quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O TODO

Sofia Gasparotto
(aluna de Clóvis em aula prática)


Orgânico: alimentos, relações, ações e pensamentos.

O que mais poderia ter chamado a atenção na fazenda do Tao: a floresta de jaqueiras que nos acompanham até a casa? A fidelidade de lindos cachorros com estranhos? A receptividade das pessoas que moram no local? O clima harmonioso entre a casa e a floresta ao redor? A linda e calmante visão que se pode ter da pedra do Tao? A revigorante cachoeira entre musgos e bromélias? A compreensão e a generosidade dos contempladores deste santuário? Os momentos em que nos reunimos ao redor da mesa para, mesmo com poucas palavras, alimentarmos nosso corpo e também o nosso espírito? Poderia ficar comentando cada aspecto, cada sutileza do encontro que tivemos no fim de semana em que visitamos a fazenda do Tao, mas dentre esses momentos, um em especial me fez refletir mais sobre a sua importância, mas que, no entanto não percebemos no cotidiano o quanto ele é importante. Refiro-me, neste caso, aos momentos em que sentávamos à mesa para compartilhar as refeições e silenciosamente ou dividindo idéias e conhecimentos, alimentávamos a matéria e a essência. Não especificamente ao momento em si, mas a todo um processo que antecedeu estes encontros, o qual pode ser traduzido em uma maneira cuidadosa e natural com que os alimentos foram cultivados e preparados. Pudemos observar a diversidade da horta, cultivada sem a adição de substâncias externas e de uma forma com que aquele espaço fosse regulado a partir da cooperação entre os vegetais devido a sua diversificação. Interessante também pensarmos na auto-suficiência não só biológica daquele ecossistema que se regula a partir de uma teia de relações muito próxima, mas também no potencial de autonomia da fazenda como um todo em relação à alimentação das pessoas. E toda essa abundância só é possível porque há ali fatores essenciais para que a germinação das sementes proporcione “frutos” tão saborosos: um solo rico e fértil, um ar puro e água limpa e em abundância. Adiciona-se também o cuidado com que as pessoas depositam ao cuidar dos cultivos, seja aguando ou impedindo da forma mais orgânica possível que plantas daninhas e patógenos invadam aquele espaço.

Com relação à horta também gostei muito de saber, e ao acaso conhecer, uma senhora que estava trabalhando em outra horta na fazenda Tao, de forma totalmente orgânica também. A relação desta senhora com a horta também era muito especial, já que os alimentos que ela produzia eram utilizados para o seu consumo e para o comércio local, como forma de sua subsistência. Este estímulo e incentivo ao produtor local são de extrema importância, pois garante a subsistência dos moradores associando o conhecimento que é passado entre as gerações, impedindo que estes por falta de oportunidade migrem para as cidades, deixando-as super populosas e com condições precárias de vida; e impede que sejam consumidos e mobilizados recursos energéticos e transportes para que alimentos produzidos em outras localidades supram a demanda do município; e acima de tudo cria-se um vínculo de cordialidade e cooperação entre as pessoas que habitam áreas tão próximas e dependem de uma conservação conjunta para assegurar a manutenção deste local sagrado, provedor de alimentos, água, riqueza de espécies e harmonia.

Voltando a confraternização na mesa, vemos que esta é o resultado de um processo que envolve a natureza e os seres humanos numa relação que neste caso é eficiente sem deixar em nenhum momento de ser respeitosa. Este conceito também deve ser considerado no momento das refeições, levando em consideração a procedência dos alimentos e a maneira como interagiram com o ambiente. De igual importância, o consumo destes deveria conter estes mesmos princípios básicos: a diversidade, eficiência e proporções adequadas. A fazenda Tao agrega todos estes valores em suas etapas da manutenção da vida, seja para produzi-la ou sustentá-la. Vemos que não só os alimentos são orgânicos, mas as idéias, as ações, os pensamentos...

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