segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Trabalhar é preciso
Caros companheiros:
No
último dia 31, encerraram-se minhas atividades como funcionário da
Fundação Joaquim Nabuco. Embora aposentado pela compulsória em dezembro
de 2010, continuei trabalhando até o fim de 2013 como coordenador-geral
da Coordenação-Geral de Estudos Ambientais e da Amazônia (CGEA), da
Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes). Para tal cargo fui generosamente
eleito pelos meus colegas da Dipes em 2009 e reeleito em 2011. Sou
grato por essa confiança. Agradeço também pela convivência amistosa de
todos. Entrei no IJNPS (Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais)
para dirigir seu Departamento de Economia em outubro de 1967. Fiquei
nele até outubro de 1970. Voltei a convite de Fernando Freyre em
dezembro de 1972. Comecei a trabalhar no dia 2.1.73, uma terça-feira. Segui nesse mister, ininterruptamente, até o dia 30.12.13. Foram, portanto, 41 anos, que, somados aos 3 anos da ligação anterior com o IJNPS, totalizam 44 anos.
Aproveitando para anexar abaixo meu artigo no Diario de Pernambuco, (5/1/2014) do qual, como o foram Mauro Mota, Gilberto Freyre, Renato Carneiro
Campos e tantos outros membros da comunidade fundajiana, tenho sido
colaborador há anos, envio um abraço de gratidão pela paciência e
amizade com que conviveram comigo.
Clóvis Cavalcanti.
DEIXANDO A FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO
Clóvis Cavalcanti
Economista ecológico e pesquisador social; clovis.cavalcanti@yahoo.com.br
Começo
o ano em situação inusitada. Sem atividade fixa. No dia 31 de dezembro
último, terminou meu mandato de chefe da Coordenação-Geral de Estudos
Ambientais e da Amazônia (CGEA), parte integrante da Diretoria de
Pesquisas Sociais (Dipes) da Fundação Joaquim Nabuco (FJN). É bem
verdade que continuo dando aula (de Meio Ambiente e Sociedade) no Centro
de Ciências Biológicas da UFPE. Porém, como professor voluntário,
aposentado pela compulsória em 2010. Assim, vejo-me excluído do rol de
quem labuta diariamente como membro da força de trabalho. Ainda que
possa exercer diversas atividades por conta própria, o fato é que não
tenho mais compromisso profissional com uma instituição. E isso é novo
para mim, desde que, depois da pós-graduação, comecei a trabalhar em
1965.
Minha
ligação com a FJN começou em 1966. Fui levado a seu predecessor, o
Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (IJNPS), por Mauro Mota
que, por indicação de Roberto Cavalcanti de Albuquerque, grande
economista pernambucano, me procurou para elaborar relatório de pesquisa
para a Sudene (sobre o mercado de pescado do Grande Recife). Produzi
esse trabalho. Logo em seguida, Mauro, por quem passei a ter
grande admiração, convidou-me para escrever novo relatório de pesquisa.
Era, para o DNOCS, um diagnóstico socioeconômico do Vale do Moxotó,
trabalho que chamei outro grande economista pernambucano, Dirceu Pessoa
(1937-1987), para dividir comigo. Tanto este quanto o relatório anterior
transformaram-se em livros. Ao longo de quase 47 anos – com intervalo
de 2 (1970-1972),
quando fiquei em dedicação exclusiva na UFPE –, pude acompanhar a
evolução e consolidação do IJNPS-FJN (não gosto da sigla Fundaj, imposta
pelo governo militar em 1980 contra a que nós propúnhamos). Foi um
progresso firme que se deve tanto a Mauro Mota – poeta grande e
pesquisador consistente – quanto a Fernando Freyre, que conheci em 1959
no Rio, um gestor de enormes qualidades.
Fernando,
ademais, sendo filho de Gilberto Freyre, criador da FJN, sabia em que
terreno deveria pisar. Ele levou adiante a visão paterna, a mesma que
assimilei em conversas e na convivência quase diária de duas décadas com
o genial sociólogo pernambucano. Gilberto Freyre sublinhava a
necessidade de se ter
no Nordeste uma instituição dedicada à pesquisa social. Expôs isso
inumeráveis vezes. Justificou seu projeto de lei de criação do IJNPS em
1949 à base de tal exigência. E os argumentos que usava continuam
completamente válidos hoje – talvez até com mais vigor. Por isso, ao
deixar a instituição com que tanto me envolvi, preocupa-me que não
corresponda mais ao que imaginava seu criador. Eu próprio, tendo
dirigido de 1980 a 2003 o Instituto de Pesquisas Sociais (Inpso) da FJN,
como seu primeiro superintendente, fui levado a mergulhar nas idéias
freyrianas e a procurar ser fiel a elas. Fernando incumbiu-me de, dentro
da nova estrutura da Fundação, que sucedia a de repartição tradicional
do IJNPS, não perder de vista a razão de ser do projeto de 1949. Nunca
discordei dele. Pelo contrário. Como pesquisador social, hostil que era a
Gilberto Freyre em 1966, pude entender o caráter
visionário de sua proposta. Ele sempre me ouviu (chamava-me para
conversarmos) e me fez seu aliado pelo argumento inteligente. Essa é a
força histórica da FJN. Não pode ser ignorada.
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