Clóvis Cavalcanti
Economista e pesquisador social
Não se podia esperar muita coisa da conferência do clima de Copenhague (a COP-15 da ONU), encerrada dia 18 deste mês. Um encontro de tal magnitude não permite desfechos milagrosos. Discutir questões técnicas e suas implicações políticas envolve toda uma diplomacia. Chegar a acordos depois disso é trabalho árduo, ainda mais quando se tem que exprimir cada item numa multidão de idiomas. Uma palavra mal interpretada exige tempo enorme de negociações e explicações. Já participei de eventos da ONU, inclusive da parte científica da Rio-92 (a convite do CNPq). Não é fácil dialogar em ocasiões assim, apesar do interesse das pessoas e da importância dos assuntos em debate. No caso das grandes conferências internacionais, há participação significativa de burocratas e pessoas que vão ali apenas passear. Como, de fato, explicar que o Brasil tenha tido em Copenhague uma delegação de 700 membros? Não é sem razão que se passou a denominar a capital dinamarquesa de Shoppenhague. Por outro lado, quem pagou a despesa de tanta gente inútil para as discussões sobre o que interessava no caso, um acordo para conter a ameaçadora progressão da mudança climática do planeta? Admitindo a modesta quantia de 15 mil reais para a viagem de cada um desses nossos “representantes”, chega-se ao total de 10,5 milhões de reais de custo para a revoada (o dinheiro foi público). Sobre isso, deve-se adicionar a chamada pegada ecológica (custo ambiental) correspondente, esta última uma das causadoras do efeito estufa que a COP-15 visava conter.
Deve-se registrar que o Brasil foi um protagonista destacado no evento. O presidente Lula da Silva resolveu arregaçar as mangas e mostrar que o país estava disposto a enfrentar a questão do temível aquecimento global. Demorou, porém, a perceber isso. E colocou à frente da delegação brasileira uma inimiga nada sutil do meio ambiente, a ministra Dilma Rousseff, “recém-chegada à questão climática”, com o disse Miriam Leitão aqui no Diario. Segundo Miriam, que assistiu à COP-15, a ministra Dilma “imprimiu à atuação brasileira um amadorismo insensato. Além disso, neutralizou alguns dos nossos mais bem treinados negociadores”. E ainda cometeu ato falho, registrado no noticiário da Rede Globo, afirmando: “O meio ambiente é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Inacreditável? Não. Essa foi sempre sua postura – inclusive tendo levado adiante iniciativas que a então ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, não aprovava. O presidente Lula sempre comungou da mesma perspectiva, haja vista sua declaração em Mato Grosso, dia 21.11.07, na inauguração de uma usina de biodiesel, quando afirmou de cátedra que o meio ambiente é um “entrave” ao desenvolvimento. Será que ele adota agora uma visão radicalmente distinta, como a do sócio-ambientalismo?
A ida de uma multidão de gente absolutamente supérflua na comitiva brasileira para a COP-15 mostra como estamos distantes de um compromisso sério com o uso prudente, moderado, parcimonioso dos recursos da natureza (e das verbas do Tesouro). Se, pelo menos, esses contemplados com o passeio à Dinamarca se inspirassem nas soluções inteligentes e sustentáveis do modelo dinamarquês de vida, seria pelo menos alguma coisa. Mas não ouvi de ninguém que esteve lá sob as bênçãos do Erário comentários sobre a vida frugal, o transporte público de qualidade, as ciclovias de Copenhague. Ouvi, sim, do presidente do Partido Verde em Pernambuco, Sérgio Xavier (que foi à COP-15). Ele, no Blog de Jamildo de 19 do corrente tratou exatamente disso, sugerindo a implantação de uma grande malha de ciclovias no Recife (integrada com o transporte público). “Copenhague é do tamanho do Recife e é exemplar nisso”. Afinal, palavras sensatas de alguém que tem compromissos ecológicos genuínos.