segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
DP, 8.2.2009
CRESCIMENTO OU DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL?
Clóvis Cavalcanti - Economista e pesquisador social
O mundo hoje impõe que se encontre um modelo de economia que seja sustentável. Daí, o aparecimento da noção do desenvolvimento sustentável. A propósito, fui procurado recentemente por uma universitária do Rio Grande do Norte, Jessicleide Dantas, que me fez a seguinte pergunta: “Como o senhor entende o desenvolvimento sustentável?” Respondi: “Na verdade, só pode haver desenvolvimento que seja sustentável. Pois se ele é insustentável, vai acabar. Não é, portanto, desenvolvimento, mas alguma coisa como um espasmo. O desenvolvimento sustentável é aquele que dura. Quem o sustenta em primeiro lugar é a natureza, o ecossistema, do qual dependemos para tudo. Dessa forma, para que possa sustentar-se, ele tem que levar em conta as regras e os limites da natureza. Sem descuidar do bem-estar humano, dos valores da cultura, da realização plena da cidadania”. Minha aluna quis saber ainda como se entende a sustentabilidade do ponto de vista sócio-ambiental. Expliquei: “O desenvolvimento, para ser sustentável, deve usar os recursos renováveis a um ritmo inferior ao da sua reprodução; e os não-renováveis, procurando investir os rendimentos deles obtidos para o desenvolvimento científico e tecnológico no sentido de encontrar substitutos renováveis seus. No fundo, trata-se de minimizar o uso da natureza, com obtenção de máximo bem-estar social”.
Jessicleide Dantas argumentou: “Como sabemos, na eterna busca por crescimento econômico, o homem esqueceu do equilíbrio necessário à sociedade para crescer de modo sustentável. Será que um dia teremos uma sociedade com essa configuração? Quais as experiências que poderíamos apontar nesta direção?” Esclareci: “Nunca existiu uma ‘eterna busca por crescimento econômico’. De fato, a civilização tem 5.000 anos e o crescimento só começou a acontecer nos últimos 250 anos. Hoje se pensa e age como se o crescimento econômico fosse a regra para a Humanidade. Não é. Crescimento significa necessariamente esgotamento de recursos, destruição de alguma coisa do meio ambiente. Não existe nenhum exemplo de sociedade desenvolvida que seja ecologicamente sustentável, simplesmente porque as sociedades desenvolvidas (Grã-Bretanha, Estados Unidos, Alemanha, etc.) chegaram a esse nível há menos de 250 anos. Sustentáveis foram as sociedades indígenas no Brasil que tinham 12.000 anos de existência quando os portugueses chegaram aqui”. Quem garante que a sociedade americana vai ser como é daqui a mais 250 anos? Ninguém garante, nem mesmo daqui a vinte anos! E daqui a 12.000?
Caberia então a pergunta de se é possível equilibrar crescimento econômico ilimitado (“espetáculo do crescimento”) com um meio ambiente saudável. A perspectiva da ecologia é que não. Crescimento implica sempre menos meio ambiente. De fato, o planeta não cresce; se a economia cresce – e ela é parte do planeta –, obviamente menos meio ambiente restará. Quanto mais gente na Terra, quanto mais produção econômica, tanto menos natureza. Em outras palavras, como falam os economistas, existe aí um “custo de oportunidade ambiental”. O que pode, sim, acontecer é um desenvolvimento ambientalmente sustentável. A questão é que desenvolvimento (que significa mudança, evolução, progresso) não é crescimento (que se entende como aumento, expansão). Amartya Sen conceitua o desenvolvimento como “expansão das liberdades”: mais cidadania. Isso não é crescimento, embora possa incluí-lo. Sen é Prêmio Nobel de Economia de 1998; sabe do que está tratando. Daí, não fazer sentido falar-se em crescer sustentavelmente. Desenvolver-se sustentavelmente, porém, é possível. E isso é o que acontece com o ser humano (e todos os organismos vivos): crescem; param de crescer; e nunca deixam de desenvolver-se – até o fim inevitável.
Clóvis Cavalcanti - Economista e pesquisador social
O mundo hoje impõe que se encontre um modelo de economia que seja sustentável. Daí, o aparecimento da noção do desenvolvimento sustentável. A propósito, fui procurado recentemente por uma universitária do Rio Grande do Norte, Jessicleide Dantas, que me fez a seguinte pergunta: “Como o senhor entende o desenvolvimento sustentável?” Respondi: “Na verdade, só pode haver desenvolvimento que seja sustentável. Pois se ele é insustentável, vai acabar. Não é, portanto, desenvolvimento, mas alguma coisa como um espasmo. O desenvolvimento sustentável é aquele que dura. Quem o sustenta em primeiro lugar é a natureza, o ecossistema, do qual dependemos para tudo. Dessa forma, para que possa sustentar-se, ele tem que levar em conta as regras e os limites da natureza. Sem descuidar do bem-estar humano, dos valores da cultura, da realização plena da cidadania”. Minha aluna quis saber ainda como se entende a sustentabilidade do ponto de vista sócio-ambiental. Expliquei: “O desenvolvimento, para ser sustentável, deve usar os recursos renováveis a um ritmo inferior ao da sua reprodução; e os não-renováveis, procurando investir os rendimentos deles obtidos para o desenvolvimento científico e tecnológico no sentido de encontrar substitutos renováveis seus. No fundo, trata-se de minimizar o uso da natureza, com obtenção de máximo bem-estar social”.
Jessicleide Dantas argumentou: “Como sabemos, na eterna busca por crescimento econômico, o homem esqueceu do equilíbrio necessário à sociedade para crescer de modo sustentável. Será que um dia teremos uma sociedade com essa configuração? Quais as experiências que poderíamos apontar nesta direção?” Esclareci: “Nunca existiu uma ‘eterna busca por crescimento econômico’. De fato, a civilização tem 5.000 anos e o crescimento só começou a acontecer nos últimos 250 anos. Hoje se pensa e age como se o crescimento econômico fosse a regra para a Humanidade. Não é. Crescimento significa necessariamente esgotamento de recursos, destruição de alguma coisa do meio ambiente. Não existe nenhum exemplo de sociedade desenvolvida que seja ecologicamente sustentável, simplesmente porque as sociedades desenvolvidas (Grã-Bretanha, Estados Unidos, Alemanha, etc.) chegaram a esse nível há menos de 250 anos. Sustentáveis foram as sociedades indígenas no Brasil que tinham 12.000 anos de existência quando os portugueses chegaram aqui”. Quem garante que a sociedade americana vai ser como é daqui a mais 250 anos? Ninguém garante, nem mesmo daqui a vinte anos! E daqui a 12.000?
Caberia então a pergunta de se é possível equilibrar crescimento econômico ilimitado (“espetáculo do crescimento”) com um meio ambiente saudável. A perspectiva da ecologia é que não. Crescimento implica sempre menos meio ambiente. De fato, o planeta não cresce; se a economia cresce – e ela é parte do planeta –, obviamente menos meio ambiente restará. Quanto mais gente na Terra, quanto mais produção econômica, tanto menos natureza. Em outras palavras, como falam os economistas, existe aí um “custo de oportunidade ambiental”. O que pode, sim, acontecer é um desenvolvimento ambientalmente sustentável. A questão é que desenvolvimento (que significa mudança, evolução, progresso) não é crescimento (que se entende como aumento, expansão). Amartya Sen conceitua o desenvolvimento como “expansão das liberdades”: mais cidadania. Isso não é crescimento, embora possa incluí-lo. Sen é Prêmio Nobel de Economia de 1998; sabe do que está tratando. Daí, não fazer sentido falar-se em crescer sustentavelmente. Desenvolver-se sustentavelmente, porém, é possível. E isso é o que acontece com o ser humano (e todos os organismos vivos): crescem; param de crescer; e nunca deixam de desenvolver-se – até o fim inevitável.
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