Clóvis Cavalcanti
Economista ecológico e pesquisador social; clovis.cavalcanti@yahoo.com.br
Uma reação da sociedade civil contra o chamado Projeto Novo Recife transformou-se aos poucos em belíssimo movimento social: o #OcupeEstelita. Infelizmente, na sua evolução, essa iniciativa não contou com cobertura forte dos meios de comunicação recifenses, valendo-se apenas das redes sociais que, como se sabe, não alcançam certas camadas da população. Mesmo assim, o OcupeEstelita – inspirado nas sugestivas mobilizações aparecidas em 2011, em Nova York, com o Occupy Wall Street – ganhou a adesão de número expressivo de pernambucanos.
O que quer esse movimento? Discutir uma visão de cidade que signifique bem-estar genuíno para todos, que não sucumba à ganância insaciável da especulação imobiliária, que não deforme o que resta da linda herança urbana do Recife. O oposto do propósito do Projeto em questionamento, aprovado, sim, formalmente, nos níveis de decisão (fechados, opacos) do governo municipal, mas não submetidos a debates (abertos, transparentes) com todas as partes interessadas, com todos os atores sociais (stakeholders) relevantes. É só comparar as imagens disponíveis do Recife nas décadas de 1940 e 1950 – quando, como criança e adolescente, eu me familiarizei com elas – com as do Projeto Novo Recife e seus espigões descomunais. Que seguem o exemplo das lamentáveis Torres Gêmeas do Cais de Santa Rita. E do mote de devastação dado pelo esdrúxulo prefeito Augusto Lucena, imposto pelos militares em 1964. Isso não pode vingar, diz o Estelita, apoiado já agora por enormes segmentos da sociedade.
Assim, soa como ofensa gratuita, como classificação aberrante, o que escreveu jornal do Recife a propósito das pessoas idealistas que integram o movimento: “protestadores profissionais”. Todos os pernambucanos deveriam era agradecer a Deus por nos dar uma forma de protesto civilizada, educada, dentro da lei como a do #OcupeEstelita. Um exemplo de Primeiro Mundo, de como deve ser a reação da sociedade diante de coisas absurdas que incomodam. Foi o Novo Recife objeto de elucubrações técnicas perfeitas? Passou por todas as instâncias deliberativas previstas? Fez-se isso de forma nítida, criteriosa e irreprimível? Quem garante? O fato é que a sociedade despertou. Com uma vanguarda decente, digna, admirável.
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