the economy under environmental restrictions. It introduces the notion of
ecological economics and its transdisciplinary approach, examining some
implications of its integrating view. It closes with an appreciation of
tendencies in economic-ecological thinking, suggesting some names that
represent them, with an emphasis on Nicholas Georgescu-Roegen.
O sentido deste trabalho é oferecer algumas considerações para reflexão
sobre as relações natureza-sociedade, com o propósito de aumentar o leque das
teorias disponíveis para discussões sociambientais no Brasil e no mundo Nesse
sentido, faz tanto uma rápida revisão quanto avaliação crítica do
posicionamento do pensamento econômico tradicional diante da dimensão ambiental
do processo econômico (tarefa de suas seções 2 e 3, respectivamente). O esforço
de incorporar o meio ambiente ao modelo econômico como apêndice deste último é
objeto da seção 4, enquanto a 5 trata do condicionamento ambiental da atividade
econômica, introduzindo a perspectiva da chamada economia ecológica, cuja abordagem
transdisciplinar é objeto da seção 6. A seção 7 explora algumas implicações da
visão integradora da economia ecológica. O trabalho se encerra com uma
apreciação de tendências no pensamento ecológico e econômico-ecológico. Nomes
importantes ligados aos temas tratados são oferecidos para ilustrar as diversas
tendências, com ênfase para a contribuição de Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994).
2
Visão econômica da economia
O destacado
economista austríaco, Prêmio Nobel de Economia de 1974, Frederick von Hayek
(1899-1992), defendia na revista da London School of Economics, Economica,
no início dos anos 1940, que nem mercadorias nem dinheiro, nem mesmo alimentos,
podem ser definidos por suas qualidades físicas, e sim apenas em termos das
opiniões que os agentes econômicos tenham a seu respeito (Martínez Alier &
Schlüpmann, 1991, 182). Longe de constituir uma perspectiva isolada, essa é a
visão dominante entre os economistas convencionais. A economia-ciência
tradicional, com efeito, não considera quaisquer conexões que possam existir
entre o sistema ecológico e as atividades de produzir e consumir que
representam o cerne de qualquer sistema econômico (economia-atividade). O
modelo econômico típico não contempla a moldura ou restrições ambientais. Cuida
de focalizar tão-só fluxos e variáveis do domínio econômico, conforme indica a Fig.
1, encontrada em qualquer livro de introdução à economia (ver, por exemplo,
Samuelson, 1967). No modelo (Fig. 1) apresentam-se fluxos monetários que
circulam, em laço fechado, entre famílias e empresas, fazendo girar apenas
valor de troca. Nada mais do que isso. Dinheiro vai e vem entre produtores
(empresas) e consumidores (famílias). A natureza, aí, é o que ficou conhecido
como uma “externalidade”.
Figura 1 - A economia-atividade
como sistema isolado (visão econômica da economia)
Nesse enfoque
(que denomino de visão econômica da
economia), o sistema econômico não encontra limites onde esbarrar. Ele pode
tudo. É auto-suficiente. Sua expansão não envolve custos de oportunidade. Ou
seja, não há trocas ou desgastes decorrentes de mais economia que precise
destruir recursos, seja para extração, seja para despejo do lixo em que
irremediavelmente termina o processo econômico. A economia ortodoxa trata
impactos ambientais, se porventura deles se ocupa, como fenômenos externos ao
sistema econômico, vistos como falhas de mercado. Para ela, as externalidades
podem, com métodos adequados, ser internalizadas no sistema de preços: uma
forma, supõe, de corrigir as falhas de mercado.
Em que
realidade o esquema da Figura 1 pode se sustentar? Vale aqui lembrar o que diz o
matemático e filósofo Alfred North Whitehead (1861-1947), em seu livro A Função da Razão (1985, 5). São suas palavras: “As
formas mais elevadas de vida estão ativamente empenhadas em modificar o seu
meio ambiente. No caso da espécie humana esse ataque efetivo ao meio ambiente é
o fato mais notável de sua existência”. Tal ataque se desdobra em três etapas:
(i) viver (garantir nossa
sobrevivência – “obrigação” de todo organismo vivo); (ii) viver bem(dispor do
melhor ambiente possível; ninguém sobrevive no próprio lixo); e (iii) viver melhor(conquistar
novos patamares de qualidade de vida, um fenômeno cultural; aprimorar-se;
progredir, prosperar). Cabe aqui então o fecho de Whitehead (1985, 5): “A
função primordial da razão é
direcionar o ataque ao meio ambiente”. Com o complemento de que “A função da
razão é promover a arte da vida” (Whitehead, 1985, 3). Quer dizer: atacar o
meio ambiente é algo inevitável. Não se vive sem lançar mão dele. A questão é
como fazê-lo de forma inteligente, com uso da razão e o propósito de se viver
melhor. Não há como admitir que se queira tratar de coisas físicas, de
artefatos que juntam matéria e energia, sem considerar as implicações que daí
decorrem em termos do meio ambiente.
3
Percepção crítica do modelo econômico convencional
Sobre isso há
uma longa tradição do pensamento científico visando buscar argumentos para se encarar
o reducionismo da ciência dos economistas. Martínez Alier (Martínez Alier &
Schlüpmann, 1991, 9) organizou uma lista bastante diversa de cientistas nessa
tradição, e de diferentes campos do saber, a qual inclui Fred Cottrel (1877-1948,
físico-químico e inventor), o
casal Anne (demógrafa-ecóloga) e Paul Ehrlich (entomólogo) – professores da
Universidade de Stanford –, Herman Daly (economista ecológico, professor da
Universidade de Maryland), Barry Commoner (biólogo, professor da Universidade
de Washington), os irmãos Howard (1924-2002, ecólogo
notável por seus estudos pioneiros sobre fluxos de energia nos ecossistemas) e Eugene Odum (1913-2002, zóologo e ecólogo), Gerald Leach (1934-2005, jornalista científico), David Pimentel
(entomólogo, professor da Universidade de Cornell), Ivan Illich (1926-2002, padre,
filósofo e crítico social), Kenneth Watt (ecólogo, professor da Universidade da
California-Davis), René Passet (economista, professor da Sorbonne), Roy
Rappaport (1926-1997, antropólogo ambiental, professor da Universidade de
Michigan), Wolfgang Harich (1923-1995, filósofo-escritor, professor da
Universidade Humboldt), Kenneth Boulding (1910-1993, economista crítico, professor
da Universidade de Colorado-Boulder), Charles Perrings (economista ambiental,
ex-presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica, a ISEE, professor
da Universidade do Estado do Arizona), Nicholas Georgescu-Roegen (matemático e
economista heterodoxo, bioeconomista). À lista eu acrescentaria os nomes de
Frederick Soddy (1877-1956, químico, Prêmio Nobel de Química de 1921), E. F.
Schumacher (1911-1977, estatístico e economista) e Samuel Murgel Branco (1930-2003,
biólogo, professor da USP, que não conheci pessoalmente, ao contrário de vários
nomes da lista de Martínez Alier, incluindo este último). Branco é autor de
livro, ao mesmo tempo, simples, desambicioso e penetrante sobre as conexões
natureza-sociedade (Branco, 1999). Martínez Alier (2007, 47) ainda faz
referência a três pensadores dos problemas ecológico-econômicos: Ignacy Sachs
(economista heterodoxo, professor da Sorbonne), Roefie Hueting (economista
ambiental e pianista, proponente da noção de renda nacional sustentável) e
José-Manuel Naredo (economista ecológico e estatístico).
O que transparece da visão crítica sobre o
pensamento ortodoxo da economia, nos nomes acima, é que não deveria
haver dúvida de que considerar o processo econômico no marco do meio ambiente
constitui necessidade imperiosa, talvez mesmo um dado banal. Como lembra, por
exemplo, Hueting (1980), a renda nacional (ecologicamente) sustentável
constitui um indicador do nível de produção que não constitui ameaça para as
condições de vida de futuras gerações. Por que a economia convencional não
trabalha com uma variável dessa significação? Devido, segundo os economistas
ecológicos, à ótica mecanicista que prevalece na economia dominante. Como
explica Georgescu-Roegen (1971, 1), os fundadores da ciência econômica tinham
como única aspiração enquadrá-la nos parâmetros da mecânica. Na física, a
mecânica conhece apenas locomoção, e a locomoção, além de reversível, não
contempla mudança de qualidade, o contrário do que acontece na natureza, em que
prevalecem fenômenos irreversíveis. Admitir que o fluxo circular da renda (Fig.
1) seja o único aspecto que interessa da vida econômica equivale a admitir que,
na economia, o que importa é o fato de que dinheiro passa de mão em mão,
continuamente, e não sofre mudança qualitativa (salvo o desgaste das cédulas
que o representam). Com isso se tem um processo só com sistema circulatório e
nenhuma digestão. A adesão dos economistas a um dogma mecânico constitui mistério.
É que uma revolução ocorria na física no momento em que se dava a fundação dos
alicerces da ciência econômica. A revolução consistiu no reconhecimento de que
o calor se move em uma única direção, do corpo mais quente para o mais frio, o
que exemplifica uma condição de irreversibilidade. É nesse marco que “a
natureza fundamentalmente não-mecanicista do processo econômico revela-se de
modo pleno” (Georgescu-Roegen, 1971, 3). Pois a atividade econômica consiste em
produzir e consumir, ou seja, transformar recursos brutos em artefatos e, depois,
em lixo, de maneira irreversível. Esse processo requer energia – e energia não
pode ser reciclada –, tópico que pertence à esfera da termodinâmica, e não da
mecânica.
4
Visão econômica da ecologia
Na ciência da
economia convencional o meio ambiente não aparece nunca –como sugere uma
consulta aos livros-texto normalmente utilizados (caso de Mankiw, 2004, o mais
listado deles no mundo inteiro, atualmente). Há momentos, porém, em que falar do
meio ambiente é importante no modelo. Um ajuste então se faz na forma de inclusão
do meio ambiente como apêndice da economia-atividade, a qual continua sendo vista
como o todo dominante; neste caso, o ecossistema possui a essência de um almoxarifado
ou dispensa (ver a Fig. 2), podendo até ser pensado como um penduricalho. É
este o campo de estudo conhecido como economia ambiental; no meu entender, poder-se-ia
denominá-lo de visão econômica da
ecologia. A economia do meio ambiente é considerada normalmente como um
ramo da microeconomia. Seu foco é encontrar preços corretos para a alocação
ótima de recursos (situações de máximo benefício, mínimo custo). É assim que
ela é ensinada e praticada onde sua necessidade se manifesta. Com uma motivação
central: internalizar custos ambientais a fim de se obterem preços que reflitam
custos de oportunidade sociais marginais completos.
Figura 2 – O meio ambiente
como apêndice da economia-atividade
(visão econômica da ecologia)
Pode-se dizer
que a teoria econômica não possui um capítulo de macroeconomia ambiental (ao
contrário do que acontece com a microeconomia, verdadeiro sentido da economia
do meio ambiente). A visão predominante do sistema econômico como um todo,
retratada pelo fluxo circular da riqueza (Fig. 1), imagina a economia como sistema
isolado. Daí, inexistir preocupação como o meio ambiente, recursos naturais,
poluição e depleção. Um sistema isolado não possui entorno; não se conecta com
algo que o constranja. Admitindo-se que a economia não possua a natureza de
sistema isolado, sem laços com o exterior, vai caber uma mudança de perspectiva
que retrate a macroeconomia como subsistema aberto, encaixado no ecossistema
natural finito (meio ambiente). Isso significa abandonar o fluxo circular
isolado, de valor de troca abstrato, não restringido pelo balanço de massa,
entropia e finitude. Como frisa Daly (1991, 35), “As trocas físicas que cruzam
a fronteira entre o sistema ecológico total e o subsistema econômico constituem
a matéria-prima da macroeconomia ambiental”. Incluindo essas trocas físicas no
modelo da economia, passa a ser decisivo determinar que volume de troca pode
caber no contexto das relações natureza-economia. Quanto pode ser extraído e
quanto pode ser devolvido ao meio ambiente através do processo econômico? Ou
seja, qual é a escala da economia compatível com sua base ecológica? Vale, a
propósito, usar aqui a imagem de um barco, cuja carga – estando distribuída de
forma ótima no seu interior (solução do problema microeconômico) – deve
respeitar a linha de calado. Quando a marca da água atinge essa linha, o barco
está cheio; alcançou sua capacidade segura de carga (escala ótima). Os
economistas ambientais, trabalhando com mercados, não elaboram o problema da
carga ótima; interessa-lhes só a acomodação adequada da carga no barco. Os
economistas ecológicos – apelando para princípios da física e ecologia –
consideram que o tamanho da carga seja fundamental. Na concepção de uma
possível macroeconomia do ambiente, a capacidade de carga, portanto, assume
papel chave. É ela que vai delimitar o âmbito do desenvolvimento sustentável. É
ela ainda que vai levar a que se considere como irrealizável a proposta do
crescimento perpétuo, também chamado – de forma totalmente imprópria – de
“crescimento sustentável”. Um crescimento sem fim, desse naipe, perfeitamente
possível na visão econômica convencional e na visão econômica do meio ambiente,
caracteriza a prioridade do governo brasileiro em 2010, consubstanciada na
proposta do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo do
presidente Lula da Silva. E esse é igualmente o paradigma da evolução econômica
mundial, da China aos EUA, de Angola à Índia.
5
Visão ecológica da economia
A economia ecológica vai surgir porque cem
anos de especialização da pesquisa científica deixaram o mundo incapaz de
entender ou conduzir as interações entre os componentes humano e ambiental do
planeta. Enquanto ninguém questiona os insights
que a especialização científica trouxe, muitos de nós reconhecemos que ela se
tornou também nosso calcanhar-de-aquiles. Num mundo interconectado em evolução,
a ciência reducionista alongou o leque de conhecimento em muitas e distintas
direções, mas nos privou de idéias sobre como formular e resolver problemas que
brotam das interações entre os seres humanos e a esfera natural. De que forma o
comportamento humano se articula com mudanças nos ciclos hidrológico, de
nutrientes e de carbono? Quais são as formas de retro-alimentação entre os
sistemas social e natural, e como tais formas influenciam os serviços que
recebemos dos ecossistemas? A economia ecológica (EE), como campo de estudo,
tenta responder a questões de tal ordem.
A crescente
percepção de que o sistema ecológico de sustentação da vida encontra-se cada
vez mais ameaçado constitui, deveras, o ponto de partida da reflexão que deu
origem formal à economia ecológica. Há um enfrentamento constante entre
natureza e sociedade, meio ambiente e economia, com incertezas, percalços,
urgências e novas fronteiras. Conflitos aparecem desafiando a tendência à
valoração puramente monetária (como a do “mercado”, por exemplo) de situações
essenciais para a vida humana. Na EE um tema central é exatamente a
incomensurabilidade de valores diante do econômico (Martínez Alier, 2007, 23). Foi
esse, com efeito, um consenso do workshop
realizado no Aspen Institute (Wye Island, Maryland, EUA), em 24-26.5.1990 – do
qual participei, com mais 37 pessoas[2],
e do qual resultou um livro coletivo (Costanza, 1991). Esse livro fundador classifica
a EE como “ciência e gestão da sustentabilidade”. No contexto da EE, ela vai
diferir tanto da economia como da ecologia convencionais,
em termos da envergadura dos problemas de que deve cuidar. Do mesmo modo, deve
penetrar a fundo na compreensão das interações meio ambiente-economia. Não pode
haver dúvida, assim, de que a EE vê a economia humana como parte – ou subsistema
– do todo maior que é a natureza e que a esta se submete de uma forma ou de
outra. Tal é seu paradigma, que se procura retratar na Fig. 3.
Figura 3 - A economia-atividade
como sistema aberto dentro do ecossistema (visão ecológica da
economia)
A questão que
se impõe na Fig 3 é conceber a economia-atividade
como sistema aberto dentro do ecossistema (o ecossistema é o todo; a
economia, uma parte). Matéria e energia entram no sistema econômico, passam
pelo processo que se chama em inglês de throughput
(uma tradução de throughput para o
português poderia ser “transumo”) e viram lixo ou matéria e energia degradadas.
O significado do transumo é o mesmo do fluxo metabólico de um organismo vivo. O
organismo assimila recursos externos que provêm do meio ambiente e devolve a
este a sujeira que resulta do metabolismo, depois que a parte útil dos recursos
é utilizada. Aí não há propriamente criação de riqueza. Há, sim, transformação
de matéria e energia de baixa entropia (recursos) em matéria e energia de alta
entropia (lixo) – como estabelecem as incontornáveis leis da termodinâmica. À
perspectiva termodinâmica da EE pode-se atribuir a característica de visão ecológica da economia. Segundo
ela, o sistema econômico tem aparelho digestivo, além do circulatório imaginado
pela economia convencional. É essa também a compreensão biofísica do processo
econômico, de Georgescu-Roegen (1971).
A visão é
termodinâmica porque, como qualquer atividade significa uma transformação de
energia – é assim que os seres humanos sobrevivem, como se sabe da biologia
(convertendo comida, ou seja, energia química, em movimento, isto é, energia
mecânica) –, compete ao capítulo da física que estuda o campo das
transformações energéticas explicar as regras sob as quais isso acontece. E tal
capítulo é precisamente o da termodinâmica, com suas leis duras e implacáveis
(Georgescu-Roegen, 1971), às quais a economia tem que se submeter, pois não há
alternativa (Branco, 1999). Encarando o processo econômico com tal ótica, a
economia ecológica implica uma mudança fundamental na percepção dos problemas
de alocação de recursos e de como eles devem ser tratados, do mesmo modo que
uma revisão da dinâmica do crescimento econômico. A ênfase no mercado como
mecanismo de distribuição de recursos deve ser normalmente reservada apenas
para os casos em que se busca uma alocação eficiente de recursos preexistentes (que é o que a estática microeconômica
estuda). Quando se trata da situação em que novos
recursos estão sendo mobilizados (os economistas de qualquer estirpe
chamariam a isso expandir as dimensões da caixa de Edgeworth), tema que se
localiza no âmbito da macrodinâmica econômica, o caminho abre-se para a
unificação sobre bases biofísicas dos sistemas ecológicos e econômicos como
formas interdependentes e co-evolutivas – principal tarefa e desafio da EE.
6
Transdisciplinaridade da economia ecológica
Ao se
propor um rompimento de paradigma – ou de visão pré-analítica, como diria
Joseph Schumpeter (apud Daly, 1996) –
não se está defendendo, com a EE, um dogma de fé. Cumpre reconhecer a inquestionável
evidência de que não existe sociedade (nem economia) sem sistema ecológico, mas
pode haver meio ambiente sem sociedade (e economia). Enquanto isso, a economia
(ciência econômica) convencional trata apenas da espécie humana, esquecendo
todas as outras, e a ecologia convencional estuda todas as espécies, menos a
humana. Ao constatar, em ambos os casos, a necessidade de superar a estreiteza
disciplinar que impede uma visão de conjunto da problemática
ecológico-econômica, a EE surge sem dependência disciplinar, seja da economia,
seja da ecologia, resultando, ao revés, numa tentativa de integração de ambas.
Sua visão de mundo teria, pois, que ser transdisciplinar,
com foco nas relações entre ecossistemas e sistemas econômicos no sentido mais
amplo possível. Como dizem Costanza, Daly e Bartholomew (1991, 3), “Por
transdisciplinar queremos dizer que a economiaecológica vai além de nossas
conceituações normais das disciplinas científicas e tenta integrar e sintetizar
muitas perspectivas disciplinares diferentes”. Cabe aqui a observação de que nenhuma disciplina possui precedência
intelectual sobre qualquer outra em matéria de realização da
sustentabilidade. Isso se aplica à física, à biologia, à ecologia – e à economia. Por outro lado, a
segmentação das disciplinas é uma convenção acadêmica, enquanto os problemas
que interessam não se localizam no âmbito da disciplina A ou B. A universidade
tem disciplinas(unidimensionais); o mundo real tem problemasconcretos(multidimensionais; caso dos
sócio-ambientais).
Fronteiras
disciplinares são construtos acadêmicos arbitrários. O aparecimento da EE se
direciona para o tratamento desse embate. A conclusão não pode ser outra: a EE não constitui um ramo da economia
(nem da ecologia, é claro). Tanto poderia se chamar economia ecológica quanto
ecoeconomia, ou ainda ecologia econômica. José Eli da Veiga (2007) tem proposto
que, ao invés de EE, se fale de uma economia socioambiental. O fato de se haver
adotado o termo “economia ecológica”, que pode facilmente levar a confusão com
a noção de economia ambiental, é motivo de não poucos equívocos. Para
esclarecer de modo mais efetivo a questão, pode-se imaginar uma escala que leve
do ecológico ao econômico, o que é feito na Fig. 4. As disciplinas da ecologia
e da economia podem ser colocadas como pontos extremos da escala. A primeira
cuida apenas do mundo da natureza, com exclusão dos humanos, enquanto a segunda
considera exclusivamente a realidade humana – como o fazem também, de modo
geral, as ciências sociais –, considerando o ecossistema uma externalidade.
Mais próxima da ecologia, um pouco no centro da escala, vai aparecer a economia
ecológica. À sua direita, aproximando-se da economia, localiza-se a economia
ambiental. Não há qualquer sentido normativo nessa confrontação. A economia
ambiental aplica aos problemas ecológicos as ferramentas da economia
neoclássica. Olha o meio ambiente; mas seu propósito é internalizá-lo no
cálculo econômico. Ou seja, valorá-lo monetariamente: dar aos preços a condição
de refletir valores hipotéticos para serviços e funções da natureza. Já a EE
tem como propósito dizer em que medida o uso da natureza pode ser feito sustentavelmente.
Figura 4 – Relações entre as disciplinas da ecologia e
economia
7
Implicações da visão integradora da economia ecológica
Como economista
ecológico, indagado sobre qual a principal tarefa da ciência econômica,
sinto-me inclinado de seguir a corrente que dá ênfase a seu papel de explicar
comportamento humano condicionado pela escassez. A vida é uma sucessão contínua
de escolhas que representam o confronto de diferentes valorações. Isto ocorre
porque, de algum modo, os recursos – inclusive e, sobretudo, o tempo – são
escassos. Portanto, a realização dos fins humanos é restringida pela escassez
dos meios. Se um fim é preferido, isto envolve o sacrifício de outros – uma
realidade que embasa o conceito de custo de oportunidade do economista. Não é
por outra razão que uma das mais bem conhecidas definições da economia sublinha
o fato de que a economia “é a ciência que estuda o comportamento humano como
uma relação entre fins e meios escassos que têm usos alternativos” (Robbins,
1984, 16). Na concepção do fundador da economia neoclássica, Alfred Marshall
(1961, xv), por outro lado, a teoria econômica diz respeito principalmente a
seres humanos que são impelidos para a mudança e o progresso. Sua definição de
economia, que ele iguala à economia política, consiste em ressaltar que ela se
dedica ao exame “daquela parte da ação individual ou social que está mais
estreitamente conectada com o alcance e o uso dos requisitos materiais do
bem-estar” (Marshall, 1961, 1). Esta é uma interpretação que se enquadra dentro
dos moldes da economia como uma disciplina que trata de escolhas, como na
análise de comportamento do consumidor sob condições de desejos ilimitados e recursos finitos. Implícita nessa visão
encontra-se a idéia de que se comportar de maneira econômica significa tornar a
atividade de uma pessoa ou de uma organização “eficiente”, ao invés de
esbanjadora (Knight, 1965, 510). Significa escolher o curso de ação menos
custoso ou aquele que maximiza os benefícios líquidos da ação.
Uma
implicação óbvia da perspectiva econômico-ecológica é que o sistema econômico,
ao se expandir, incorre em custos de oportunidade ambientais positivos (o meio
ambiente é escasso). Se esses custos já foram tão ínfimos que se podia
ignorá-los, o fato é que mais economia implica menos meio ambiente.
Seria bom que não fosse assim. É aqui que se chega à conclusão de que a visão
de mundo prevalecente, que dá ênfase inusitada ao crescimento econômico como
solução para tudo, como prioridade absoluta em relação a outros objetivos,
termina podendo ser classificada como fé, fetiche, mania, dogma. Sem dúvida, ao
mesmo tempo, forma-se uma confusão
entre crescimento (aumento) edesenvolvimento (evolução, transformação, “promoção da
arte da vida”). A visão econômica da economia preceitua que não há custos ambientais
de oportunidade para o processo macroeconômico. Ao mesmo tempo, alguns
economistas chegam a dizer, como no exemplo dado por J.R. McNeill (2000), que
“o mundo, com efeito, pode continuar seu negócio sem recursos naturais”. Na
microeconomia, como se sabe, prevalece o cálculo (conceito) do ótimo
(eficiência máxima da alocação de recursos escassos). Trata-se da regra de
quando é para parar a expansão da escala (da firma). Enquanto isso, na
macroeconomia prevalece a busca do crescimento ilimitado. O ótimo do
crescimento (ou quando o crescimento deveria parar) não a sensibiliza.
A
perspectiva da EE é de que existirá uma escala máxima sustentável do sistema
econômico com respeito ao ecossistema, escala essa a ser determinada pela
comparação de benefícios econômicos com custos ambientais marginais – como se
faz no caso do equilíbrio da firma. Ao se acionar a economia, de fato, não se
pode ignorar que a depreciação dos ativos naturais (capital natural) é real. Quer
dizer, existem custos de oportunidade ecológicos. Aumentar a produção econômica
implica sacrifício de recursos, tais como florestas, solo, água, ar,
biodiversidade, estabilidade climática, etc. Ter noção desse problema leva à
necessidade da visão ecológica da economia. Em síntese, trata-se de encontrar a
escala ótima do macrossistema econômico, permitindo a separação entre (i)
crescimento genuinamente econômico (quando os benefícios marginais do
aumento da economia superam os custos marginais ambientais do processo) e (ii)
crescimento antieconômico (quando, pelo contrário, os benefícios
marginais do aumento da economia se tornam inferiores aos custos marginais).
Supõe-se, é claro, que, em algum momento, benefícios e custos marginais se
igualem. A cosmovisão da EE internaliza o sistema econômico na natureza. Ou,
como adverte um expoente distinguido da economia convencional (The Economist,
coluna “Face Value”, 4.7.2009): “you
cannot negotiate with nature” (não se pode negociar com a natureza).
O problema é que
as prioridades econômicas atropelam sistematicamente considerações de ordem
ecológica. Quando se atribuem preços aos recursos naturais – o que acontece com
aqueles que têm mercado como o petróleo –, tais valores constituem
invariavelmente uma subestimação. Na contabilidade econômica nacional
tradicional, um valor zero é implicitamente conferido a todos os recursos da
natureza, dando-lhes a condição de “bens livres”. Mas que valores se poderiam
usar nesses cálculos? É difícil dizer, especialmente quando há coisas, como a
vida em geral ou como uma espécie biológica ameaçada de extinção, em
particular, que, certamente, possuem valor infinito. No entanto, a realidade
impõe que se busque alguma forma de valoração. Pois pior é ver o valor econômico
da floresta amazônica em pé, por exemplo, reduzido a zero, embora a selva
constitua, como se sabe, fonte insubstituível de um elenco de benefícios
ecológicos que vão da regulação do clima e da água, do ciclo dos nutrientes,
tratamento do lixo, recreação, produtos não-madeireiros da floresta,
conservação da biodiversidade, etc., até os chamados benefícios de opção e
existência.
O
perigo de atribuir-se valor monetário a bens e serviços ecológicos, por sua
vez, é tanto de levar a que se acredite que eles valem aquilo que os cálculos
mostram, quanto de fazer pensar que ativos naturais possam ser somados a ativos
construídos pelos humanos (ambos referidos à mesma base em dinheiro),
tornando-os substituíveis. Na essência do conceito, porém, a sustentabilidade
ecológica deve ser vista como manutenção de estoques físicos de capital
natural, não a de seus correspondentes valores monetários – uma questão que
conduz àquilo que se chama de “sustentabilidade forte”. É aqui que entra a
necessidade de uma visão ecológica da economia, a qual não se pode confundir
com a economia ambiental. A análise econômica com base em conhecimento
ecológico tem como uma de suas missões promover a modelagem dos elos ecológicos
que determinam as interfaces entre sistemas naturais e econômicos (ou “produtivos”).
8
Pensamento ecológico e econômico-ecológico
Resumindo:
a economia convencional exclui a natureza como externalidade do processo
econômico; a economia ambiental se preocupa em dar preço à natureza, com a
tendência de vê-la como amenidade (uma idéia implícita na noção vulgar do
“verde”); e a economia ecológica atribui à natureza a condição de suporte
insubstituível de tudo o que a sociedade pode fazer.A visão econômica tradicional inclui não só o
pensamento da economia neoclássica de Hayek, Milton Friedman (1912-2006),
Robert Solow e seus seguidores (no Brasil, nome ilustre é o de Mário Henrique
Simonsen, 1935-1997), como também o dos keynesianos, marxistas,
institucionalistas, estruturalistas, monetaristas, economistas políticos: um
verdadeiro pensamento único. Entre os brasileiros não-neoclássicos, Celso
Furtado (1920-2004) sobressai por se afastar desse molde de pensamento único,
tentando dar ênfase a fatores ambientais no desenvolvimento econômico (Furtado,
1974), o que não acontece na obra de Luiz Carlos Bresser Pereira, Maria da
Conceição Tavares, Edmar Bacha ou Affonso Celso Pastore, por exemplo.
Representantes ilustres da economia ambiental são Harold Hotelling (1895-1973),
Partha Dasgupta, Anil Markandya, Joseph Stiglitz, Nicholas Stern, David Pearce,
R. Kerry Turner. No Brasil: Ronaldo Serôa da Motta, Maurício Tolmasquin, Carlos
Eduardo (Cadu) Young, Antônio Evaldo Comune, Francisco Ramos.
Quanto
à economia ecológica, citar nomes que a pratiquem requer que se defina o leque
de tendências que se manifestam quanto a perspectivas de entendimento dessa área
de investigação. Na verdade, a EE não se define como uma ciência. O que brotou
na reunião de Wye Island em junho de 1990 foi a sugestão de considerá-la como
“campo emergente transdisciplinar de estudo” (Costanza, Daly e Batholomew,
1991, 3) com a pretensão de cobrir espaços não abarcados pelas disciplinas
científicas existentes. Seria uma “orquestração de ciências” (Martínez Alier,
2007, 67), comportando diversidade de pensamento entre os ecologistas mesmo. Martínez
Alier (2007, 21) distingue três correntes principais do ambientalismo, com vários
elementos comuns que as identificam, todas elas, porém, desqualificadas,
ignoradas ou depreciadas pelos antiecologistas (aqueles que vêem o meio
ambiente com uma “barreira ao desenvolvimento”). Uma corrente ambientalista é a
do “culto ao silvestre”, do valor sagrado da natureza, da ecologia profunda, da
atitude biocêntrica. Outra corrente se poderia chamar de “evangelho da
ecoeficiência”: um ecologismo de resultados que se preocuparia com os efeitos
do crescimento econômico. Finalmente, a terceira corrente é a do “ecologismo
dos pobres”, caracterizada pelo interesse material nos “recursos e serviços
ambientais proporcionados pelo meio natural para a subsistência humana”
(Martínez Alier, 2007, 335). A argumentação do ecologismo dos pobres propõe que
a luta entre economia e ecologia não pode ser resolvida pela internalização das
externalidades, nem pela modernização ecológica ou pela ecoeficiência. Ela levanta
a discussão quanto à “incidência desigual dos danos ambientais ante não só as
demais espécies ou as futuras gerações de humanos, mas em nossa própria época”
(Martínez Alier, 2007, 89). Central para o ecologismo dos pobres é o tema da
incomensurabilidade dos valores. Nesse particular, a tarefa da EE seria estudar
diferentes processos de tomada de decisão num contexto de “comparabilidade
fraca de valores”, além de conflitos distributivos e “incertezas sem solução”
(Martínez Alier, 2007, 55). Nas valorações monetárias, a relevância de um
serviço da natureza para o mercado é o fator que conta. Entretanto, serviços da
natureza possuem múltiplos significados. Um mangue, por exemplo, além de seu
papel econômico, importa do ponto de vista da paisagem, da sobrevivência de
populações vizinhas, da cultura, do sagrado. Daí resultam diferentes valores
que demandam uma visão integrada das dimensões física, social, cultural e
espiritual do ecossistema. É como sublinha Martínez Alier (2007, 355): “Quando
as pessoas de cor eram obrigadas a viajar sentando-se na última fileira de
bancos dos veículos nos Estados Unidos, isso não podia ser compensado na escala
da dignidade humana, com uma passagem mais barata”.
O
maior nome da EE no mundo hoje, é o de Herman Daly, que tende a combinar
elementos das três correntes do ecologismo. Ele foi aluno de Georgescu-Roegen e
tem elaborado a visão termodinâmica do processo econômico em novas direções.
Outro nome de peso é o de Martínez Alier, que foi presidente da ISEE (em
2006-2007), devendo ser enquadrado no ecologismo dos pobres (ele tem se
dedicado ao estudo de movimentos populares ambientalistas como o Chipko, na
Índia, e o das reservas extrativistas de Chico Mendes). Robert Goodland,
ecólogo, está perto do culto ao silvestre. Ann Mari Jansson, economista,
liga-se à ecoeficiência, assim como, no Brasil, Peter May (ex-presidente da
Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, Eco-Eco, e da ISEE), Maurício
Amazonas (ex-presidente da Eco-Eco) e Ademar Romeiro (ex-presidente igualmente
da Eco-Eco). José Eli da Veiga figura numa categoria que combina ecoeficiência
e ecologismo dos pobres. Osório Viana aproxima-se da posição de Martínez Alier.
Charles Mueller se identifica com Georgescu-Roegen e Herman Daly. Armando
Mendes é de uma visão mais para o humanismo ecológico.
Classificações
são sempre arbitrárias. No caso dos economistas ecológicos uma divisão de
tendências poderia ser entre os que defendem uma sustentabilidade forte (caso
de Herman Daly) – situação em que capital da natureza e capital construído
pelos humanos não são substitutos – e os que se inclinam por uma
sustentabilidade fraca (os dois tipos de capital seriam perfeitos substitutos,
conforme postula a economia convencional). Um nome desta última linha é o do
sueco Karl-Göran Mahler.
De
modo geral, no entanto, a economia ecológica está alicerçada no pensamento de
Georgescu-Roegen (1971). Segundo este, o sistema econômico consome natureza
(matéria e energia de baixa entropia, que são os meios fundamentais à
disposição do mundo), inexoravelmente fornecendo lixo (matéria e energia de
alta entropia) de volta ao sistema natural (Fig. 3). Simultaneamente,
proporciona um fluxo de prazer ou bem-estar psíquico aos indivíduos que compõem
a sociedade, justificando assim sua existência. A produção de bens e serviços
econômicos nada mais é, sem dúvida, do que a oportunidade material para que as
pessoas consigam chegar à realização da felicidade. Nisso consiste a missão da
economia, um sistema organizado para converter matérias-primas e energia de
baixa entropia em lixo e energia térmica dissipada de alta entropia. Cumpre ao
ser humano definir de que forma o sistema econômico vai lhe prestar o serviço
de facilitar sua vida – tarefa da razão, segundo Whitehead (1985). Nessa
compreensão, a ordem no sistema econômico, sua capacidade de produzir coisas
úteis e nos oferecer meios para nossa satisfação, só pode ser mantida com um
fluxo constante de matéria-energia de baixa entropia. Em outras palavras, nossa
fonte primordial de bem-estar é um sistema natural onde predomina a ordem. Por
esse raciocínio se inclina a quase totalidade dos autores dos 32 capítulos do
livro fundador da EE (Costanza, 1991), bem como economistas ecológicos da nova
geração como Joshua Farley e Amélia Rodrigues Enríquez (atual presidente da
Eco-Eco). No final, um denominador comum dos praticantes da EE reside na defesa
do desenvolvimento (ecologicamente, mas também social e economicamente) sustentável.
O que, no fundo, implica qualificar algo que dispensa adjetivos. Na verdade, se
o desenvolvimento não for sustentável – o que significa que seja insustentável –, não será
desenvolvimento. Constituirá um processo destinado ao fracasso, uma mentira
(geralmente encapada pelo credo do crescimento). Em essência, os economistas
ecológicos tendem a adotar esta última postura.
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WHITEHEAD, Alfred North. A função da razão. Trad. Fernando Dídimo. Brasília: Editora da UnB, 1985.
[1] Mestre, pesquisador titular da Fundação Joaquim
Nabuco, professor adjunto da Universidade Federal de Pernambuco, organizador do
livro The Environment, Sustainable
Development and Public Policies: Building Sustainability in Brazil.
Cheltenham, Reino Unido; Northampton, Mass., EUA: Edward Elgar, 2000. E-mail: .
[2]
Entre eles: Charles Perrings (economista), Colin Clark (matemático), Cutler
Cleveland (geógrafo), Enzo Tiezzi (químico), Garrett Hardin (1915-2003, biólogo),
Herman Daly (economista ecológico), Joan Martínez Alier (economista ecológico),
Kenneth Boulding (1910-1993, economista ecológico), Mary Clark (bióloga), Richard
Norgaard (economista de recursos naturais), Robert Costanza (oceanógrafo),
Silvio Funtowicz (filósofo), Talbott Page (economista do meio ambiente), Tomasz
Zylicz (economista do meio ambiente). Fui um dos participantes, talvez por
descuido dos organizadores.
--
estudos avançados 24 (68), 2010 53
Conceptions of Ecological
Economics: its Relationship
with Mainstream and
Environmental Economics
Clóvis Cavalcanti
Introduction
The purpose of this paper is to offer some considerations for a reflection
about nature-society relationships, with a view to increasing the array of
available theories for socio-environmental discussions in Brazil, and the
world as well. In this sense, it is as much a quick review as a critical evaluation
of traditional economic thinking in the face of the environmental dimension of
the economic process (the task of the second and third sections of the paper,
respectively). The endeavor of incorporating the environment as an appendix to
the dominant economic model is the object of the fourth section, while the fifth
deals with the environmental conditioning of the economic activity, introducing
the perspective of so-called ecological economics, with its transdisciplinary
approach, as the object of the sixth section. The seventh section explores some
implications of the integrated vision of ecological economics. The paper closes
with an appreciation of the tendencies of ecologism and economic-ecological
thinking. Important names connected to the subjects treated are offered in order
to illustrate the various tendencies, with an emphasis on the contribution of
Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994).
Economic Vision of the Economy
The celebrated Austrian economist Frederick von Hayek, 1974 Nobel
Prize in Economics, argued at the beginning of the 1940s in the journal of the
London School of Economics, Economica, that neither merchandise nor money,
nor even food could be defined by their physical qualities, but only in terms of
the opinions that economic agents have concerning them (Martínez Alier &
Schlüpmann, 1991, p.182). Far from constituting an isolated perspective, this is
the dominant vision among conventional economists. The traditional science of
economics, in effect, does not consider any connections that can exist between
54 estudos avançados 24 (68), 2010
the ecological system and the activities of production and consumption that
represent the kernel of any economic system. The typical economic model does
not contemplate the framework of environmental restrictions. It cares to focus
only on flows and variables in the economic domain, as indicated in Figure 1,
found in any introductory textbook on economics (see, for example, Samuelson,
1967). In the model (Figure 1), money circulates in a closed loop between
families (consumers) and firms (producers), allowing only the movement of
exchange value. Nothing more than this. Money comes and goes between
producers and consumers. Nature, there, is what has become known as an
“externality”.
Figure 1 –The economy as an isolated system (economic vision of the economy).
In this perspective (that I call the economic vision of the economy), the
economic system finds no limits. It can do everything. It is self-containing. Its
expansion involves no opportunity costs. In other words, there are no exchanges
nor any degradation derived from more economy that needs to destroy resources,
whether for extraction, or for dumping the waste to which the economic process
inevitably leads. If perchance, orthodox economics deals with environmental
impact, it is to treat it as a phenomenon external to the economic system, as a
market failure. For it external factors can, with adequate methods, be internalized
within the price system: a means, supposedly, for correcting market failure.
On what reality can the scheme of Figure 1 be based? It is worth recalling
here what the mathematician and philosopher Alfred North Whitehead said,
in his 1944 book The Function of Reason (1985, in Portuguese, p. 5). In
his words: “The higher forms of life are actively engaged in modifying their
estudos avançados 24 (68), 2010 55
environment. In the case of mankind this active attack on theenvironment is the
most prominent fact in its existence.” Such an attack unfolds in three stages: (i)
living (guaranteeing our survival – an “obligation” of every living organism);
(ii) living well (deploying the best environment possible; no one survives in
his own litter); and (iii) living better (conquering new levels of quality of life,
a cultural phenomenon; improving; progressing, prospering). Here then is
Whitehead’s thrust: “The primary function of reason is to direct the attack on
the environment” (ibid), with the corollary that “The function of reason is the
promotion of the art of life.” (ibid, p.3). That is to say: attacking the environment
is something inevitable. There is no living without making a bid for it. The
question is how to do it in an intelligent manner, using reason and the goal of
living better. There is no way to admit to wanting to deal with physical things,
artifacts that combine matter and energy, without considering the implications
derived from them in terms of the environment.
Critical Perception of the Conventional Economic Model
There is a long tradition of scientific thinking attempting to find
arguments to confront the reductionism of science by economists. Martínez Alier
(Martínez Alier & Schlüpmann, 1991, p.9) organized a sufficiently diverse list
of scientists in this tradition, from different fields of knowledge, which includes
Fred Cottrel (1877-1948, physicist-chemist and inventor), the couple Anne
(demographer-ecologist) and Paul Ehrlich (entomologist) – professors at Stanford
University –, Herman Daly (ecological economist and professor at the University
of Maryland), Barry Commoner (biologist and professor at the University of
Washington), the Odum brothers (both ecologists), Howard (1924-2002, notable
for his pioneering studies about energy flows in ecosystems) and Eugene (1913-
2002, zoologist), Gerald Leach (1934-2005, science journalist), David Pimentel
(entomologist and professor at Cornell University), Ivan Illich (1926-2002,
priest, philosopher, and social critic), Kenneth Watt (ecologist and professor
at the University of California-Davis), René Passet (economist and professor
at the Sorbonne), Roy Rappaport (1926-1997, environmental anthropologist
and professor at the University of Michigan), Wolfgang Harich (1923-1995,
philosopher-writer and professor at Humboldt University), Kenneth Boulding
(1910-1993, critical economist and professor at the University of Colorado-
Boulder), Charles Perrings (environmental economist, ex-president of the
International Society for Ecological Economics (ISEE ) and professor at Arizona
State University), Nicholas Georgescu-Roegen (mathematician and heterodox
economist, bioeconomist).
To this list I would add the names of Frederick Soddy (1877-1956,
chemist, Nobel Prize in Chemistry, 1921), E. F. Schumacher (1911-1977,
statistician and economist) and Samuel Murgel Branco (1930-2003,biologist and
professor at US P, who I didn’t know personally, in contrast to the various names
56 estudos avançados 24 (68), 2010
on the Martínez Alier list, including this last). Branco (1999) is author of a book,
which at the same time is simple, unassuming, and penetrating about nature-society
connections. Martínez Alier (2007, p.47) also makes reference to three thinkers
about ecological-economic problems: Ignacy Sachs (heterodox economist and
professor at the Sorbonne), Roefie Hueting (environmental economist and pianist,
proponent of the notion of national sustainable income) and José-Manuel Naredo
(ecological economist and statistician).
What is transparent in the critical vision about the orthodox thinking in
economics in the names cited, is that there should be no question that considering
the economic process within the mark of the environment constitutes an imperious
necessity, perhaps even a banal accomplishment. As recalled by Hueting (1980),
for example, national (ecologically) sustainable income constitutes an indicator of
the level of production that represents no threat to the conditions of life of future
generations. Why does conventional economics not work with a variable of this
significance? For the reason, according to ecological economists, that a mechanistic
view prevails in dominant economics. As Georgescu-Roegen (1971, p.1) explains,
the founders of economics had the only aspiration of framing it within the
parameters of mechanics. In physics, mechanics knows only locomotion and this,
aside from being reversible, does not contemplate quality change, the contrary of
what occurs in nature, in which irreversible phenomena prevail. To admit that the
circular flow of income (Figure 1) is the only aspect that interests economic life
is equivalent to admitting that, in the economy, what is important is the fact that
money continually passes from hand to hand and undergoes no qualitative change
(other than the wearing away of the bills that represent it).
With this what we have is a process that has only a circulatory system and no
digestive tract. The adherence of economists to the mechanistic dogma constitutes a
mystery. It is curious to notice that a revolution occurred in physics at the moment
in which the basis for the foundation of the economic science was being laid. The
revolution consisted in the recognition that heat moves in only one direction, from
the hotter body to the colder, which exemplifies a condition of irreversibility. It is
in this framework that “the fundamentally nonmechanistic nature of the economic
process fully reveals itself” (ibid, p.3). For economic activity consists of producing
and consuming; in other words, transforming raw resources into artifacts and, later,
into trash, in an irreversible manner. This process requires energy – and energy
cannot be recycled – a topic pertaining to the sphere of thermodynamics, and not
of mechanics.
Economic Vision of the Environment
In conventional economics, the environment never appears – as an exam
of normally used textbooks suggests (case of Mankiw, 2004, the currently most
listed of them in the entire world). There are moments, however, in which
speaking of the environment is important in the model. An adjustment is then
estudos avançados 24 (68), 2010 57
made considering the environment as an appendix of economic activity, which
continues to be seen as the dominant whole; in this case, the ecosystem ends
up with the essence of a storehouse or dispensary (see Figure 2), and can even
been thought of as a bauble. This is the field of study known as environmental
economics; in my view it could be termed the economic vision of the environment.
Environmental economics is normally considered as a branch of microeconomics.
Its focus is to find correct prices for the optimum allocation of resources
(situations of maximum benefit, minimum cost). It is thus that it is taught and
practiced where the need is manifest. With a central motivation: to internalize
environmental costs so that prices reflect more fully opportunity costs.
Figure 2 - The environment as an appendix to economic activity (economic vision
of the environment).
It can be said that economic theory does not have an environmental
macroeconomics chapter (in opposition to what happens with microeconomics,
the true sense of environmental economics). The predominant vision of the
economic system as the big whole portrayed by the circular flow of wealth (Figure
1) imagines the economy as an isolated system. Thence the preoccupation with
the environment, its natural resources, pollution and depletion, is nonexistent.
An isolated system has no environment; it has no connections with anything that
might constrain it. To admit that the economy does not possess the nature of an
isolated system, without connections with the outside, is bound to bring a change
in perspective putting the macroeconomy as an open subsystem within the
naturally finite ecosystem (the environment). This means abandoning the isolated
circular flow of abstract exchange value, unrestricted by the balance of mass,
entropy and finitude. As Daly emphasizes (1991, p.35), “The physical exchanges
crossing the boundary between the total ecological system and the economic
subsystem constitute the subject matter of environmental macroeconomics.”
Including these physical exchanges in the economic model means that it becomes
decisive to determine what is the volume of exchange that can fit within the
context of the nature-economy relations.
How much can be extracted and how much can be returned to the
environment by means of the economic process? In other words, what is the
scale of the economy compatible with its ecological base? It is worth using
here the image of a boat, whose load – being optimally distributed within it
(solution of the microeconomic problem) – should respect the water (Plimsoll)
line. When the water level reaches this line, the boat is full; it has reached its safe
58 estudos avançados 24 (68), 2010
capacity load (optimal scale). Environmental economists, working with markets,
don’t elaborate the problem of the optimal load; what interests them is the
adequate accommodation of the boat’s cargo. Ecological economists – invoking
the principles of physics and ecology – consider that the size of the cargo is
fundamental. In the conception of a possible macroeconomics of the environment,
the carrying capacity therefore assumes a key role. It is it that is going to limit
the scope of sustainable development. It is it, too, that is going to lead us to
consider as unrealizable the proposal of perpetual growth, also called – in a totally
inappropriate way – “sustainable growth.” A growth without end, of this nature,
perfectly possible in the conventional economic vision and in the economic vision
of the environment, characterizes the priority of the Brazilian government in
2010, consolidated in the Growth Acceleration Program (PAC) of the government
of President Lula da Silva. And this is likewise the paradigm of world economic
evolution, from China to the United States, from Angola to India.
Ecological Vision of the Economy
Ecological economics has arisen because a hundred years of specialization
of scientific research has left the world incapable of understanding or conducting
interactions between human and environmental components of the planet. While
no one questions the insights that scientific specialization has brought, many of
us recognize that it has also turned into our Achilles heel. In an interconnected
evolutionary world, reductionist science has stretched the array of knowledge in
many and distinct directions, but deprived us of ideas about how to formulate and
resolve problems that crop up in the interactions between the human species and
the natural sphere. In what manner human behavior is articulated with changes in
hydrologic, nutrient and carbon cycles? What are the feedbacks between the social
and natural systems, and how can such feedbacks influence the services that we
receive from ecosystems? Ecological economics (EE ), as a field of study, attempts
to respond to questions of such an order.
The growing perception that the life-support ecological system is
increasingly threatened constitutes the starting point for the reflection that led to
ecological economics. There has been a constant confrontation between nature
and society, the environment and the economy, with uncertainties, drawbacks,
urgencies and new frontiers. Conflicts appear that challenge the tendency to the
purely monetary valuation (such as the “market’s,” for example) of situations
essential for human life. For EE a central theme is exactly the incommensurability
of values in face of the economic (Martínez Alier, 2007, p.23) .In effect, this was
a consensus of the workshop conducted at the Aspen Institute (Wye
Island, Maryland, US ), in May 24-26 1990 – in which I took part with 37
other persons and from which a collective book resulted (Costanza, 1991). This
foundational book classifies EE as “the science and management of sustainability.”
In the context of EE , it goes on to disagree as much with conventional
estudos avançados 24 (68), 2010 59
economics as with conventional ecology in terms of the range of problems that it
should address. In the same way, it should delve into the basis of understanding
of the environment-economy interactions. There can be no doubt, therefore, that
EE sees the human economy as part – or subsystem – of the greater whole that
is nature, and that it subordinates the economy in one way or another to nature.
Such is its paradigm, which Figure 3 attempts to portray.
The issue that is brought about in Figure 3 is the conception of the
economy as an open system within the ecosystem (the ecosystem is the whole;
the economy, a part. Matter and energy enter into the economic system, go
through a process – the throughput – and turn into waste or degraded matter
and energy. The significance of the throughput is equivalent to the metabolic
flow of a living organism. The organism assimilates external resources that come
from the environment and returns the waste that results from the metabolism,
after the useful part of the resources is made the most of it. Thus there is no
wealth creation in the economic process. There is, indeed, transformation of
matter and energy from low-entropy (resources) into high-entropy (waste)
matter and energy – as established by the inescapable laws of thermodynamics.
To the thermodynamic perspective of EE might be attributed the characteristic
of an ecological vision of the economy. According to it, the economic system
has a digestive tract, besides the circulatory system imagined by conventional
economics. This is also Georgescu-Roegen’s (1971) biophysical comprehension of
the economic process.
Figure 3 –The economy as an open system inside the ecosystem (ecological vision
of the economy).
The above vision is thermodynamic because, since any activity means
a transformation of energy – it is thus that human beings survive, as biology
teaches us (converting food, i.e chemical energy, into movement, that is,
mechanical energy) –, and thermodynamics is precisely the chapter of physics
60 estudos avançados 24 (68), 2010
that studies energy transformations. Its hard and implacable laws are to be
obeyed by the economy, since there is no alternative (Branco, 1999). Viewing
the economic process through such a lens, ecological economics implies a
fundamental change in the perception of problems of resources allocation and
how they should be dealt with, in the same way as a revision of the dynamics of
economic growth.
Emphasis in the market should only be reserved for the efficient
allocation of preexisting resources (which is what static microeconomics studies).
When dealing with the situation in which new resources are being mobilized
(economists of any stripe call this expanding the dimensions of the Edgeworth
box), a theme located within the scope of economic macrodynamics, the road
opens for unification on biophysical bases of ecological and economic systems as
interdependent and co-evolving forms – to Georgescu-Roegen (1971) the chief
task and challenge of EE .
Transdisciplinarity of Ecological Economics
By proposing a paradigm shift – or a change of pre-analytic vision, as
Joseph Schumpeter (apud Daly, 1996) might put it –, one is not defending
a new dogma. What must be recognized is the unquestionable evidence that
society (or the economy) cannot exist without an ecological system, but an
environment can exist without society (and economy). Conventional economics
deals only with the human species, forgetting all others, and conventional
ecology studies all species except for the human. Both cases reveal a narrowness
of perspective that prevents an integrated vision of the ecological-economic
problematic. EE emerges without disciplinary dependence, either on economics
or on ecology, resulting, on the contrary, in an attempt to integrate both.
Its worldview then would have to be transdisciplinary, with a focus on the
relations between ecosystems and economic systems in the broadest possible
sense. As Costanza et al. say (1991, p.3), “By transdisciplinary we mean that
ecological economics goes beyond our normal conceptions of scientific disciplines
and tries to integrate and synthesize many different disciplinary perspectives.”
It is imperious to state here that no discipline has intellectual precedence
over another in the matter of realizing sustainability. This applies to physics,
biology, ecology – and to economics. Fragmentation of disciplines is an academic
convention, while the problems that interest us are not found within the scope
of discipline A or B. The University has (one-dimensional) disciplines; the real
world has concrete (multidimensional) problems (as in the case of the socioenvironmental
ones).
Disciplinary boundaries are arbitrary academic constructs. The emergence
of EE is oriented toward treatment of this convention. The conclusion can be no
different: EE does not constitute a branch of economics (nor, it is clear, a branch
of ecology). It could be called ecological economics as well as eco-economics
estudos avançados 24 (68), 2010 61
or economic ecology just as well. José Eli da Veiga (2007) has proposed that,
in place of EE , one should talk of a socio-environmental economics. The fact
of having adopted the term “ecological economics,” which can easily lead to
confusion with the notion of environmental economics, is reason to no few
mistakes. For a better clarification of the question, one can imagine a scale which
runs from the ecological to the economic, as is done in Figure 4.
The disciplines of ecology and economics can be placed on opposite points
of the scale. The first cares only for the world of nature, excluding humans, while
the second considers exclusively human reality – as is also the rule in the case
of other social sciences –, considering the ecosystem as an externality. Closer
to ecology, a little to the center of the scale, ecological economcis appears. To
its right, nearing economics, environmental economics is located. There is no
normative sense in this configuration. Environmental economics applies the tools of
neoclassical economics to ecological problems. It looks at the environment, but its
aim is simply to internalize it within the economic calculus. In other words, to value
it in money terms: to provide prices with the property of reflecting hypothetical
values for the services and functions of nature. In the meantime, the purpose of EE
is to discover to what extent the use of nature can be made sustainable.
Figure 4 – Relations between the disciplines of ecology and economics.
Implications of the Integrated Vision of Ecological Economics
As an ecological economist, questioned about the primary task of the
economic science, I feel inclined to follow the current that emphasizes its role of
explaining human behavior conditioned by scarcity. Life is a continual succession
of choices that represent the confrontation of different valuations. This happens
because, in some way, resources – including, and above all, time – are scarce.
Therefore, the fulfillment of human ends is restricted by the scarcity of means. If
one end is preferred, this involves the sacrifice of others – a reality that underlies
the economist’s crucial concept of opportunity cost.
It is for no other reason that one of the best known definitions of economics
underlines the fact that economics “is the science which studies human behaviour
as a relationship between ends and scarce means which have alternative uses”
(Robbins, 1984, p.16).
In the conception of the founder of neoclassical economics, Alfred Marshall
(1961, p.xv), in turn, economic theory refers especially to human beings who
62 estudos avançados 24 (68), 2010
are impelled toward change and progress. His definition of economics, which
he equates to political economy, consists in emphasizing that it is dedicated to
examining “that part of individual and social action which is most closely connected
with the attainment and with the use of the material requisites of wellbeing.” (ibid,
p.1). This is an interpretation of economics as a discipline dealing with choices,
as in the analysis of consumer behavior within conditions of unlimited want and
finite resources. Implied in this view is the idea that to behave economically means
to make one’s activities and one’s organization “efficient,” rather than wasteful
(Knight, 1965, p.510). In other words, it means choosing the least costly course of
action, or the one whose benefits are maximized.
From the economic-ecological perspective an obvious implication is that
the economic system’s expansion gives rise to positive environmental opportunity
costs (the environment is scarce). If these costs up to a certain moment were so low
that they could be ignored, the fact is that more economy implies less environment.
It would be good if this were not so. It is here that we arrive at the conclusion that
the prevailing worldview, which gives unusual emphasis to economic growth as the
solution for everything, as an absolute priority in relation to other objectives, ends
by allowing that this priority assume the meaning of a faith, a fetish, an obsession,
a dogma. Without question, at the same time, there is room for confusion between
growth (an increase) and development (evolution, transformation or “promotion of
the art of life”).
The economic vision of the economy establishes that there are no
environmental opportunity costs for the macroeconomic process. At the same
time, some economists have even come to say, as in the example given by J. R.
McNeill (2000), that “the world, in effect, can continue its business without
natural resources.” In microeconomics, as known, the calculus (concept) of
optimality (maximum efficiency in the allocation of scarce resources) prevails. This
is the rule for stopping the expansion of scale (of the firm). In the meantime, in
macroeconomics the quest for unlimited growth prevails. Optimal growth (or when
growth should stop) has no appeal to it.
The perspective of EE is that there exists a maximum sustainable scale of the
economic system with respect to the ecosystem That scale is to be determined by
comparison of economic benefits with marginal environmental costs – as in the case
of the equilibrium of the firm. In driving the economy, in fact, the depreciation of
natural assets (natural capital) is real and cannot be ignored. That is to say, there
are ecological opportunity costs. Increasing economic production implies sacrifice
of resources, such as forests, soil, water, air, biodiversity, climate stability, and so on.
Having an idea about this problem raises the need for an ecological vision of the
economy.
In brief, this is a question of finding the optimal scale of the economic
macrosystem, allowing separation between (i) genuinely economic growth (when
the marginal benefits of the increase of the economy surpass the marginal
environmental costs of the process) and (ii) noneconomic growth (when, in
estudos avançados 24 (68), 2010 63
contrast, the marginal benefits of the increase in the economy become inferior
to the corresponding marginal costs). One supposes, of course, that, at some
point, marginal benefits and costs are equal. The EE cosmovision internalizes the
economic system in nature. This is in line with the warning of a distinguished
exponent of conventional economics (The Economist, in the column “Face Value,”
7.4.2009): “you cannot negotiate with nature.”
The problem is that economic priorities systematically trample considerations
of an ecological character. When prices are attached to natural resources – which is
the case for those that have a market such as petroleum –, such values constitute
invariably an underestimation. In traditional national accounting, zero value is
implicitly conferred on all resources of nature, giving them the condition of “free
goods.” But what values could be used in these calculations? It is difficult to say,
especially when there are things such as life in general or as a biological species
threatened with extinction, in particular, that certainly have an infinite value.
However, reality imposes a search for some form of valuation. For it is worse to see
the economic value, for example, of the standing Amazon Rainforest reduced to
zero, although the jungle constitutes, as is known, an irreplaceable source of a cast
of ecological benefits that range from regulation of the climate and water, from the
cycle of nutrients, waste treatment, recreation, non-timber products of the forest,
biodiversity conservation, etc., to the so-called option and existence benefits.
The danger of assigning monetary value to ecological goods and services,
in turn, is as much leading to the belief that they are worth what these calculations
show as making it thought that natural assets can be added to human-made assets
(both referred to the same money basis), making them substitutable. In the essence
of the concept, however, ecological sustainability must be seen as maintenance
of the physical stocks of natural capital, not of its corresponding money values
– a question that leads to what is called “strong sustainability”. It is here that
the necessity of an ecological vision of the economy arises, one that cannot be
confused with environmental economics. The economic analysis with a basis in
ecological knowledge has as one of its missions promoting the modeling of the
ecological bonds that determine the interfaces between natural and economic (or
“productive”) systems.
Ecological and Economic-Ecological Thinking
Summarizing: conventional economics excludes nature as foreign to the
economic process; environmental economics is concerned with giving price to
nature, with the tendency of seeing it as an amenity (an idea implicit in the vulgar
notion of “green”); and ecological economics attributes to nature the condition
of irreplaceable support for everything that society can do. The traditional
economic vision includes not only the thinking of the neoclassical economics
of Hayek, Milton Friedman, Robert Solow and their followers (in Brazil, an
ilustrious name is that of Mário Henrique Simonsen), as also the Keynesians,
64 estudos avançados 24 (68), 2010
Marxists, institutionalists, structuralists, monetarists, political economists: a truly
unique thinking.
Among the non-neoclassical Brazilian economists, Celso Furtado (1974)
outstands in not being part of this pattern of unique thought. As a matter of
fact, he attempted at giving emphasis to environmental factors in economic
development The same thing does not happen in the work of Luiz Carlos Bresser
Pereira, Maria da Conceição Tavares, Edmar Bacha or Affonso Celso Pastore,
for example. Chief representatives of environmental economics in the world are
Harold Hotelling, Partha Dasgupta, Anil Markandya, Joseph Stiglitz, Nicholas
Stern, David Pearce, R. Kerry Turner. In Brazil: Ronaldo Serôa da Motta,
Maurício Tolmasquin, Carlos Eduardo (Cadu) Young, Antônio Evaldo Comune,
Francisco Ramos.
As to ecological economics, citing its practitioners requires defining the
array of tendencies that show up as to perspectives of understanding this area
of investigation. In truth, EE is not to be defined as a science. What emerged at
the June 1990 meeting at Wye Island was the suggestion of considering it as a
“new transdisciplinary field of study” (Costanza et al., 1991, p.3) with a view of
covering spaces not approached by existing scientific disciplines. It would be an
“orchestration of sciences” (Martínez Alier, 2007, p.67), involving a diversity of
thinking among even environmentalists. Martínez Alier (2007, p.21) distinguishes
three main currents of environmentalism, with various common elements that
identify them, all of them, however, disqualified, ignored or deprecated by antiecologists
(those who see the environment as a “barrier to development”). One
environmentalist current is the one of the “cult of the wilderness,” of the sacred
value of nature, of deep ecology, of the biocentric attitude.
Another current could be called the “gospel of eco-efficiency:” an
environmentalism of results that is concerned with the effects of economic
growth. Finally, the third current is that of the “environmentalism of the poor,”
characterized by material interest in the “environmental resources and services for
human subsistence provided by the natural environment” (ibid, p.335). The line of
argument of the environmentalism of the poor proposes that the struggle between
the economy and ecology cannot be resolved by internalizing the externalities,
either by advancing ecological modernization or by eco-efficiency. It raises the
discussion of the “unequal incidence of environmental damages in face of not only
other species or future generations of humans but in our own epoch” (ibid, p.89).
Central for the ecologism of the poor is the theme of incommensurability of values.
In this particular, the task of EE is to study different processes of decision-making
in a context of “week comparability of values,” besides distributive conflicts and
“uncertainties without solution” (ibid, p.55).
In money valuations, the relevance of a service of nature to the market
is the factor that counts. However, services of nature have multiple meanings.
A mangrove, for example, besides its economic role, is important from the
standpoint of the landscape, of the survival of neighboring populations, of
estudos avançados 24 (68), 2010 65
culture, of the sacred. This leads to different values that require an integrated
vision of the physical, social, cultural and spiritual dimensions of the ecosystem.
It is as Martínez Alier (2007, p.355) underlines: “When colored people were
required to travel seated in the last row in vehicles in the United States, this could
not be compensated on the scale of human dignity by a cheaper ticket.”
The most important name of EE in the world today is that of
Herman Daly, who attempts to combine elements from the three currents of
environmentalism. He was a student of Georgescu-Roegen, and has elaborated
the thermodynamic vision of the economic process in new directions. Another
name of substance is that of Martínez Alier, who was president of ISEE (in
2006-2007). He belongs to the current of the environmentalism of the poor
(he has dedicated himself to the study of popular environmental movements
such as Chipko, in India, and the extractive reserves’ of Chico Mendes). Robert
Goodland, ecologist, is close to the cult of wilderness. Ann Mari Jansson,
economist, was connected to eco-efficiency, as also, in Brazil, are Peter May
(ex-president of the Brazilian Society for Ecological Economics, Eco-Eco,
and the ISEE ), Maurício Amazonas (ex-president of Eco-Eco) and Ademar
Romeiro (also ex-president of Eco-Eco). José Eli da Veiga is in a category that
combines eco-efficiency and ecologism of the poor. Osório Viana approaches it
close to the position of Martínez Alier. Charles Mueller identifies himself with
Georgescu-Roegen and Herman Daly. Armando Mendes tends more to a vision
of ecological humanism.
Classifications are always arbitrary. In the case of ecological economists, a
division of tendencies could be among those who defend a strong sustainability
(the case of Herman Daly) – the situation in which natural and man-made capital
are not substitutable – and those inclined to weak sustainability (the two types of
capital being perfect substitutes, as postulated by conventional economics). One
name belonging to this last line is that of the Swede Karl-Göran Mahler.
In general, however, ecological economics is grounded in the thinking of
Georgescu-Roegen (1971). According to him, the economic system consumes
nature (low-entropy matter and energy, which are the fundamental means
available to the world), inexorably furnishing waste (high-entropy matter and
energy) that is returned to the natural system (Figure 3). Simultaneously, it
provides a flow of pleasure or psychic well-being to the individuals who make
up society, thus justifying its existence. The production of economic goods and
services, without question, is nothing more than the opportunity for people to
achieve the material component of happiness. It is in this that the mission of the
economy, an organized system for converting low-entropy materials and energy
into waste matter and high-entropy heat energy, consists. The duty of humans
is to define how the economy will make life easier – the function of reason,
according to Whitehead (1985).
In this understanding, order in the economic system, its capacity for
producing useful things and offering us the means for our satisfaction, can only
66 estudos avançados 24 (68), 2010
be maintained by a constant flow of low-entropy matter-energy. In other words,
our ultimate source of well-being is a natural system where order prevails. The
totality of the authors of the founding book of EE (Costanza, 1991) are inclined
to follow this way of thinking, as well as new-generation ecological economists
like Joshua Farley and Amélia Rodrigues Enríquez (current president of Eco-
Eco). In the end, a common denominator of the practitioners of EE resides
in the defense of (ecologically, but also socially and economically) sustainable
development. At bottom, this implies qualifying something that does not need
adjectives. In truth, if development is not sustainable – which means that it is
unsustainable –, it will not be development. It will constitute a process destined
to failure, a lie (generally wrapped by the force of the growth credo). In essence,
ecological economists lean toward adoption of this last stance.
Note
1 A mong them: Charles Perrings (economist), Colin Clark (mathematician), Cutler
Cleveland (geographer), Enzo Tiezzi (chemist), Garrett Hardin (1915-2003, biologist),
Herman Daly (ecological economist), Joan Martínez Alier (ecological economist),
Kenneth Boulding (1910-1993, ecological economist), Mary Clark (biologist), Richard
Norgaard (natural resources economist), Robert Costanza (oceanographer), Silvio
Funtowicz (philosopher), Talbott Page (environmental economist), Tomasz Zylicz
(environmental economist). I was one of the participants, perhaps inadvertently invited
by the organizers.
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Abstract – The paper deals with nature-society relationships with a view to enlarging
the scope of available socio-environmental theories. It makes a review and critical
evaluation of traditional economic thought in front of the environmental dimension
of the economic process. It shows the effort to incorporate the environment into the
economic model and explores the perspective of the economy under environmental
restrictions. It introduces the notion of ecological economics and a cross-disciplinary
approach, examining some implications of its integrating view. It closes with an
appreciation of tendencies in economic-ecological thinking, suggesting some names that
represent them, with an emphasis on Nicholas Georgescu-Roegen.
Keywords: Economics, Environmental economics, Ecological economics,
Thermodynamics, Sustainable development.
Clóvis Cavalcanti, M.A. (Yale, 1965), is senior researcher at the Joaquim Nabuco
Foundation, adjunct professor at the Federal University of Pernambuco, editor of the
book The environment, sustainable development and public policies: building sustainability
in Brazil (Cheltenham, UK: Edward Elgar, 2000). @ – . Received on 2.12.2010 and accepted on 2.24.2010. Translated by Cary Wasserman and Valéria Wasserman. The original in Portuguese is available at http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0103- 401420100001&lng=pt&nrm=iso.
livro em homenagem aos 80 anos de Clóvis Cavalcanti
CLÓVIS CAVALCANTI: ECONOMISTA ECOLÓGICO DO NORDESTE DO BRASIL PARA A SUSTENTABILIDADE DO PLANETA
Clóvis Cavalcanti em Audiência com o Papa Francisco
Clóvis Cavalcanti e sua conversa com o Papa Francisco sobre a Carta Encíclica do Sumo Pontífice - "Laudato Si´" (Louvado Sejas) e a Economia Ecológica. E sobre a ISEE - Sociedade Internacional de Economia Ecológica. Vaticano, 23.11.2016
Clóvis Cavalcanti é economista ecológico, escritor, professor da Universidade Federal de Pernambuco, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, presidente de honra da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (EcoEco), presidente eleito da ISEE (Sociedade Internacional de Economia Ecológica)
Clóvis Cavalcanti eleito presidente da ISEE - jan 2016
Professor Clóvis Cavalcanti, sócio do Centro Celso Furtado, foi eleito presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica (ISEE - www.isecoeco.org ). Concorreu com David Barkin, México, Que em 2012 Participou de mesa em Congresso Internacional do Centro Celso Furtado.
15th congress ISEE
15º Congresso Internacional da Sociedade de Econômica Ecológica. Puebla, 10, 11 e 12 de set 2018 - México
Clóvis Cavalcanti
Born in 1940, Clóvis Cavalcanti is a Brazilian ecological economist living in Olinda and working in the Recife area, Brazil. He is also an organic farmer since 1976, and an environmentalist. He taught ecological economics at the Federal University of Pernambuco and retired as an Emeritus Researcher from the Institute for Social Research, the Joaquim Nabuco Foundation. He was visiting professor at various universities including Vanderbilt (USA), La Trobe (Australia), Cuenca (Ecuador), Oxford (Britain), and the University of Illinois at Urbana-Champaign (USA). He has been a member of the scientific council of the Institute of Integral Medicine of Pernambuco (Recife) and of the Consultative Council of the Celso Furtado International Center for Development Policies in Rio. He is a founding member of the International Society for Ecological Economics (ISEE) and its present President for 2018-2019. He is also a founder and honorary president of ECOECO (the Brazilian Society for Ecological Economics). He has had assignments in the board of directors of ANPPAS, the Brazilian Association of Research and Graduate Studies on the Environment and Society, and in the board of CLACSO, the Latin American Social Sciences Council (Buenos Aires). He has pioneered work on patterns of sustainability in the Americas, comparing the US and Amerindian lifestyles. He has written and published regularly since the late 1960s in peer-reviewed journals. He is the author, co-author or editor of 12 books, including The Environment, Sustainable Development and Public Policies: Building Sustainability in Brazil (2000). He introduced the concept of ethnoeconomics during his visiting professorship at Oxford in 2000, publishing a paper on the subject in Current Sociology, Jan. 2002. He has done work on the role of traditional ecological knowledge in development, and on environmental governance. He collaborated in the preparation of Angola’s 2005-2025 development strategy, introducing a proposal (adopted) for a wealth fund based on oil royalties for use in perpetuity. He has written on alternative development paths and their policy requirements since the mid-1980s. In 2012-2013, he did work in Bhutan’s International Expert Working Group which contributed to a report submitted by the Bhutanese government to the UN. In December 1968 he gave a speech in Recife at a graduation ceremony under the title “Economics and human happiness: a quasi-philosophical essay”.
Foto em Thimphu (Butão) com o Rei, a Rainha e o Primeiro-Ministro do país. No grupo, de experts convocados para tentar propagar o paradigma butanês de desenvolvimento, baseado na felicidade, na simplicidade e no equilíbrio de todos os seres, há pessoas de 16 países. Suas Majestades estão na fileira de cima. Dia 1º.2.13.
Palestra blá blá blá
Meu tempo...
Homenagem dos amigos da Fundaçao Joaquim Nabuco
Meu Tempo
por Clóvis Cavalcanti
Meu tempo é feito de flamboyants floridos com suas cores vitais e seus múltiplos chamamentos. Meu tempo é feito do aroma doce que sai do amarelo cantante das acácias. Meu tempo é feito das mangueiras tropicais com seus frutos pingentes, de árvores de Natal, que não permitem que se desista da vida e da beleza completa do mundo natural. Meu tempo é feito dos sorrisos precoces, dos cumprimentos vespertinos, da brisa que sopra carinhosamente nas tardes rosadas de dezembro. Meu tempo é feito de amizades que não têm fronteiras e se expandem infinitamente em todas as direções e por todas as eras. Meu tempo é feito de expectativas reais com suas formas antevistas e suas concretizações imprevisíveis. Meu tempo é feito de uma louca busca, de uma brincadeira imensa, sem espaço para as reflexões racionalistas. Meu tempo é feito de desejo de doação sem visar lucro ou retorno – vontade visceral de ofertar um amor gratuito. Recife, dez. 1982
Poesia infantil
Renata de 9 anos é filha da aluna de Clóvis, Cibelle, que em plena aula sobre Sociedade e Meio Ambiente fez esse poema. Ufpe jul 2010
Semana Meio Ambiente e Clóvis
Homenagem a Clóvis Cavalcanti, na Semana do Meio Ambiente, em seminário promovido nos dias 4 e 5 de junho de 2009 pela Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj.
Livro: Manuel Correia de Andrade - um homem chamado Nordeste
Clóvis Cavalcanti, Lêda Rivas e Jacques Ribemboim - organizadores do Livro
Lançamento do livro na Academia Pernambucana de Letras - 19 de junho de 2008
Este livro reúne textos de amigos, ex-alunos, colaboradores, admiradores de Manuel Correia, cada um oferecendo a sua visão do mestre.
CORRER, CORRER, CORRER Clóvis Cavalcanti
Correr, correr, correr, / agarrado ao vento do verão, / sob o sol claro de dezembro, / sem medo de arrastar todas as multidões. / Correr, correr, correr / e, enquanto correr, / abrir os braços e cantar
para a platéia aturdida / dos que são apenas assistentes. / Tirar o sapato, o calção; / tirar a roupa; / tirar o pensamento pesado; / tirar o juízo, a falta de imaginação. / E espantar os astrais sombrios, / as desesperanças, / as destemperanças, / as decepções, / os dias de agosto, / os dias de desgosto. / Correr, correr, correr, / no meio das estradas sem começo e sem fim; / sem parar em porteiras / e sem dar a vez a carros e a motoristas / embrutecidos pelos motores a explosão. / Correr, correr, correr / e, enquanto correr, / olhar para as moças de todas as manhãs, para os homens das madrugadas boêmias, para os meninos do amanhecer lúdico. / Correr, correr, correr, / resistindo à fumaça venenosa / das incompreensões adultas. / Correr nos bosques de cajueiros, / de flores e borboletas / das florestas essenciais. / Correr à beira-mar. / Mas correr sobretudo à beira-amar. / Amar, amar, amar. / Correr, correr.
1956 - Colégio Nova Friburgo
Conclusão do ginasial
Antiga usina Frei Caneca
Local da infância de Clóvis - jan 2008
POEMA AUTOBIOGRÁFICO - Clóvis Cavalcanti
Sou um produto inacabado de mim mesmo, nascido no verão às 8 horas, em um dia 8 do mês 12 do ano 40 – tantos oitos e múltiplos de oito!
Nasci e cresci no mato, rodeado de canaviais – herdeiro de uma história de engenhos, de açúcar, cachaça e rapadura; herdeiro de Cavalcantis, Bandeiras de Melo, Carvalhos, Aguiares e Vasconcelos.
Nasci e cresci ouvindo histórias de família mestiça, produzida por índios, italianos e portugueses (africanos deve ter havido, menos), de avô plantador de cana arruinado pela Grande Depressão.
Sou menino de usina, da bagaceira onde brincava, embolando nos montes de cana moída fermentando, açucarada e negra, para virar adubo.
Menino do mato, vivi uma vida de brincar com barro, subir em árvores e observar os peixes do rio Fervedouro, que corria junto de minha casa (enquanto espiava meninas nuas se [banhando).
Algumas vezes, o rio enchia e eu admirava aquela água barrenta descendo, impetuosa. Na Quinta-feira Santa, secavam a Tomada e o rio Fervedouro era um formigueiro de gente com balaios, redes e manzuás pescando piaba, traíra e aruás.
Depois seguia o inverno, eram meses silenciosos, a chuva caindo em lindas poças – poças largas, que pareciam grandes demais para o menino que espiava pingos caindo, formando ondas múltiplas. Depois vinham as libélulas para mergulhar na água empoçada.
Ah! O inverno em Frei Caneca, friozinho, úmido, lamacento. Só havia luz para a vila até 22 horas, mas na nossa casa nunca apagava. Casa grande, com muitos quartos, amplos alpendres, quintal, jardim, tantas mangueiras e o rio Fervedouro, proibido de tomar banho devido ao [schistosoma.
Esses foram anos de encanto, de brincadeiras infantis, de descobertas e uma vida mansa. Meu pai, austero, sempre de gravata, trabalhava, trabalhava, trabalhava. Tinha histórias freqüentes para contar – de fornecedores, de usineiros, de operários, de camponeses, de coisas e impostos a pagar.
Ah! Meu pai, homem sério, duro e honesto. Honestíssimo. Deu a vida à usina, que tirou das dívidas, incertezas e medos pós-Grande Depressão.
Minha mãe ficava em casa e era também Agente do Correio. Fazia sempre doces, muitos – de leite, de batata-doce, goiaba, banana –, fazia bolo-de-rolo, souza-leão e pão-de-ló de que meu pai gostava. Não faltava bom licor de jenipapo e outros mais, conseguidos nessa faina doméstica com a ajuda de tantas Marias (a de Seu Zé Estribeiro era uma), Zé Bodinhos, Helenas, Leopoldinas, também por Geraldo, que trazia a água, e um homem que mexia os tachos de doce.
Infância luminosa, calma, devagar, na companhia de irmãos sempre a nascer (foram dez), na companhia da avó Iaiá, que vinha de vez em quando, e da longeva bisavó Madrinha. Só conheci um avô querido, morto cedo, aos 56 anos (o outro foi-se antes que eu nascesse).
Queria ter tido avôs, pais mais macios como são os avôs, com quem fosse passear e andar a cavalo, como fazia comigo Vovô Arquimedes no seu belo corcel negro. Mas não tive avôs.
Meu pai nos levava a passear nos dias de domingo. Andávamos na usina, subíamos nas moendas e caldeiras, íamos à Tomada, caminhávamos pela estrada de Maraial, onde colhíamos mal-me-queres e tabicas que nunca dispensávamos (o centenário velho Ricardo sempre nos trazia algumas de ótima confecção).
As lembranças são doces, Claras, cintilantes – de meu tempo de [menino. Nada se compara a uma infância que valha a pena recordar. A minha na Usina Frei Caneca!
Serra do Espelho, da Usina Frei Caneca
Clóvis na Serra do Espelho, em jan. 2008
Clóvis Cavalcanti
Nascido na Usina Frei Caneca, município de Maraial, Pernambuco, em 8.12.1940. Criou-se entre canaviais. O pai era contador da usina e a mãe, agente do Correio. Não teve curso primário regular. Aprendeu a ler em casa. Freqüentou escolas públicas e fez o último ano com padres salesianos de um internato em Frei Caneca, onde foi aluno externo. Fez o curso secundário (1952-1959) no Colégio Nova Friburgo (uma escola leiga da Fundação Getúlio Vargas, em Nova Friburgo, Estado do Rio), como interno. Estudou ciências econômicas na Universidade do Recife (1960-1963). Teve como paraninfo Manoel Correia de Andrade e como patrono da turma Caio Prado Júnior. Estagiou na Sudene convivendo com Celso Furtado, Chico de Oliveira, Luís de Vasconcelos e outros. Pós-graduação no Centro de Aperfeiçoamento de Economistas da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, janeiro-agosto de 1964. Aí estudou com Mário Simonsen e assistiu a palestras de Nicholas Georgescu-Roegen, pai da economia ecológica. Mestrado de economia na Universidade de Yale, Estados Unidos (de setembro de 1964 a junho de 1965). Conviveu aí com James Tobin, Prêmio Nobel de Economia de 1988, e Celso Furtado, que estava exilado como professor visitante em Yale. Foi levado para Yale pelo prof. Werner Baer. Contra a vontade deste, decidiu não fazer doutorado em Yale por considerar que o melhor doutorado seria o da vivência com a realidade do Brasil e por discordar do conteúdo da teoria econômica ensinada nos Estados Unidos. Trabalhou em seguida no Comitê dos Nove, na União Panamericana (Organização dos Estados Americanos – OEA), entre junho e setembro de 1965, levado pelo prof. Carlos Díaz-Alejandro. Conviveu aí com Hollis Chenery e Rômulo de Almeida.Entrou na Sudene em setembro de 1965, convidado pelo superintendente-adjunto, seu ex-professor, Fernando Mota, para integrar a equipe do Grupo do Vale do Jaguaribe, trabalhando com franceses (de set. 1965 a abril de 1967). Ingressou também na Universidade do Recife, depois Federal de Pernambuco (UFPE), e na Universidade Católica de Pernambuco em setembro de 1965. Em outubro de 1967, entrou no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (IJNPS) e na Faculdade de Ciências de Administração da Fesp (Fundação do Ensino Superior de Pernambuco, depois Universidade de Pernambuco – UPE). Em outubro de 1970, renunciou a todos os empregos para ficar em dedicação exclusiva na UFPE, onde havia participado da fundação do Pimes (mestrado de economia). Em janeiro de 1973, passou a trabalhar apenas no IJNPS, como pesquisador e diretor do Departamento de Economia, voltando a conviver com Gilberto Freyre. Deu aulas na UFPE em 1974-1975, havendo organizado na graduação de economia, no segundo semestre de 1975, o primeiro curso regular de economia do meio ambiente do Brasil. Depois disso, dedicou-se somente à pesquisa no IJNPS, que virou Fundação Joaquim Nabuco em junho de 1980. Passou a dirigir o Instituto de Pesquisas Sociais da Fundação, cargo em que ficou até fevereiro de 2003 (com breve interregno entre março e julho de 1986). Aposentou-se em dezembro de 2010, às vésperas de completar 70 anos. Mas foi eleito pelos colegas para diretor da área de estudos do meio ambiente no Instituto de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco, daí saindo em dezembro de 2013 e recebendo o título de Pesquisador Emérito. Eleito Presidente de Honra da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (EcoEco), da qual foi fundador, em 2011, tornou-se Presidente-Eleito da International Society for Ecological Economics (ISEE), de que é fundador, em 2016, assumindo a presidência efetiva da entidade para o período 2018-2019. Nessa condição, presidiu o XV Congresso da ISEE em 2018 em Puebla (México). Trabalhou na elaboração da estratégia de desenvolvimento de Angola para 2003-2025 e no estudo do governo do Reino do Butão para a ONU sobre a filosofia da Felicidade Nacional Bruta (GNH, em inglês) desse país do Himalaia, em 2012-2013. Sua participação nesses trabalhos foi sempre na ótica da Economia Ecológica, visando a promoção de um desenvolvimento que significa, na essência, prosperidade sem crescimento.
Formatura em Economia
Ufpe, 1963
Avô Arquimedes
1938, Arquimedes Vasconcelos, com os filhos Lauro e Glauro, Gisonita Nilza (Nitinha), Mirtes Dalva e Candida